CovidApp usa inteligência artificial para monitorizar evolução dos sintomas em Portugal
Já há 19 mil pessoas a utilizar a CovidApp, uma aplicação desenvolvida pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e pela startup Mosano.
A CovidApp é uma plataforma online onde qualquer pessoa pode partilhar os seus sintomas ao longo do tempo para perceber quando deve procurar ajuda médica, e desta forma contribuir para o conhecimento que se tem da doença. O acesso é feito através de um código que se recebe por SMS após o registo com o número de telemóvel.
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A CovidApp é uma plataforma online onde qualquer pessoa pode partilhar os seus sintomas ao longo do tempo para perceber quando deve procurar ajuda médica, e desta forma contribuir para o conhecimento que se tem da doença. O acesso é feito através de um código que se recebe por SMS após o registo com o número de telemóvel.
Esta é uma das várias estratégias que têm sido desenvolvidas em Portugal nas últimas semanas para aliviar a sobrecarga na linha SNS24 através da Internet. Foi desenvolvido por uma equipa de médicos da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em parceria com a Mosano, uma startup do Porto que cria aplicações informáticas para telemóveis e para a web. Actualmente já há 19 mil utilizadores registados.
“A plataforma tem três grandes objectivos: evitar que as pessoas corram para o hospital, ajudar as pessoas que precisem a contactar profissionais de saúde, e ajudar a perceber a doença em Portugal”, diz ao PÚBLICO Nélson Novais, fundador da Mosano, e um dos engenheiros a trabalhar na CovidApp.
O projecto foi desenvolvido ao longo do fim-de-semana de 14 de Março, depois de uma conversa sobre estratégias para acompanhar a transmissão da doença entre Novais e o amigo médico, João Coimbra, do Centro Hospitalar Universitário do Porto. A plataforma usa inteligência artificial para perceber melhor a doença ao analisar, diariamente, os dados partilhados por cada utilizador (como por exemplo a idade, género, localização e sintomas).
“Isto é útil para fazer-se um estudo epidémico da doença e perceber padrões na sua evolução”, partilha Novais. A triagem dos sintomas considera informação sobre a temperatura corporal do utilizador, a medicação que está a ser feita, a dificuldade que se tem em respirar, a frequência cardíaca e a frequência respiratória, e quem não utilizar aparelhos capazes de medir os últimos dois parâmetros, tem acesso a vídeos no YouTube, criados pela equipa, que explicam como chegar aos valores pedidos ao fazer a contagem do número de pulsações e do número de ciclos respiratórios por minuto.
No final, a plataforma apresenta uma análise do estado de saúde. Quando a situação não sugere a existência de covid-19, lê-se: “a sua situação não aparenta ser um caso de risco, no entanto pedimos que continue a monitorizar a sua situação activamente, duas vezes por dia”. A aplicação reforça, no entanto, que o feedback disponibilizado no final do questionário “não substitui a informação que pode ser prestada por um profissional de saúde ou pela linha SNS 24” e que resulta de um algoritmo que verifica se os sintomas do indivíduo são compatíveis com as respostas pré-definidas no sistema.
Com a CovidApp, o utilizador é dono dos seus dados e pode pedir que sejam apagados a qualquer altura. “Não há qualquer automatismo de envio de informação aos médicos”, frisa Novais. “Como se trata de informação sensível, estamos a aguardar aprovação governamental para desenvolver formas de autentificar os médicos para que possam aceder à plataforma”, diz o engenheiro.
Inicialmente, várias pessoas estavam receosas de se inscreverem na aplicação porque são pedidos vários dados pessoais — morada, o nome e o número de cartão de cidadão. “Os dados que recolhemos podem ser apagados a qualquer altura e não serão nunca utilizados para finalidades de marketing ou publicidade”, explica Novais. “Ainda assim, a minha recomendação para quem está receoso, é esperarem até termos completado parcerias com instituições públicas.”
Alguns dos receios estão relacionados com a CovidLock (que surgiu na mesma altura que a CovidApp), uma aplicação pirata que se disfarçava de um mapa com actualizações de casos covid-19 em todo o mundo para realizar ataques de ransomware a telemóveis. Neste tipo de ataques, é exigido um resgate resgate (ransom, em inglês) para repor o acesso à informação ou sistemas. Recentemente, o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) também tem estado a alertar para a existência de vários ciberataques associados ao novo coronavírus.
A utilização de aplicações para acompanhar a evolução do novo coronavírus não é exclusiva a Portugal. Nos últimos meses têm surgido várias aplicações para monitorizar os sintomas dos utilizadores. Na China, onde o Governo já utiliza os dados que os utilizadores partilham com aplicações móveis para um sistema de hierarquização social, uma aplicação de rastreio de sintomas é utilizada como uma espécie de “passaporte” de entrada para determinados locais públicos. Só se o utilizador for considerado “verde” (sem sintomas de doença ou contacto com utilizadores infectados) é que pode aceder a determinados espaços.
Não é o caso em Portugal. Na política de privacidade da CovidApp, a equipa explica que a informação partilhada pelos utilizadores “será guardada por entidades públicas, e somente profissionais de saúde creditados para o efeito terão acesso aos mesmos.” “O nosso objectivo é ajudar, sendo sempre o menos invasivos possível”, destaca Novais.
A plataforma está acessível online, mas o objectivo é tê-la, brevemente, nas lojas de aplicações do Google (GooglePlay) e da Apple (AppStore).