Coronavírus: ânimos exaltados em Itália com subida dos números
Uma compilação de vídeos de autarcas exasperados pela falta de disciplina dos italianos, vistos a jogar ténis de mesa ou a passear, já foi partilhada milhares de vezes nas redes sociais.
De insultos para quem passeia cães a funcionários locais furiosos dizendo aos habitantes para ficarem em casa e às pessoas de outras regiões para ficarem longe: a paciência dos italianos está a esgotar-se à medida que a epidemia do novo coronavírus entra no segundo mês.
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De insultos para quem passeia cães a funcionários locais furiosos dizendo aos habitantes para ficarem em casa e às pessoas de outras regiões para ficarem longe: a paciência dos italianos está a esgotar-se à medida que a epidemia do novo coronavírus entra no segundo mês.
Com mais de cinco mil mortos, ultrapassando até mesmo a China, as cenas de serenatas comunitárias nas varandas estão a dar lugar a apartes resmungados e ressentimento contra aqueles que parecem não respeitar as proibições de reuniões públicas.
“Chegou-me a informação que alguém vai fazer uma festa”, queixou-se no Facebook Vincenzo De Luca, governador da região da Campânia, perto de Nápoles. “Vamos enviar os carabinieri (polícia), vamos enviá-los com um lança-chamas!"
Uma compilação em vídeo de discursos furiosos de autarcas exasperados pela falta de disciplina dos italianos, vistos a jogar ténis de mesa ou a passear já foi partilhada milhares de vezes nas redes sociais.
Há também ressentimento contra as pessoas que tentam deixar as regiões mais afectadas do norte da Itália e viajar para o sul, que até agora teve menos casos, mas tem serviços de saúde que são muito mais fracos do que os de regiões ricas como a Lombardia, onde a crise eclodiu há um mês.
Nello Musumeci, governador da ilha da Sicília, na ponta sul da Itália, disse na segunda-feira que estava a chegar demasiada gente do continente e que os sicilianos não estavam dispostos a ser “massacrados”.
As sondagens mostram um apoio generalizado ao governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte, que impôs restrições cada vez mais apertadas e intensificou os apelos para que as pessoas fiquem em casa.
Mas, ao mesmo tempo, alguns responsáveis locais estão preocupados com o desgaste no estado de espírito.
A presidente de Turim, Chiara Appendino, disse que todos os dias recebe relatos de pessoas que são insultadas das varandas ou fotografadas e colocadas nas redes sociais, incluindo o caso de um empregado de supermercado que estava a caminho do trabalho. “Não podemos nos deixar infectar pelo vírus da raiva”, disse ao jornal La Repubblica.
O termo untori (“disseminadores da peste”), uma referência a figuras sinistras acusadas de espalhar a doença em Os Noivos, um clássico literário ensinado a gerações de alunos italianos, ressurgiu à medida que cresce a busca por bodes expiatórios.
Nathalie Sitzia, presidente da câmara de Casaletto, perto de onde o vírus apareceu pela primeira vez numa pequena cidade à porta de Milão, disse que o clima de desconfiança geral está a ser alimentado pelo medo. “Hoje as pessoas têm medo de tudo, as pessoas denunciam os seus vizinhos quando levam o cão a passear”, disse.
“Estávamos habituados a ouvir os sinos tocar pelos mortos uma vez por mês, na nossa igreja. Ouvi-los todos os dias é terrível, psicologicamente”.