Coronavírus: há 642 casos confirmados, mais 194 do que na terça-feira. Segunda morte em Portugal

Há dois casos no Alentejo, onde ainda não tinha sido identificado nenhum caso, e mais cinco cadeias de transmissão identificadas. A região norte é aquela com mais casos: são 289.

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MIGUEL MANSO

Há 642 casos de infecção pelo novo coronavírus em Portugal, mais 194 do que na terça-feira, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), que actualiza os números diariamente — o que corresponde a uma variação de 43% face ao dia anterior​. Há dois casos no Alentejo, a única região de Portugal onde ainda não tinha sido registado qualquer caso até esta terça-feira, e existem 24 cadeias de transmissão, mais cinco do que ontem. Há ainda 352 pessoas a aguardar resultado laboratorial. 

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Há 642 casos de infecção pelo novo coronavírus em Portugal, mais 194 do que na terça-feira, segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), que actualiza os números diariamente — o que corresponde a uma variação de 43% face ao dia anterior​. Há dois casos no Alentejo, a única região de Portugal onde ainda não tinha sido registado qualquer caso até esta terça-feira, e existem 24 cadeias de transmissão, mais cinco do que ontem. Há ainda 352 pessoas a aguardar resultado laboratorial. 

A região norte é aquela que tem mais casos até agora: são 289, mais 93 do que na terça-feira. A região de Lisboa e Vale do Tejo, a segunda região com mais casos, soma 243 casos de infecção, mais 63 do que ontem. Já a região centro tem um total de 74 casos confirmados, mais 33 do que no último balanço. O Algarve tem agora 21 casos, os Açores três e a Madeira um. Há ainda nove pessoas com covid-19 que têm residência no estrangeiro.

Nesta quarta-feira foi registada a segunda morte em Portugal: o presidente do conselho de administração do Banco Santander Portugal, António Vieira Monteiro, morreu depois de ter contraído o novo coronavírus. Estava prestes a fazer 74 anos. Ainda que o boletim da DGS registe apenas os casos do dia anterior, aparece a referência a esta segunda morte como “mais um óbito conhecido até à data de fecho da região de Lisboa e Vale do Tejo”.

A primeira vítima mortal da doença covid-19 em Portugal foi um ex-massagista do extinto clube de futebol Estrela da Amadora: Mário Veríssimo, de 80 anos, um doente crónico com patologia pulmonar. Foi um dos casos detectados dias depois de ter sido internado, quando o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, começou a testar pacientes com pneumonias para concluir que dois sofriam da doença causada pelo novo coronavírus.

Neste momento, há 89 pessoas internadas, 20 delas em unidades de cuidados intensivos. Os sintomas mais comuns são tosse (em 31% dos casos), febre (24%), dores musculares e cefaleia (17%), fraqueza generalizada (12%) e dificuldade respiratória em 10% dos casos.

Segundo a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, as pessoas em estado crítico tendem a ser idosos e com patologia associada. A idade e a existência de doenças crónicas – como diabetes, doenças cardíacas e respiratórias – são factores de risco para esta doença. De acordo com os dados disponíveis com base na análise da epidemia noutros países, é aqui que se centra a maior taxa de letalidade. O que tem levado as autoridades de saúde a deixar especiais recomendações para estes grupos, como por exemplo não conviver com os mais novos.

Os casos têm crescido de dia para dia. Como a ministra da Saúde, Marta Temido, tinha referido, “é previsível que a curva epidemiológica aumente pelo menos até ao final de Abril”. No concelho de Ovar foi declarada calamidade pública e, a partir desta quarta-feira, o concelho está de portas fechadas.

Portugal na fase exponencial

Francisco Caramelo, investigador na Universidade de Coimbra, tem estado a trabalhar os dados de propagação da covid-19 – com uma equipa que inclui outros dois investigadores da mesma instituição, Bárbara Oliveiros e Nuno Ferreira. O investigador já tinha dito ao PÚBLICO que os dados de Portugal “são novos e têm vindo a variar na forma como são divulgados e nos tempos”. Uma irregularidade que faz com que seja (ainda) mais difícil fazer previsões, admitiu. “Os métodos de previsão podem ser bastante variados, podendo incluir modelos de previsão baseados em compartimentos, ajuste de curvas, simulação computacional e inteligência artificial”, acrescenta Nuno Ferreira.

Mas a equipa de investigadores portugueses, uma das muitas a trabalhar sobre este tema no mundo, já chegou a algumas conclusões. Fizeram, por exemplo, uma análise ao tempo de duplicação que corresponde ao tempo que o número de infectados demora a duplicar, sendo que na China era preciso esperar entre três a quatro dias. “O tempo de duplicação em Portugal melhorou (ou seja, aumentou): domingo foi de 1,87 dias e segunda-feira foi de 2,33 dias. Quanto mais aumentar esse tempo, melhor”, diz Nuno Ferreira. Neste momento, o tempo médio de duplicação em Portugal está nos 1,90 dias.

Os números mostram que a epidemia continua a crescer em Portugal, o coronavírus vai demorar ainda algum tempo a chegar ao topo da curva no gráfico. Não se sabe quanto tempo. “De momento, ainda se está na fase exponencial e não se sabe ao certo quando ocorrerá o ponto de inflexão, que é onde a curva do total de casos confirmados começa a crescer a um ritmo cada vez menor”, constata Nuno Ferreira. Mas, além da linha que mostra o total de casos, há uma outra curva sobre os novos casos que também importa. “O pico da curva dos novos casos corresponde ao ponto de inflexão da curva do total de casos. Por enquanto, em Portugal, estamos antes desse ponto de inflexão da curva do total de casos e o número de novos casos ainda está a aumentar”, adianta o investigador. Nesta fase, conclui, interessa-nos “atingir o ponto de inflexão em poucos dias e fazer diminuir rapidamente a curva de novos casos (aumentando rapidamente a de casos recuperados)”.