“Por favor, não açambarquem medicamentos”, pedem farmacêuticos
“Não faz sentido ter em casa sete caixas de Ben-u-ron enquanto o meu vizinho não tem nenhuma”, diz a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos.
Depois da corrida ao gel desinfectante, ao álcool etílico e às máscaras, há agora quem esteja a comprar grandes quantidades de medicamentos, com medo de que as prateleiras das farmácias se esvaziem. Mas não há razões para isso. O abastecimento não está posto em causa pelo menos por enquanto, assegura a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Depois da corrida ao gel desinfectante, ao álcool etílico e às máscaras, há agora quem esteja a comprar grandes quantidades de medicamentos, com medo de que as prateleiras das farmácias se esvaziem. Mas não há razões para isso. O abastecimento não está posto em causa pelo menos por enquanto, assegura a bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, Ana Paula Martins.
Mas se para já apenas se exige “racionalidade”, não é de excluir um cenário de eventual “racionamento” num futuro próximo e se a pandemia de covid-19 se arrastar no tempo, avisa. Por isso, deixa um apelo: “Por favor, não açambarquem medicamentos.”
“Não faz sentido ter em casa sete caixas de Ben-u-ron enquanto o meu vizinho não tem nenhuma”, sublinha.
Numa altura em que aumenta o número de casos confirmados e suspeitos de infecção pelo novo coronavírus, as faltas de alguns medicamentos ainda são geríveis. A indústria farmacêutica na Europa e na Ásia está com dificuldades mas continua a produzir, diz a bastonária. A pressão sobre o sector está, porém, a aumentar a um ritmo veloz — se antes bastava distribuir fármacos três vezes por dia no país, na última semana e meia o movimento quadruplicou e, de uma média de 500 a 600 mil clientes por dia, por passou-se quase para o dobro, perto de um milhão, ilustra.
Com consultas médicas a serem desmarcadas e adiadas, há muito quem se assuste e pense: não vai haver medicamentos em quantidade suficiente nos próximos meses, tenho que comprar agora. Mas tal não faz sentido, assevera. “Pedimos aos cidadãos que sejam solidários, que levem só aquilo de que necessitam. Dizemos: neste grupo de medicamentos, só podemos dar embalagens para dois meses. Genericamente, as pessoas entendem. Precisamos que nos ajudem nesta onda de solidariedade para que os medicamentos cheguem para todos e para que não haja um pico de faltas”, apela.
Quantos aos fármacos de fornecimento exclusivo nos hospitais, também para estes casos estão previstas alternativas, se os doentes deixarem de os poder levantar ali. Sempre que os farmacêuticos hospitalares considerarem que há riscos para o paciente, usa-se uma metodologia de transporte para fazer chegar os medicamentos ao domicílio, diz.
Infarmed emite orientações
As farmácias de rua aguardam agora orientações da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed) para que a linha de apoio ao farmacêutico já a funcionar seja utilizada para sinalizar as necessidades dos utentes. Em situações limite será ainda possível recorrer-se às equipas domiciliárias que entregam outro tipo de produtos às pessoas mais idosos e isoladas.
Aos outros cidadãos, Ana Paula Martins deixa alguns conselhos básicos: não vá à farmácia sem precisar, opte primeiro por telefonar; se precisar, faça uma lista do que necessita mesmo; se for mesmo imprescindível ir, “que vá a pessoa mais jovem e saudável" levantar os medicamentos. E, sobretudo, por favor, não açambarquem, repete.
Os apelos à racionalidade não têm com alvo apenas aos cidadãos. Esta quinta-feira o Infarmed emitiu uma série de orientações para “para a gestão responsável" de medicamentos dirigidas a associações de médicos e de farmacêuticos, à indústria farmacêutica, às farmácias e aos distribuidores. Apesar de garantir que neste momento não está em causa o abastecimento, o Infarmed e a Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica (Apifarma) — que também divulgou um comunicado a este propósito — apelaram a uma utilização “responsável” por parte dos cidadãos.
A compra e venda de medicamentos deve ser feita atendendo às necessidades efectivas de quem os compra, “desencorajando-se a aquisição de quantidades de embalagens em número elevado” sem que haja justificação para tal, de forma a que haja uma “distribuição equitativa” pelos cidadãos, recomenda o Infarmed.
Todos os medicamentos não sujeitos a receita médica devem ser disponibilizados em quantidades que respondam à sintomatologia, posologia e tempo previsível de toma. Quanto aos outros, os que só podem ser aviados com prescrição, aconselha-se os farmacêuticos a orientarem “o utente quanto à aquisição”, assegurando a “não interrupção do tratamento”, mas não dispensando “quantidades excessivas”.
Lembrando que a industria farmacêutica activou, desde a primeira hora, os necessários planos de contingência — “o que permitiu ultrapassar com êxito o choque inicial provocado pela paralisação das unidades produtivas no exterior" —, a Apifarma pediu igualmente aos cidadãos que evitem a aquisição de produtos de saúde em número superior às suas reais necessidades.