Lisboa suspende recolha selectiva porta-a-porta, mas mantém recolha de ecopontos
Autarquia diz estar a seguir exemplo de outras cidades no estrangeiro.
A Câmara de Lisboa vai suspender a partir desta sexta-feira a recolha selectiva de resíduos porta-a-porta, passando a recolher apenas o lixo indiferenciado. Mas não precisa de parar de separar os resíduos, pois os ecopontos de rua vão continuar a ser despejados.
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A Câmara de Lisboa vai suspender a partir desta sexta-feira a recolha selectiva de resíduos porta-a-porta, passando a recolher apenas o lixo indiferenciado. Mas não precisa de parar de separar os resíduos, pois os ecopontos de rua vão continuar a ser despejados.
A partir de agora, devido ao surto de covid-19 e por tempo indeterminado, os lisboetas escusam de pôr na rua os contentores amarelo e azul nas noites pré-determinadas, porque os serviços da autarquia deixam de recolher plástico e papel para se focarem apenas no lixo doméstico. Este continuará a ser recolhido como até aqui: às segundas, quartas e sextas numa parte da cidade; às terças, quintas e sábados noutra. O mesmo se aplica nos bairros históricos onde se mantém o sistema de sacos, sem contentores.
Num comunicado emitido esta sexta, a câmara informa ainda que está também suspensa a recolha de vidro nos estabelecimentos comerciais, mantendo-se, no entanto, o despejo de vidrões. Os agendamentos para a recolha de monos e de resíduos de obras também estão suspensos.
Tal como o PÚBLICO deu conta na quarta-feira, a autarquia mudou os horários dos trabalhadores para reduzir o risco de contágio pelo novo coronavírus. Com grande parte da população metida em casa, a produção de lixo aumentou e nalgumas zonas tem havido problemas de recolha. A suspensão da recolha selectiva é uma consequência da maior rotatividade de funcionários, mas também uma tentativa de normalizar o serviço.
Rui Berkemeier, especialista em resíduos da Associação Zero, diz que “a grande dúvida é que ninguém consegue dizer quanto tempo isto vai durar” e, por isso, preferia que a recolha selectiva não fosse suspensa. “O que sugere a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) é haver um período de quarentena para o resíduo. Ou seja, ficar armazenado em vez de ir logo para triagem”, explica.
Isto permitiria reduzir o risco de contágio dos trabalhadores dos centros de recepção que fazem a separação final antes da reciclagem, uma vez que ainda não é certo como o vírus se comporta em superfícies. Neste momento, por indicação da APA e da Entidade Reguladora dos serviços de Água e Resíduos (ERSAR) o tratamento mecânico e biológico dos resíduos (TMB) está suspenso por esse motivo.
Este método, que, simplificando, consiste em vasculhar o lixo indiferenciado para encontrar coisas que se possam reciclar, tem sido muito útil para melhorar os níveis de reciclagem em Portugal, que por regra são ainda muito baixos. Com a sua suspensão, todo o lixo que não é separado ou é incinerado ou vai para aterro. O que pode significar que o país se afastará ainda mais das suas metas de reciclagem de resíduos.
No comunicado, a câmara lisboeta afirma que os seus serviços de Higiene Urbana têm mantido contactos com outras autarquias fora de portas, como Amesterdão, Roterdão, Los Angeles e Paris, e que as medidas agora anunciadas seguem os exemplos destas cidades.
A recolha de resíduos orgânicos (vulgo, restos de comida), que para já só se verifica no Lumiar e em Santa Clara, vai manter-se e a câmara mantém o objectivo de alargá-la a toda a cidade até 2023.
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