Sem competição, o jogo das apostas pode perder 100% das receitas

O congelamento em massa das provas desportivas põe em risco o negócio das apostas. Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online olha para o que resta de Março como um caso perdido e teme que a quebra de receitas no mês seguinte seja total.

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Apenas duas Ligas europeias ainda decorrem dentro da normalidade LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Na terça-feira, a União de Futebol da Rússia decidiu anunciar a paralisação das competições domésticas até 10 de Abril, como forma de tentar conter a propagação do novo coronavírus. Foi uma das últimas peças do dominó a cair, depois de a grande maioria dos campeonatos europeus ter avançado para a suspensão dos jogos a meio da semana anterior. No continente, só Bielorrússia e a Ucrânia continuam a disputar as respectivas Ligas – apesar de haver quem não entenda por que motivo também ainda não congelaram indefinidamente os calendários. Com uma redução substancial no número de jogos – e, aparentemente, sem soluções animadoras a curto prazo –, como conseguem sobreviver as casas de apostas?

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Na terça-feira, a União de Futebol da Rússia decidiu anunciar a paralisação das competições domésticas até 10 de Abril, como forma de tentar conter a propagação do novo coronavírus. Foi uma das últimas peças do dominó a cair, depois de a grande maioria dos campeonatos europeus ter avançado para a suspensão dos jogos a meio da semana anterior. No continente, só Bielorrússia e a Ucrânia continuam a disputar as respectivas Ligas – apesar de haver quem não entenda por que motivo também ainda não congelaram indefinidamente os calendários. Com uma redução substancial no número de jogos – e, aparentemente, sem soluções animadoras a curto prazo –, como conseguem sobreviver as casas de apostas?

Em comunicado, a Associação Portuguesa de Apostas e Jogos Online (APAJO) classifica como “drástico” o impacto que esta paragem a nível mundial das competições desportivas – que já provocou, a título de exemplo, o adiamento do Europeu para o ano de 2021 – tem exercido sobre o negócio. Uma realidade que, espera-se, deverá assumir proporções ainda mais graves no futuro. Gabino Oliveira, presidente desta entidade voltada para a “promoção do sector do jogo” e a defesa das “empresas que legalmente exerçam essa actividade”, explica que o mês de Março já é um caso perdido para os diferentes associados, que “estimam uma perda de receitas na ordem dos 70% a 75%”. A partir de Abril, antecipam que esse número “se agrave para perto de 100%”, devido, forçosamente, à ausência de oferta, e, também, ao facto de a mesma “ser mais limitada em Portugal do que na maioria de outros países onde o jogo online é regulado”.

Ouvida pelo PÚBLICO, a Bet.pt diz que “ainda é cedo para dar números palpáveis”, mas salienta que é evidente a “quebra no volume de apostas”. “A Série A, com a presença do Cristiano Ronaldo, é uma Liga com um impacto muito forte para nós. Quando essa competição foi suspensa, sentimos a primeira onda de choque”, confessa Pedro Miguel Garcia, do departamento de marketing da marca. Os adiamentos em catadupa dos restantes campeonatos prejudicaram consideravelmente o cenário – e “os mercados que ainda existem são periféricos”. A principal divisão de futebol da Austrália, por exemplo, ainda decorre dentro da normalidade, mas é, por norma, “pouco atraente” para os apostadores.

Numa tentativa de encontrar soluções, estas casas têm apostado no desenvolvimento do casino online. O da Bet.pt – que, para as Ligas que ainda não foram suspensas, tem criado “apostas especiais com odds mais aliciantes”, para tentar “gerar interesse” – teve, no ano passado, um aumento “interessante” no número de jogadores registados, e o da Betano é, assegura Rui Trombinhas, responsável da equipa de conteúdos, “parte importante do negócio”, permitindo, de certa forma, mitigar os efeitos provocados pela ausência de jogos.

No comunicado, a APAJO frisa que, nesta altura de severa contingência, é essencial “assegurar a viabilidade económica e a manutenção dos postos de trabalho nas empresas deste novo sector em Portugal”, que, com “pouco menos de quatro anos de existência”, já constitui “parte integrante do turismo” nacional. A associação deixa ainda o repto, esperando que “sejam encetadas acções para impedir que os operadores de jogo ilegal”, “que não pagam impostos nem garantem a protecção das pessoas mais vulneráveis”, saiam “beneficiados” desta crise.

A incerteza que paira sobre a associação é a mesma que, neste momento, torna o futuro da Liga pouco claro. O Sporting de Braga já formulou seis propostas para a conclusão do calendário desportivo em tempo útil, sem necessidade de um tempo de descontos excessivo. A possibilidade de se olhar para a tabela verificada no fecho da primeira volta como a classificação final tem circulado, mas não foge de polémicas, até porque implicaria o FC Porto e o Benfica trocarem de lugares, sendo também debatida a possibilidade de o campeonato terminar tal como está, com os “dragões” no topo.

Quaisquer decisões que sejam tomadas vão obrigatoriamente depender da forma como a pandemia de covid-19 for controlada. Até lá, é esperar.