Há 13 mil caravanistas desalojados com o encerramento dos parques de campismo
O presidente da Região de Turismo do Algarve garante que as autoridades não vão barrar a fronteira no regresso aos países de origem. Quem optar pelo avião não ainda destinado lugar para deixar o veículo.
A ordem de mandar encerrar parques de campismo e estações de serviço para autocaravanas deixou desorientados cerca de 13 mil turistas, no Algarve. O litoral alentejano é outra das zonas onde se está a gerar “pânico” entre os turistas que não desejam abandonar o país. O despacho da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, “está a ser visto com alguma preocupação”, diz o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve - Amal, António Pina, receando uma fuga desordenada. “Alguns autarcas manifestaram o receio de que haja deslocação do litoral para o interior”, disse.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A ordem de mandar encerrar parques de campismo e estações de serviço para autocaravanas deixou desorientados cerca de 13 mil turistas, no Algarve. O litoral alentejano é outra das zonas onde se está a gerar “pânico” entre os turistas que não desejam abandonar o país. O despacho da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, “está a ser visto com alguma preocupação”, diz o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve - Amal, António Pina, receando uma fuga desordenada. “Alguns autarcas manifestaram o receio de que haja deslocação do litoral para o interior”, disse.
O proprietário do parque de campismo da Zambujeira do Mar, António Sousa, em declarações ao PÚBLICO, afirmou: “Os turistas estão em pânico, não sabem por onde ir. Hoje [segunda-feira] recebi pessoas a chorar”. De acordo com o diploma, os utentes dos parques de campismo, caravanismo e das áreas de serviço de autocaravanas têm até sexta-feira para organizarem “uma saída ordeira e tranquila destes estabelecimentos, locais e instalações”. Porém, os turistas permanentes gozam de uma excepção: são considerados residentes, “podem neles permanecer para assegurar a resposta à necessidade habitacional”. Às autarquias, entidades de quem depende o licenciamento dos equipamentos, caberá encontrar a solução. António Pina diz que o problema está a ser equacionado “numa acção conjunta com o comando regional da Protecção Civil”.
Por seu lado, o presidente da Administração Regional de Saúde do Algarve, Paulo Morgado, afirmou que as autoridades policiais tinham recebido indicações para “sensibilizar os turistas a regressarem aos seus países” de avião. Quanto à questão sobre onde deixar os veículos, diz que “a Amal vai encontrar um local”. A câmara de Olhão, entretanto, disponibilizou as instalações da antiga fábrica conserveira Bela Olhão, com dois hectares cobertos, para parqueamento.
A directora de Serviços de Desenvolvimento Regional da (CCDR/Algarve), Lurdes de Carvalho, estima que poderão existir cerca de 13 mil autocaravanas na região, parqueadas e em circulação. Os cálculos são feitos com base nos dados estatísticos. No mês de Março de 2019, referiu, encontravam-se 4461 autocaravanas nas 20 áreas de serviço da região. Ora, acontece que este número representa cerca de um terço do total dos veículos uma vez que não estão incluídos nos registos da CCCDR os utentes dos parques de campismo, nem o crescente número dos parques clandestinos que proliferam um pouco por todo o lado, disse. Nos primeiros dois meses do ano, adiantou, “estávamos a ter um crescimento entre 7 a 8% [neste segmento do turismo] em relação ao período homólogo do ano anterior”.
Por sua vez, o coordenador da Rede de Acolhimento ao Autocaravanismo do Algarve - RAARA, Alexandre Domingues, adverte: “Tirar as pessoas de lugar seguro pode ter um efeito contrário àquele que se pretende [limitar a contaminação]”. No mesmo sentido, António Sousa acrescenta: “O despacho do Governo lança a insegurança nas pessoas e potencia a propagação da doença”. No seu parque na Zambujeira, exemplificou, existem 20 autocaravanas mas há apenas um residente, inglês, em permanência. “Daqui por dois dias vou ter que mandar as pessoas embora”, disse, adiantando que pediu esclarecimentos à GNR e a resposta foi peremptória: “Isso é consigo, têm cinco dias para abandonar”.
António Sousa considera que o Governo, antes de ter colocado cá fora uma medida com esta amplitude, “deveria ter avaliado as consequências e analisado caso a caso” as condições de cada parque. Desde há cerca de 25 dias, diz, comecei a medir a temperatura aos utentes. “Todos aceitaram muito bem a sugestão. e posso garantir que ninguém está contaminado”.
No parque de campismo Canelas, em Armação de Pêra, encontram-se 40 autocaravanas, das quais oito pertencem a residentes. “Fechámos as inscrições a novos turistas”, informou a recepcionista Aurora Henriques, acrescentando que se está “gerar um grande confusão” entre os clientes. “Muitos querem regressar a casa mas não têm garantias”, afirmou.
O presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, considera que o repatriamento dos turistas aos países de origem “está assegurado pelos acordos de Portugal com o Espanha e restantes países do espaço europeu”. Por conseguinte, quando os caravanistas chegarem à fronteira, sublinha, “só têm de fazer prova de residência em país estrangeiro”. Sobre o despacho da secretaria de Estado do Turismo, entende que “faz parte de um conjunto de medidas mais vastas que estão a ser tomadas ao nível europeu”. Em Espanha, sublinhou, fecharam unidades hoteleiras.
No caso de ser necessário accionar planos de contingência, informou a CCDR, 11 parques estão disponíveis para acolher utentes.
- Descarregue a app do PÚBLICO, subscreva as nossas notificações
- Subscreva a nossa newsletter