Candidata de Macron a Paris acusa Governo de não ter levado a sério o coronavírus
Agnés Buzyn era ministra da Saúde quando começou a epidemia. Ficou em terceiro lugar na primeira volta das municipais, e fez declarações que abalaram a política francesa.
Agora que a aventura política de Agnés Buzyn, a candidata à Câmara Municipal de Paris pelo partido de Emmanuel Macron terminou mal (ficou em terceiro), fez declarações bombásticas, que deixam entender que ela própria tinha lançado um alerta sobre a epidemia de coronavírus, quando ainda era ministra da Saúde, e que foi ignorada pelo primeiro-ministro e pelo Presidente. “Devíamos ter parado tudo, foi uma palhaçada”, disse sobre o não cancelamento da primeira volta das eleições municipais, no passado domingo.
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Agora que a aventura política de Agnés Buzyn, a candidata à Câmara Municipal de Paris pelo partido de Emmanuel Macron terminou mal (ficou em terceiro), fez declarações bombásticas, que deixam entender que ela própria tinha lançado um alerta sobre a epidemia de coronavírus, quando ainda era ministra da Saúde, e que foi ignorada pelo primeiro-ministro e pelo Presidente. “Devíamos ter parado tudo, foi uma palhaçada”, disse sobre o não cancelamento da primeira volta das eleições municipais, no passado domingo.
Buzyn era ministra da Saúde e deixou o Governo em meados de Fevereiro, para substituir de emergência o candidato original, Benjamin Griveaux. Faltava um mês para a ida às urnas, e Griveaux foi apanhado num escândalo sexual - enviou vídeos de si próprio a uma mulher, numa trama complicada que envolveu um artista russo.
A 24 de Janeiro, a então ministra da Saúde fez declarações públicas dizendo que “os riscos de propaganda do vírus entre a população são muito reduzidos”, recorda o diário Le Monde.
Só que agora Buzyn, uma hematologista de renome, recorda-se das coisas de outra forma, como tendo dado alerta – sem que tenha sido levada muito a sério. “Penso que fui a primeira a ver o que se passava na China. A 11 de Janeiro, enviei uma mensagem ao Presidente sobre a situação. A 30 de Janeiro, avisei Edouard Philippe [o primeiro-ministro] de que as eleições não se poderiam realizar”, contou ao Le Monde.
As palavras da ex-ministra, e até agora ainda cabeça-de-lista do partido República em Marcha caíram como uma bomba, ferindo a maioria presidencial e dando armas à oposição.
Os seus confrades partidários consideram estas declarações como “uma bofetada” e desprezam-nas como sintomas de “depressão pós-eleitoral”; dizem que Buzyn cometeu “um suicídio político”. O primeiro-ministro, que ficou na frente da primeira volta das municipais no Havre (se for eleito não assumirá o cargo, que passa para o número dois da lista), respondeu-lhe no canal de televisão France 2 reconhecendo que recebeu a mensagem de que Buzyn fala. “Mas nessa altura, muitos médicos pensavam que não seria uma epidemia e que não teria este impacto”.
Já a oposição regozija-se com os desabafos de Agnés Buzyn, que diz que temia os comícios eleitorais, por serem momentos privilegiados de contágio. Jean-Luc Mélenchon, da França Insubmissa (esquerda radical), exige “explicações cabais” ao Governo e Marine Le Pen (extrema-direita) considera que se está perante “um gravíssimo escândalo de Estado”, que quer levar ao Supremo Tribunal.