Tantos lares sobrelotados! Tantos hotéis vazios!
Os idosos que estão em lares sem condições sanitárias, sem garantia de distanciamento social que evite a propagação do coronavírus, devem ser transferidos para os muitos hotéis que estão sem clientes, ao longo de todo o País. Depressa e em força!
Os idosos internados em lares, à luz do que se sabe já hoje, constituem o grupo de maior risco na expansão da pandemia coronavírus. Têm, pois, de ser os mais protegidos de todos. Se conseguirmos proteger os mais frágeis em tempo de pandemia, poderemos orgulhar-nos de nós próprios enquanto colectividade. Lembremo-nos que a força de uma sociedade mede-se pela capacidade de resistência dos seus mais fracos.
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Os idosos internados em lares, à luz do que se sabe já hoje, constituem o grupo de maior risco na expansão da pandemia coronavírus. Têm, pois, de ser os mais protegidos de todos. Se conseguirmos proteger os mais frágeis em tempo de pandemia, poderemos orgulhar-nos de nós próprios enquanto colectividade. Lembremo-nos que a força de uma sociedade mede-se pela capacidade de resistência dos seus mais fracos.
Assim, todos os recursos disponíveis têm de ser canalizados para a protecção dos mais idosos, em particular daqueles que correm mais perigo de contaminação, os que estão institucionalizados em lares.
Em muitos casos, em particular no interior, alguns lares, especialmente os destinados aos mais desfavorecidos, estão sobrelotados e a contaminação pelo pessoal de serviço é uma ameaça permanente. E, a haver contaminação, podem todos os idosos de uma mesma instituição ser afectados, como já aconteceu em Famalicão e Vila Real. Estes são apenas os primeiros exemplos de um pesadelo que se anuncia, a contaminação sistemática de populações inteiras em cada lar de idosos.
A sobrelotação é a principal vulnerabilidade, que potencia o contágio exponencial. Mas há ainda a escassez de pessoal, agora agravada com a pandemia, assim como em muitos casos, a falha de formação nas normas de higiene e até no modelo de organização de muitas instituições de solidariedade.
É pois urgente que todos os idosos que se encontrem internados em condição de sobrelotação sejam transferidos para alojamentos que permitam a sua instalação em condições de maior conforto, garantindo espaçamento mínimo entre os utentes e ainda melhores condições de apoio e tratamento médico.
Os idosos internados em lares que garantam condições de segurança sanitária devem manter o seu quotidiano com cuidados redobrados. Mas todos os que se encontram em regime de sobrelotação têm de ser transferidos, com urgência, antes que o vírus se propague de forma fatal. E a solução para estas transferências neste momento é óbvia: os idosos que estão em lares sem condições sanitárias, sem garantia de distanciamento social que evite a propagação do coronavírus, devem ser transferidos para os muitos hotéis que estão sem clientes, ao longo de todo o País. Depressa e em força!
Os hotéis vazios podem, em cada localidade, receber os idosos e o pessoal que os acompanha. E a transferência deve ser imediata e global, por acordo entre as instituições que acolhem os idosos e os hotéis, em cada aldeia, vila ou cidade de Portugal. Instalados em melhores condições, certamente os nossos idosos terão melhores condições de conforto e de resistência à doença, estarão mais defendidos da propagação do vírus. Terão, além do mais, um tratamento mais cuidado, na medida em que o pessoal dos lares pode ser reforçado com o pessoal dos hotéis, ficando a cada corpo de funcionários destinado a responsabilidade das tarefas que melhor executam. Os funcionários dos lares tratariam da higiene e apoio médico aos utentes – ficando aos hoteleiros a incumbência da alimentação, lavandaria, etc.
Esta ocupação dos hotéis com idosos provenientes de lares sobrelotados teria uma dupla vantagem, em termos operacionais. Esta operação manteria estes hotéis em laboração, permitindo que os seus funcionários continuassem activos (ou pelo menos uma parte significativa) e aliviaria o enorme stress e a exaustão que impendem agora sobre o pessoal dos lares. A solução preconizada teria ainda vantagens no plano económico, pois permitiria aos hotéis, com esta actividade, a recuperação de alguma da sua receita. Esta operação deveria ser financiada pelas mensalidades que os utentes pagam actualmente nos lares, bem como pelas comparticipações que a Segurança Social mensalmente garante pela institucionalização destes utentes. Supletivamente, o estado poderia consignar a estes hotéis as verbas que teria de pagar por conta do lay-off de cada uma destas empresas, que assim já não teria de ter lugar. Mas, obviamente, as maiores vantagens são intangíveis e são as que devem motivar esta acção imediata: evitar a sobrecarga dos hospitais e do serviços de saúde, garantir mais conforto aos idosos e – sobretudo – salvar vidas.
Este tipo de medidas seriam obviamente temporárias, por dois ou três meses. Findo este período, os idosos voltariam aos lares (que, entretanto, poderiam aproveitar este tempo para operação de limpeza e beneficiação), os hotéis voltariam a receber turistas e, em cada localidade, a sociedade estaria muito mais coesa e fraterna, por força de uma operação de solidariedade entre empresários e carenciados, sem precedentes em Portugal.
Não podemos pois perder tempo. Em cada localidade, não permitam que os lares continuem sobrelotados, enquanto os hotéis estão vazios.