Coronavírus: agricultor de Sabrosa teme o que aí vem, mas não vai parar
Devido ao novo coronavírus, Manuel Coelho prevê reduzir a produção de hortícolas em cerca de 30%.
O agricultor Manuel Coelho, de Sabrosa, garante que não vai parar o trabalho nas estufas, mas devido à apreensão provocada pela covid-19 e às quebras nas vendas prevê reduzir a produção de hortícolas em cerca de 30%.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O agricultor Manuel Coelho, de Sabrosa, garante que não vai parar o trabalho nas estufas, mas devido à apreensão provocada pela covid-19 e às quebras nas vendas prevê reduzir a produção de hortícolas em cerca de 30%.
“Parar está fora de questão, mas provavelmente vamos reduzir alguns 30%. Temos medo. Hoje qualquer produção fica caríssima, mais o custo da mão-de-obra, e se depois chegamos ao final e não vendermos é muito complicado”, afirmou o produtor nesta quarta-feira à agência Lusa.
Quando ainda se estava a reerguer do mau tempo que lhe destruiu estufas em Dezembro, surge agora mais esta “grande dificuldade” provocada pela pandemia causada pelo novo coronavírus. Conjuntamente com um sócio, Manuel Coelho explora estufas em Pinhão Cel, concelho de Sabrosa, e Folhadela e Constantim, em Vila Real.
Da terra colhem, nesta altura, couves, alfaces e alho-francês, que vendem para Vila Real, nomeadamente para as duas lojas que possuem no mercado municipal e duas grandes superfícies e ainda para Xinzo de Limia, em Espanha. O mercado espanhol representa cerca de 50% do mercado destes agricultores e o fecho das fronteiras fez soar os alarmes, embora os transportes de mercadorias ainda possam passar.
“As coisas já não estão a correr bem, temos duas lojas no mercado de Vila Real e as vendas caíram, esta semana não tivemos quase clientes nenhuns e o mais certo é aquilo fechar”, salientou. É do rendimento destas lojas, ressalvou, que “sai uma grande verba para o pagamento de pessoal”. Segundo referiu, nesta altura têm dez pessoas a trabalhar.
Por agora, ultima-se a preparação dos solos para as novas culturas como o tomate, feijão-verde, pimento, mas Manuel Coelho fala numa altura de “indecisão”. “Vamos apostar no que temos a certeza de que se irá vender, o resto é melhor não arriscar. Costumávamos plantar mais um bocadinho e depois até se vendia sempre”, referiu.
Os dois agricultores costumavam produzir à volta de 150 toneladas de hortícolas por ano. “Nós vivemos da campanha do Verão, entre Junho e o final de Outubro, se nessa altura não conseguirmos vender, é impossível aguentarmos os empregados”, afirmou.
Todos os dias têm sido diferentes, o Governo decreta medidas diariamente e, segundo este agricultor, “ninguém sabe muito bem o que aí vem ou quanto tempo a situação se vai manter”. “Ninguém vai passar fome, mas os produtos também podem não conseguir chegar ao consumidor final”, observou.
Manuel Coelho disse que já nem quer ver televisão ou ouvir notícias. “Fico com ansiedade, nervoso, sei lá como é que eu fico. A cada dia que passa é mais pessoal infectado”, sublinhou.
Em Quintã, Vila Pouca de Aguiar, Norberto Pires produz para uma grande superfície e disse à Lusa que a indicação que tem é a de manter a produção prevista de feijão-verde, pimento ou pepino. O plano foi estabelecido antes da crise provocada pelo novo coronavírus e, segundo o agricultor, vai manter-se. Por isso mesmo, os solos das estufas estão a ser preparados para as novas produções.