“Afinal um bichinho que só se vê ao microscópio põe uma civilização de pernas para o ar”

Manuel Alegre assinala o Dia Mundial da Poesia com poema inédito sobre a Lisboa que, perante a pandemia, “em cada rua deserta/ ainda resiste”. Publicado no Facebook, o poema já chegou a mais de 400 mil pessoas.

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Esta publicação é, para Manuel Alegre, também um gesto de resistência DRO DANIEL ROCHA

O poeta Manuel Alegre assinalou o Dia Mundial da Poesia, que se celebra este sábado, com um poema inédito chamado “Lisboa ainda”. Publicado no seu Facebook às 15h07 de sexta-feira, o poema já somou até agora 6500 partilhas, 1800 reacções (gostos, etc.) e 163 comentários, alcançando 405.462 pessoas, segundo Rui Breda, da Dom Quixote/Leya.

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O poeta Manuel Alegre assinalou o Dia Mundial da Poesia, que se celebra este sábado, com um poema inédito chamado “Lisboa ainda”. Publicado no seu Facebook às 15h07 de sexta-feira, o poema já somou até agora 6500 partilhas, 1800 reacções (gostos, etc.) e 163 comentários, alcançando 405.462 pessoas, segundo Rui Breda, da Dom Quixote/Leya.

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Esta publicação é, para o poeta, também um gesto de resistência. “É preciso levantar o moral das pessoas, em circunstâncias destas”, diz Manuel Alegre ao PÚBLICO. “Vejo aqui o jardim em frente à minha casa deserto, as imagens das ruas desertas, as pessoas em casa mas a bater palmas aos médicos, aquelas manifestações em Itália. As pessoas que em Lisboa estão em casa e de quarentena, no fundo estão a sobreviver e também a resistir. E aqui tem um papel a cultura, a arte, a música, a poesia, porque eu acho que isto levará a mudanças muito grandes, não só na economia e sociais, mas no nosso modo de vida.”

Para Manuel Alegre, “é uma época que acaba e outra que vem aí”: “O nosso modo de vida vai mudar. E em certas circunstâncias (eu já vivi isso no tempo da ditadura, do fascismo), a poesia, como a música, tocam mais as pessoas, há mais necessidade. Por isso saiu-me o poema, publiquei-o lá na minha página de Facebook ligada à editora, e circula.”

Em casa, como generalidade dos portugueses, Manuel Alegre diz que encara a situação “com espírito de resistência e de resiliência”: “Um espírito que é o meu, já me habituei a isso. Mas não esperava isto, nesta circunstância da minha vida e depois de tudo o que vivi. Mas acho que é também uma lição da natureza, um pouco contra a ideia de omnisciência desta sociedade que sabe tudo, que pode tudo, do egoísmo, do narcisismo, do hedonismo, do culto do dinheiro pelo dinheiro, do poder pelo poder. Afinal, um bichinho que só se vê ao microscópio põe uma civilização de pernas para o ar. E isto é uma grande machadada neste orgulho e nesta soberba de um modo de vida que afinal não é tão forte e consistente como isso. É preciso ter humildade diante dos factos, como dizia um filósofo espanhol.”