Guerra à pandemia por covid-19
Haveria que se tentar transformar, provisoriamente, o Ministério da Saúde num verdadeiro Ministério da Guerra ou da Defesa Nacional, procurando, através de uma linha de comando bem definida, articular melhor todos os possíveis atores envolvidos nesta guerra, desde entidades públicas e privadas a organizações empresariais ou de voluntários
Num recente debate televisivo foram discutidas questões extremamente importantes para a prossecução bem-sucedida da nossa atual guerra à pandemia por covid-19.
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Num recente debate televisivo foram discutidas questões extremamente importantes para a prossecução bem-sucedida da nossa atual guerra à pandemia por covid-19.
Da essência das diversas intervenções desse crucial debate, retive algumas poderosas reflexões ou recomendações dirigidas a quem tem a responsabilidade de combater a presente guerra sanitária que todos estamos a viver.
Primeira, os próximos doentes infetados com sintomas não deveriam recorrer de imediato junto do SNS, a não ser que estejam já com evidentes dificuldades respiratórias, de modo a adiar, o mais possível, o previsível colapso do nosso SNS e, ao mesmo tempo, a ajudar a contenção da epidemia, sobretudo através da diminuição da sua capacidade de contágio e disseminação na comunidade.
Esta medida, conjuntamente com a da quarenta e de outras formas menos severas de contenção social, enquadra-se nos métodos de distanciamento físico social que poderão ter um enorme efeito na travagem ou desaceleração da epidemia, constituindo assim a nossa maior esperança e aposta para se evitar uma verdadeira disrupção do nosso sistema de saúde, com gravíssimas consequências na mortalidade não só nos doentes infetados por covid-19, mas talvez ainda mais entre todos os outros doentes que continuam, neste preciso momento, a precisar de cuidados médicos regulares e diferenciados, tais como os doentes oncológicos ou os hemodialisados.
Segunda, a necessidade urgente de instituição de uma estrutura, na dependência direta do primeiro-ministro, de comando operacional, que permita dar um mais rápido e efetivo aconselhamento, tanto ao Primeiro Ministro (PM), como a todos aqueles que estão na primeira linha do atual “teatro de guerra”. Essa estrutura, para além de coordenar, emanando diretivas ou recomendações, deveria igualmente procurar ouvir e aconselhar-se junto daqueles que estão no terreno. Na verdade, os canais de comunicação deverão ser o mais possível bidirecionais, flexíveis e não burocráticos, envolvendo e articulando tanto quem está em combate direto como quem está, em gabinetes, a dirigir de um modo mais macro, mais integrado, as operações.
Essa estrutura deveria estar ativa 24 horas por dia 7 dias por semana e contar com a ajuda de especialistas em controlo de epidemias e medicina de catástrofes, juntando tanto epidemiologistas de doenças infeciosas como intensivistas e especialistas em logística e gestão operacional. Sejam eles portugueses e/ou estrangeiros, sendo os últimos oriundos sobretudo de países ou regiões que se tenham já mostrado eficazes no controlo da Pandemia, como é certamente o caso da China, particularmente da sua região de Macau.
Terceira, haveria que se tentar transformar, provisoriamente, o Ministério da Saúde num verdadeiro Ministério da Guerra ou da Defesa Nacional, procurando, através de uma linha de comando bem definida, articular melhor todos os possíveis atores envolvidos nesta guerra, desde entidades públicas e privadas a organizações empresariais ou de voluntários, da área da saúde, logística, autárquica ou industrial, de forma a podermos rapidamente recensear e mobilizar as muitas reservas e energias que poderemos vir em breve a ter disponíveis. Tudo isto de modo a expandir os recursos humanos, materiais e energéticos disponíveis nos nossos hospitais do SNS ou nas atuais lideranças de saúde pública que, como já todos percebemos, estão já, ou estarão muito em breve, completamente desgastadas.
Ou seja, novos e gravosos desafios, sobretudo aqueles que nos obrigam a agir em contrarrelógio, exigem uma tomada de medidas e uma capacidade de coordenação e de gestão de informação que não se compadecem, de todo, com modelos anquilosados. O facto é que teremos rapidamente de mudar e alargar a nossa estratégia de combate, ouvindo, rapidamente, quem já soube ultrapassar ou tem mais recursos para lidar com esta situação, como sejam a China/Macau, a OMS, a Comissão Europeia e alguns governos de países da União Europeia. Juntando assim uma equipa de assessores técnicos, disponível no terreno, 24 horas por dia sete dias na semana, composta por cinco a sete pessoas (ao invés de comissões de 20 a 30 elementos, manifestamente muito menos eficientes), nomeadamente epidemiologistas com experiência prévia em lidar com pandemias, médicos intensivistas e da medicina das catástrofes, especialistas em logística e em gestão operacional.
Feliz ou infelizmente, só o PM poderá ser agora o nosso general, o nosso chefe de Estado-Maior e ministro da Guerra ao covid-19. Resta-me desejar-lhe boa sorte!