Dezenas de milhares de pessoas voltam às aldeias, aumentando a propagação do coronavírus na Índia
As grandes cidades começam a parar, deixando os que precisam do seu movimento sem rendimentos. Regressar a casa é a opção. “Algumas pessoas vão morrer com este vírus. O resto de nós vai morrer de fome”.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, voltou a pedir este domingo aos cidadãos que se auto-isolem para conter a propagação do coronavírus no país onde estão declarados 250 casos casos e quatro mortes.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, voltou a pedir este domingo aos cidadãos que se auto-isolem para conter a propagação do coronavírus no país onde estão declarados 250 casos casos e quatro mortes.
Tratou-se, novamente, de um apelo a um voluntariado - Modi tinha pedido na semana passada para os indianos se manterem em casa das sete da manhã às nove da noite. Não foi uma ordem de confinamento, mas ecoou e toda a Índia estava, neste domingo, quase deserta para o habitual - facilitando o caminho para o Governo aplicar medidas restritivas como suspender todas as ligações de caminho-de-ferro e outros transportes, o que pode acontecer esta semana. Algumas ligações já estão encerradas, sobretudo os transportes nas grandes cidades. Mas a decisão pode ter sido tardia - como mostra o caso de Bombaim.
No sábado, dezenas de milhares de pessoas de Bombaim, a população mais pobre da cidade, cuja subsistência desapareceu com as medidas que foram sendo adoptadas para conter o novo coronavírus, regressaram em massa às suas aldeias e vilas no interior do país, aumentando o risco de propagação rápida da doença no país de 1,3 mil milhões de habitantes.
Cerca de um quinto dos casos confirmados de covid-19 na Índia estão no estado ocidental de Maharashtra — onde se situa Bombaim, a maior cidade da Índia e o seu grande centro económico.
As autoridades de Maharashtra ordenaram, na sexta-feira, o encerramento de todas as lojas e escritórios, mantendo abertos apenas os serviços essenciais; a ordem é para reabrirem a 31 de Março.
Para os indianos que conduzem rickshaws ou que sobrevivem com as suas bancas de comida, o choque económico destas medidas é imenso, levando-os a deixar as cidades e a regressarem às duas terras, às casas da família, onde não pagam renda e sobreviver é mais barato.
“O trabalho parou. Vou regressar e trabalhar na terra”, disse Rakesh Kumar Gupta, de 40 anos, que vendia redes mosquiteiras em Bombaim e que estava de regresso ao seu estado natal do Uttar Pradesh, a Norte.
No sábado, centenas de pessoas, muitas deles jovens com máscaras sobre a boca e com mochilas às costas, esperavam numa fila na estação de comboios Lokmanya Tilak de Bombaim.
A empresa estatal de caminhos-de-ferro da Índia anunciou na sexta-feira 17 comboios especiais para levar as pessoas para fora de Bombaim, para Leste e para Norte, disse o porta-voz, Shivaji Sutar.
Mas os especialistas em saúde pública alertaram que movimentações em larga escala para as zonas rurais pode fazer propagar a doença a todo este país que tem uma rede de saúde pública muito débil, sobretudo no interior. E é muita gente a que se pode deslocar, sobretudo à medida que as cidades se fecham - a Índia tem 120 mil milhões de trabalhadores migrantes, segundo o grupo de defesa dos direitos do trabalho Aajiveeka.
“Estamos a assistir ao início do alastramento [do vírus] às comunidades”, disse Rajib Dasgupta, professor de saúde na comunidade na Universidade Jawaharlal Nehru em New Delhi.
No sábado, perante a possibilidade de haver restrições, milhares de passageiros ansiosos tentavam trepar para comboios sobrelotados, viu a Reuters. O Ministério dos Caminhos de Ferro fez saber no sábado que foram feitos testes a passageiros que viajaram na semana passada e que cerca de uma dezena deles deram positivo na sexta-feira.
“Pede-se aos passageiros que não precisem de fazer viagens obrigatórias que não o façam para garantir a segurança de todos os cidadãos”, pediu o Ministério. Um pedido difícil de acatar num país onde, para uma grande percentagem da população, ficar nas cidades paradas significa não subsistir.
O coronavírus está a sublinhar a dificuldade de alguns países em conter a pandemia e há muitos que temem que a Índia venha a ser severamente atingida.
“Algumas pessoas vão morrer com este vírus. O resto de nós vai morrer de fome”, disse o taxista Sanjay Sharma numa rua deserta de Bombaim. Garantiu que vai regressar a casa, ao estado nortenho do Himachal Pradesh, onde a família tem um pequeno pomar de macieiras.
- Descarregue a app do PÚBLICO, subscreva as nossas notificações
- Subscreva a nossa newsletter