“Esta crise fará muito pelo teletrabalho”

“Quero acreditar que esta crise fará muito pelo teletrabalho porque obriga as pessoas a um esforço de adaptação e aprendizagem”, diz coordenador da Iniciativa Nacional para as Competências Digitais 2030.

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A iliteracia digital é uma das barreiras ao trabalho à distância Pedro Cunha

Com a pandemia da covid-19, quem pode, está a descobrir formas de continuar a trabalhar online: profissionais que já passavam a maior parte do dia em frente ao computador (mas não estavam habituados a organizarem-se à distância), professores empurrados para reuniões matinais por videoconferência, profissionais de saúde a dar consultas online, técnicos de exercício físico a filmarem treinos em frente à câmara...

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Com a pandemia da covid-19, quem pode, está a descobrir formas de continuar a trabalhar online: profissionais que já passavam a maior parte do dia em frente ao computador (mas não estavam habituados a organizarem-se à distância), professores empurrados para reuniões matinais por videoconferência, profissionais de saúde a dar consultas online, técnicos de exercício físico a filmarem treinos em frente à câmara...

“Quero acreditar que esta crise fará muito pelo teletrabalho porque obriga as pessoas a um esforço de adaptação e aprendizagem. O aumento do interesse em saber utilizar ferramentas online pode ajudar a quebrar a barreira da exclusão digital”, disse ao PÚBLICO Nuno Rodrigues, coordenador geral da Iniciativa Nacional para as Competências Digitais 2030 (INCoDe 2030). “Para já, só temos evidências empíricas, mas é algo que deve ser avaliado no futuro.”

A falta de literacia digital em Portugal será um dos grandes desafios. “Em geral, há uma boa cobertura da rede em Portugal. É possível que existam problemas, mas serão pontuais”, diz Rodrigues. “O grande problema é que ainda há uma grande iliteracia por parte da população.”

De acordo com dados do índice de 2019 de Digitalidade da Economia e da Sociedade (DESI), a percentagem de cidadãos em Portugal que nunca utilizaram a Internet ronda os 23%. É o dobro da média da União Europeia.

“Para muitos trabalhos, ferramentas de mensagens e videochamadas serão o suficiente, mas é preciso saber usá-las”, partilha Nuno Rodrigues. Para ajudar, a INCoDE.2030 vai disponibilizar vários tutoriais e kits de aprendizagem sobre literacia digital e gestão do teletrabalho online.

Até agora, nota-se uma vantagem do ensino superior, que já tem várias ferramentas disponíveis para o teletrabalho desenvolvidas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Nos últimos dias, a procura de ferramentas como o Educast (permite gravar uma aula ou reunião e disponibilizá-la online) e o Colibri (para videoconferência) tem subido a pique – ajudam a coordenar aulas remotas ou reuniões entre investigadores e académicos. A FCT já aumentou a capacidade dos servidores para garantir que as plataformas suportam maiores quantidades de utilizadores em simultâneo.

Com o isolamento social, muitos também têm procurado cursos de certificação online. Só nos últimos sete dias, foram emitidos mais de 450 certificados pela NAU, uma plataforma de ensino à distância, em português liderada pela FCT. Contrariamente a outras plataformas de ensino, a NAU organiza cursos que podem ser completados por milhares de utilizadores em simultâneo​. Os cursos mais populares estão relacionados com o ensino, a protecção de dados, regras de cibersegurança e uma higienização correcta das mãos.

“Acredito que, apesar de todos os problemas, esta situação pode ajudar o país a estar mais equilibrado relativamente a soluções de teletrabalho que existem”, diz o coordenador da INCoDe.2030.