Governadores e Bolsonaro continuam às avessas, agora em tempo de coronavírus
Governos federal e estaduais decretam decisões contraditórias e mantêm jogo político, numa altura em que número de infecções ultrapassa o milhar.
A resposta das autoridades brasileiras à epidemia do novo coronavírus está a aprofundar os desentendimentos entre o Presidente Jair Bolsonaro e alguns governadores. Para além de críticas na praça pública, há atropelos entre os poderes federal e estadual.
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A resposta das autoridades brasileiras à epidemia do novo coronavírus está a aprofundar os desentendimentos entre o Presidente Jair Bolsonaro e alguns governadores. Para além de críticas na praça pública, há atropelos entre os poderes federal e estadual.
Uma das decisões mais criticadas por Bolsonaro foi o decreto emitido pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, em que era pedido um parecer à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) para proibir a entrada de voos internacionais e domésticos no estado. Witzel queria também cortar as estradas interestaduais, o que iria isolar na prática o estado com 16 milhões de habitantes.
“Parece que o Rio de Janeiro é outro país”, afirmou Bolsonaro. Numa demonstração de força, na sexta-feira à noite, o Presidente emitiu várias medidas que especificam a competência do Governo federal sobre a circulação interestadual, revela o jornal O Globo.
Witzel justificou as suas decisões como uma forma de chamar a atenção de Brasília para as suas responsabilidades perante a progressão da epidemia – que já regista mais de mil casos e 11 mortes. “É preciso olhar para o Brasil como um todo e parar com essa atitude antidemocrática, conversar com os governadores”, afirmou o governador carioca.
Bolsonaro também tem andado às avessas com o governador de São Paulo, João Doria, criticando o que considera medidas exageradas para conter a propagação do novo coronavírus. Em entrevista ao popular “Programa do Ratinho”, na sexta-feira à noite, Bolsonaro criticou o encerramento de centros comerciais e a proibição de cerimónias religiosas, duas medidas tomadas no estado mais populoso do Brasil.
“Vejo no Brasil, para dar satisfação para eleitorado, governadores e até prefeitos que tomam providências absurdas, fechando shoppings e até igrejas, o último refúgio das pessoas”, lamentou o chefe de Estado.
Este sábado, Doria apertou ainda mais o combate à epidemia e decretou quarentena obrigatória durante 15 dias, o que irá obrigar ao encerramento de todos os estabelecimentos que não sejam considerados essenciais e o uso de força policial para evitar aglomerações de pessoas.
O governador paulista aproveitou também para lançar críticas a Bolsonaro. “Como governador do estado, eu gostaria que o país tivesse um Presidente que liderasse o país em uma crise como essa e não minimizasse problemas e dissesse que o coronavírus é uma gripezinha”, afirmou Doria, referindo-se a declarações de Bolsonaro que voltou a desvalorizar a epidemia.
O embate entre os governadores e Bolsonaro não é de agora e cruza-se com cálculos eleitorais de todos os actores políticas tendo em vista as eleições presidenciais de 2022. Apesar de tanto Doria como Witzel terem sido eleitos em 2018 como aliados do então candidato de extrema-direita, ambos se foram distanciando do chefe de Estado para se posicionarem como alternativas eleitorais.
No entanto, a insistência de Bolsonaro em desvalorizar a ameaça do novo coronavírus, especialmente numa altura em que a propagação está a entrar numa fase exponencial, entra em contradição com a conduta até de governadores aliados. É o caso o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que também ordenou o encerramento de lojas e templos religiosos.
Na entrevista de sexta-feira, Bolsonaro voltou a criticar medidas do género, afirmando que o seu dever é evitar que se crie pânico. “Vão morrer alguns com o vírus. Sim, vai acontecer. Lamento. Agora, não podemos criar esse clima todo que está ai. Prejudica a economia”, disse o Presidente.
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