Moody’s diz que TAP precisará de dinheiro do Estado no segundo trimestre
Agência de rating reviu em baixa a notação dada à companhia aérea e diz que a TAP vai precisar de apoio para manter liquidez.
A Moody’s reviu em baixa o rating que atribui à TAP e prevê que, entre Abril e Junho próximos, a companhia aérea precise de receber capital por parte dos seus accionistas. Aqui, destaca-se o Estado, com 50% do capital social, seguindo-se o consórcio Atlantic Gateway (de David Neeleman com a Azul, e de Humberto Pedrosa, cabendo 50% a cada uma das partes), com 45%, cabendo os outros 5% a trabalhadores.
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A Moody’s reviu em baixa o rating que atribui à TAP e prevê que, entre Abril e Junho próximos, a companhia aérea precise de receber capital por parte dos seus accionistas. Aqui, destaca-se o Estado, com 50% do capital social, seguindo-se o consórcio Atlantic Gateway (de David Neeleman com a Azul, e de Humberto Pedrosa, cabendo 50% a cada uma das partes), com 45%, cabendo os outros 5% a trabalhadores.
Isto, diz a agência de rating, devido à falta de liquidez provocada neste momento pela restrições de viagens impostas por vários países e ausência de procura devido ao novo coronavírus, o que está a provocar uma redução severa no número de passageiros.
Além da referência aos accionistas, a Moody’s diz, num outro ponto da sua análise, que a TAP vai precisar de medidas para melhorar a sua liquidez e “muito provavelmente vai requer o apoio do Governo português”. Em Bruxelas, a Comissão Europeia admite uma flexibilização das ajudas de Estado.
No final da semana passada, fonte oficial do Ministério das Infra-estruturas, tutelado por Pedro Nuno Santos, afirmou ao PÚBLICO que estava a olhar para a a TAP “com muita preocupação”.
Dias antes, numa conferência telefónica com analistas, o presidente da TAP, Antonoaldo Neves, e perante a possibilidade de se verificar uma facilitação das ajudas de Estado na UE, considerou que, a avançarem, a companhia estaria certamente entre as visadas devido à sua importância para o país. Por outro lado, afirmou que já sabia que podia contar com o apoio dos accionistas.
Aviação a descer
Várias companhias já deram sinais de precisar de apoios (que podem assumir diversas formas), e hoje foi Carsten Spohr, o presidente da Lufthansa, a maior companhia europeia, a par da Ryanair (que vai suspender “a maioria ou todos os voos” após 23 de Março), a afirmar que “quanto maior for a duração desta crise, maior é a probabilidade de o futuro da aviação não poder ser garantido sem ajudas estatais”.
O índice Stoxx Europe Total Market Airlines, que reúne as principais companhias cotadas, teve uma queda de 57% nos últimos 30 dias.
A descida do rating feita pela Moody’s foi de B2 para Caa1, ou seja, a agência considera agora que o risco de crédito é muito alto, e com um outlook negativo. A TAP tem um nível de endividamento muito elevado, distribuído pela banca e por vários tipos de investidores obrigacionistas (através de linhas emitidas no ano passado. As obrigações da TAP SGPS emitidas em Junho de 2019 estavam esta quinta-feira com uma perda de 27% face ao valor inicial, com a queda a ocorrer no início de Março.
TAP reduzida a 15 destinos
Esta quinta-feira, a TAP comunicou, tal como têm feito as suas congéneres, uma redução brutal do número de voos, passando a assegurar ligações para apenas 15 destinos entre 23 de Março e 19 de Abril - quando o normal são 90.
Ao todo, são agora apenas 70 voos por semana - para se ter uma ideia da dimensão, isso equivale a 2% da média de voos semanais da empresa. Só há ligações diárias com o Porto (três), Funchal (dois) e Ponta Delgada (um). África fica sem ligações, e no caso do Brasil – o segundo maior mercado em termos de receitas da TAP – ficam apenas assegurados três voos por semana para São Paulo.
Há depois só três ligações com os EUA, asseguradas duas vezes por semana (Newark, Boston e Miami), um mercado onde a empresa tem feito um enorme investimento, e uma ligação com o Canadá (Toronto, duas vezes por semana).
De pé ficam ainda os voos para Luxemburgo, Genebra, Frankfurt, Londres, Paris e Amesterdão (duas vezes por semana), e para Londres (quatro por semana). De acordo com a TAP, esta lista “pode ser ajustada sempre que as circunstâncias assim o exijam”.
Em comunicado, a transportadora fala de “inúmeros e sucessivos cancelamentos de voos e suspensões de rotas” na sequência da covid-19 e decisões dos governos.
“Nas últimas 24 horas verificaram-se evoluções significativas das condicionantes acima referidas e, em consequência, a TAP vai reduzir de forma expressiva a operação e parquear grande parte da sua frota de aviões”, acrescenta-se. O impacto vai ser sentido também de forma severa nas contas do sector do turismo.
Cortes de pessoal
Entre as medidas de contenção de custos já tomadas pela TAP está a não renovação de contrato de trabalho a cerca de 100 trabalhadores. Entre as dispensas estão tripulantes de cabine contratados há poucas semanas e que ainda se encontravam no primeiro mês de período experimental.
Ontem, a empresa anunciou também ontem aos trabalhadores que o período de licenças sem vencimento, iniciado há poucos dias, é agora alargado para seis meses, indo de Abril ao final de Setembro. Até aqui, aderiram 300 trabalhadores, de acordo com a TAP.
Na luta emitida, a Moody’s refere ainda que a TAP vai sofrer um impacto negativo “pela forte depreciação do real brasileiro contra o dólar e o euro que se verificou nas últimas semanas”.
A má performance do Brasil foi uma das razões para os péssimos resultados da transportadora no primeiro semestre do ano passado (120 milhões de euros). No final do ano passado, a TAP tinha uma liquidez de cerca de 430 milhões de euros. De acordo com a Moody’s, havia ainda 174 milhões de euros a receber em créditos do Brasil.
Segundo a análise da agência de rating, o nível baixo de reservas de passageiros e a forte queda verificada até agora vai levar à perda de muito dinheiro, e não se espera melhorias “pelo menos no curto prazo”.