Os ginásios reinventam-se perante o coronavírus, mas antecipam falências
Aulas virtuais, vídeos para todos os sócios e planos de treino disponibilizados online: os ginásios estão fechados, mas tentam reinventar-se e fidelizar o público.
O estado de emergência decretado pelo Governo obrigou os ginásios a fechar portas, mas a maioria mantém-se activa online, onde se disponibilizam vídeos, aulas virtuais, planos de treino e se procuram fidelizar os sócios retidos em casa.
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O estado de emergência decretado pelo Governo obrigou os ginásios a fechar portas, mas a maioria mantém-se activa online, onde se disponibilizam vídeos, aulas virtuais, planos de treino e se procuram fidelizar os sócios retidos em casa.
Nádia Antunes, directora do Fitness Hut de Oeiras, diz em entrevista à agência Lusa que, apesar de as instalações da cadeia estarem fechadas, o trabalho tem sido muito. “Para já, o nosso objectivo é manter os sócios activos. Essa é a nossa missão, através de vídeos online, aulas em directo, planos de treino, tudo o que podem fazer em casa”, resume Nádia Antunes, que explica que todos os 44 clubes da empresa em Portugal dispõem de um plano de treino no Facebook e vários instrutores fazem “lives” das aulas. “Além disso, os sócios conseguem também aceder às aulas tal e qual como faziam quando estavam no ginásio”, acrescenta.
Apesar da distância, a responsável afirma estar surpreendida com o feedback dos clientes, que tem sido “muito positivo”. As pessoas estão até “mais próximas”. “Os sócios têm participado muito e é curioso que, no meio desta calamidade, sentimos que estamos mais próximos dos sócios e eles mais próximos de nós, pois vamos ter com eles a casa. É um contacto à distância, mas ainda assim muito mais humano.”
Com uma grande quota de mercado em Portugal e mais de 100 mil sócios activos de Norte a Sul, o Fitness Hut decidiu suspender as mensalidades mal encerrou os seus clubes. A crise económica que se pode seguir à crise sanitária preocupa, mas Juan Del Río, presidente executivo do Grupo VivaGym, que detém a cadeia Fitness Hut, promete “não deixar os sócios para trás”.
Já Nádia Antunes, que espera em breve poder voltar a trabalhar nas instalações de um ginásio, acredita que este cenário imprevisto “pode abrir uma janela de oportunidade”, lembrando que se estão a encontrar novas formas de trabalhar ao usar a tecnologia para chegar às pessoas.
A mesma estratégia teve Tiago Lousa, proprietário de uma das maiores boxes de crossfit em Portugal, a Alphaden, em Sintra. Mal percebeu que o encerramento era inevitável, meteu mãos à obra para encontrar soluções para “manter o espírito de comunidade” que se vive no estabelecimento.
“Temos muita gente que, além do treino físico, tem necessidade de integração e partilhar este sentimento de comunidade. Costumo dizer, por brincadeira, que vir aqui treinar é a melhor hora do dia para muita gente, não só pelo lado físico, mas pela saúde emocional e psicológica. Por isso, percebemos que era importante lançar os treinos online”, explica.
A Alphaden tem cerca de 300 sócios e Tiago Lousa revela, que todos os dias, cerca de metade dos clientes segue e faz os treinos propostos pelos treinadores em aulas virtuais e treinos em vídeo disponibilizados no Facebook e Instagram, onde também há directos.
“É sensivelmente o mesmo número de pessoas que tínhamos diariamente na box, sendo que aqui não estou a contabilizar aqueles que podem estar a fazer mas não nos deixam feedback, nem os familiares e amigos dos nossos sócios que também estão a fazer os treinos”, explica Tiago Lousa.
“Temos os treinos normais, mas lançámos há poucos dias treinos para pais e filhos, três vezes por semana, porque reparámos que muitos pais estavam a fazer treinos com os filhos e quisemos fazer algo mais apropriado. Além disso, há treinadores exclusivamente em teletrabalho a dar feedback e explicações aos nossos atletas, a fazer avaliação dos vídeos, sempre procurando manter a interacção”, afirma o dono da Alphaden.
Apesar do sucesso deste conceito, Tiago Lousa não esconde a preocupação com o que a paragem poderá significar para o mercado do fitness em Portugal. As falências das boxes de crossfit são, crê, “inevitáveis”. “Em Portugal, a maioria das boxes são microempresas, muitas delas familiares, mal estruturadas e que, quanto muito, garantem a subsistência do dono e pouco lucro têm. Perante isto, é muito difícil sobreviver ao segundo mês sem mensalidades”, lamentou.
O mesmo há-de acontecer nos ginásios, acrescentou. “Perante isto, teremos falências, sem dúvida, não há volta a dar. Ou as pessoas têm uma capacidade forte de se reinventar e têm uma comunidade forte que possibilita manter o projecto vivo, ou muitas vão desaparecer.”
“A crise gera oportunidade de sobrevivência dos mais fortes. Quem for mais forte vai manter-se. Muitos sítios vão fechar e os melhores vão ter um boom no Verão. No entanto, por agora o foco é sobreviver e arranjar novas maneiras de subsistir”, resume Tiago Lousa, revelando ainda que, para minimizar as perdas, outra oportunidade que está a lançar aos sócios da Alphaden é a de alugarem o material da box para terem em suas casas e poderem continuar a treinar.