Proprietários de AL mobilizam-se para oferecer casas a profissionais de saúde

Com o sector praticamente paralisado, os proprietários de alojamentos locais estão a colocar as suas casas vazias ao dispor de médicos e enfermeiros. Em breve, haverá uma plataforma onde estes profissionais se poderão inscrever para aceder a uma casa. Hotéis também disponibilizam camas.

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Nos destinos urbanos, como Lisboa e Porto, o sector do AL “está praticamente paralisado”, diz o presidente da associação do sector Nelson Garrido

As reservas começaram a ser canceladas e as casas foram ficando vazias à medida que os turistas partiram de regresso aos seus países. Ao mesmo tempo, a epidemia transformou-se em pandemia, chegou a Portugal, e o número de pessoas infectadas com o novo coronavírus escalou drasticamente, atingindo esta quarta-feira as 642. Para dar respostas aos profissionais de saúde que estão na linha da frente do combate à doença e que não querem arriscar levar o vírus para casa, alguns proprietários de alojamentos locais (AL) começaram a colocar os seus apartamentos à disposição destes profissionais para que não ponham em risco as suas famílias. 

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As reservas começaram a ser canceladas e as casas foram ficando vazias à medida que os turistas partiram de regresso aos seus países. Ao mesmo tempo, a epidemia transformou-se em pandemia, chegou a Portugal, e o número de pessoas infectadas com o novo coronavírus escalou drasticamente, atingindo esta quarta-feira as 642. Para dar respostas aos profissionais de saúde que estão na linha da frente do combate à doença e que não querem arriscar levar o vírus para casa, alguns proprietários de alojamentos locais (AL) começaram a colocar os seus apartamentos à disposição destes profissionais para que não ponham em risco as suas famílias. 

A iniciativa nasceu “espontaneamente” nas redes sociais pela vontade de ajudar dos proprietários, numa altura em que eles próprios atravessam uma “situação económica muito difícil”, nota o presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP), Eduardo Miranda. 

No Facebook, há já vários grupos dedicados a oferecer este tipo de alojamentos a quem trabalha em unidades de saúde. O grupo Alojamento Local - Esclarecimentos entrou, entretanto, em contacto com a ALEP para que, juntos, pudessem “estruturar” um projecto e garantir que são asseguradas todas as condições de higiene e segurança nas casas. E é nesse “Plano de cedência de alojamento a profissionais de saúde” que têm vindo a trabalhar ao longo dos últimos dias. 

“Isto pode correr bem, como pode correr mal. Tem de ser uma coisa bem feita, porque se começa tudo a querer ajudar e não há uma operação por trás que salvaguarde a saúde das pessoas, também pode não ser bom”, diz ao PÚBLICO Viviana Pelágio, da empresa Lisbon Inside Out, que gere 25 apartamentos de AL na capital, e tem disponíveis 20 casas, no centro da cidade, para médicos, enfermeiros ou instituições que necessitem. 

“Nós suportamos as contas das casas. Entre ter o apartamento fechado e podermos ajudar, para ver se isto passa da melhor forma, disponibilizámo-nos para ajudar”, nota Viviana Pelágio, que diz ainda estar em contacto com a Câmara de Lisboa, a Ordem dos Médicos e o INEM para agilizar esta resposta. 

Eduardo Miranda tem-se desdobrado também em contactos com o Governo e com o Turismo de Portugal para dinamizar a iniciativa. A eles se juntou também um grupo de voluntários do sector tecnológico — o Tech4Covid19 —, que envolve 120 empresas e mais de 600 pessoas de diferentes áreas, e se encarregará de criar uma plataforma para cruzar a oferta de casas com a procura.

“É passar da ideia da boa vontade a fazermos isto de uma forma estruturada, profissional, com as regras que o momento exige. Estamos a ajudar a desenvolver os protocolos de limpeza e de acesso a candidaturas”, explica o presidente da ALEP.

Em breve, espera, através desta plataforma médicos e enfermeiros poderão pedir o acesso a uma das casas. Para já, não é ainda possível perceber quantos proprietários e quantas casas estão já disponíveis para os profissionais de saúde. 

A ALEP diz estar também em contacto com as câmaras municipais, que “têm demonstrado bastante interesse em colaborar”. 

No Porto, os contactos de hoteleiros e empresários com casas no alojamento local começaram a chegar à autarquia há alguns dias. Para organizar a oferta, o vereador com o pelouro da Economia e Turismo, Ricardo Valente, assumiu a coordenação da pasta. “Fizemos a arbitragem entre aquilo que é a hotelaria e o alojamento local que está a disponibilizar quartos para profissionais de saúde”, explica o autarca Rui Moreira.

Esse trabalho – como todas as medidas adoptadas pela autarquia no âmbito do combate ao coronavírus – está a ser articulado com as administrações dos hospitais da área, para que estes identifiquem quais os profissionais que pretendem beneficiar desta oferta. Em apenas dois dias, a base de dados já contava com 240 quartos, cerca de 110 vindos de dois hotéis e os restantes de alojamentos locais.

A onda de solidariedade estende-se também a outras geografias e ao próprio sector hoteleiro. Em Braga, a arquidiocese disponibiliza, a partir desta quarta-feira, o Hotel do Lago, no Santuário do Bom Jesus, para alojar quem trabalha nos hospitais da cidade. 

Em Santa Maria da Feira, o município negociou com quatro hotéis do concelho — Hotel Nova Cruz, Residencial dos Loios, Hostel da Praça e Hotel Pedra Bela — a disponibilização de quartos para descanso dos profissionais que precisem de estar perto do Hospital São Sebastião, sede do Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga, que serve cerca de 350 mil utentes. 

No total, na zona Norte, segundo contas feitas pela Lusa, vários hotéis da região têm disponíveis mais de 150 quartos para estes profissionais. 

Sector paralisado 

Nos destinos urbanos, como Lisboa e Porto, o sector do AL “está praticamente paralisado”, nota Eduardo Miranda. E a perspectiva de que esta situação se prolongue por meses é “assustadora”. “Muitos alojamentos têm o calendário fechado, nem aceitam reservas, o que representará nenhuma receita”, antecipa o responsável.

A situação ganha outra dimensão, se atentarmos no facto de o sector ser composto “essencialmente” — cerca de 75% — por empresários particulares. Por isso, Eduardo Miranda está preocupado pelo facto de estes empresários não estarem a ter uma protecção devida no rol de medidas que têm sido anunciadas pelo Governo na mitigação dos efeitos da pandemia na economia nacional. “Muitas das medidas não contemplam os particulares. Em termos de Segurança Social, estão altamente fragilizados”, nota o presidente da ALEP, pedindo mais atenção para os empresários do sector, que já concentra “quase 40% das dormidas” em Portugal. com Mariana Correia Pinto