Hospital de campanha em Lisboa tem 500 camas e “ainda pode crescer”
Pavilhões do Estádio Universitário converteram-se durante a última semana num hospital, que ainda aguarda os primeiros pacientes. Serão pessoas com covid-19 que não precisem de cuidados intensivos.
No placard do pavilhão o contador ainda não começou a rodar. Com os cestos de básquete recolhidos, as bancadas afastadas e o chão tapado, a disputa entre as equipas “Local” e “Visitante” será entre os homens e o vírus.
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No placard do pavilhão o contador ainda não começou a rodar. Com os cestos de básquete recolhidos, as bancadas afastadas e o chão tapado, a disputa entre as equipas “Local” e “Visitante” será entre os homens e o vírus.
Pelo recinto estão espalhadas dezenas de esteiras de ar pouco apetecível, ladeadas por mesinhas de cabeceira bastante altas. É um dos três pavilhões em que vai funcionar o hospital de campanha de Lisboa para o combate à covid-19 e que, diz quem o montou, estará operacional no sábado.
A dois passos do Hospital de Santa Maria, a estrutura foi montada durante a última semana no Estádio Universitário graças ao “trabalho ímpar de colaboração” da Universidade de Lisboa, da câmara municipal, do Exército, da Cruz Vermelha e dos três centros hospitalares da cidade, disse Fernando Medina numa visita ao espaço.
Com capacidade para 500 camas, o hospital “pode eventualmente crescer, se for caso disso”, afiança o autarca, manifestando contudo a expectativa de que nem a capacidade já prevista venha a ser necessária. “Optámos por esta dimensão de forma preventiva. Hoje conseguimos construir assim, daqui a umas semanas seria certamente muito mais difícil”, afirmou.
“Esta infra-estrutura está pronta antes de ser necessária”, sublinhou António Cruz Serra, reitor da Universidade, de quem partiu a iniciativa de transformar o estádio num hospital provisório. “Não imagino melhor local. Basta atravessar a estrada e estamos no Hospital de Santa Maria. Era imprescindível pô-lo à disposição do país.”
Ao contrário do que uma fonte da Câmara de Lisboa transmitiu ao PÚBLICO na terça-feira, esta estrutura servirá para acolher os pacientes com covid-19 que precisem de estar internados mas que não requeiram cuidados intensivos. Esses, os mais graves, ficarão nos hospitais propriamente ditos dos três centros hospitalares da cidade (com sede em Santa Maria, São José e São Francisco Xavier).
Forças Armadas têm 2000 camas no país
“Esta estrutura vem deixar-nos a todos mais tranquilos. Vai quase duplicar a capacidade instalada nos três centros hospitalares”, disse Daniel Ferro, presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (Santa Maria). De acordo com Luís Pisco, presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, que também acompanhou a visita, está neste momento a ser escolhida uma direcção clínica para o hospital de campanha e só depois se definirá com certeza quantos profissionais vão ali ser colocados.
Aos três pavilhões desportivos – apenas um ainda vazio de camas – soma-se uma grande tenda sobre um relvado sintético, que esta quinta estava na fase inicial de montagem. Durante a visita ao espaço, em que a grande comitiva pouco respeitou as recomendações sobre distanciamento, foram mostradas também as várias tendas que servirão de refeitório ao pessoal que vier ali a trabalhar.
O chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, almirante Silva Ribeiro, garantiu que, além das 300 camas fornecidas pelo Exército para aquele espaço (as restantes são da Cruz Vermelha), os militares vão ainda contribuir com material hospitalar e duas carrinhas para transporte de refeições, que serão confeccionadas na cantina universitária ali perto.
“As Forças Armadas têm neste momento cerca de 2000 camas por todo o país”, afirmou Silva Ribeiro, acrescentando que 500 delas estão na região de Lisboa – com destaque para a Base Naval do Alfeite, em Almada. Segundo o almirante, os militares estão disponíveis para assumir mais responsabilidades nos próximos tempos. “As Forças Armadas têm os seus militares em prontidão para acorrer a todas as dificuldades”, disse.