Coronavírus: governos forçados a subir a parada dos apoios para salvar a economia
Economias paradas, mercados assustados e bancos centrais com pouco poder de fogo levam a anúncios mais ambiciosos de medidas por parte dos governos. Esta quarta-feira é a vez de Portugal.
Os sinais cada vez mais evidentes de que a uma crise de saúde se deverá seguir uma crise económica grave, combinada com a incapacidade dos bancos centrais para só por si influenciar o sentimento nos mercados, estão finalmente a forçar os governos a subir a parada nos planos de estímulo que irão lançar às suas economias. EUA, Espanha e Reino Unido estão entre os países com novos planos anunciados nesta terça-feira. Em Portugal, o reforço do pacote de medidas anticrise económica deverá ser revelado nesta quarta-feira.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Os sinais cada vez mais evidentes de que a uma crise de saúde se deverá seguir uma crise económica grave, combinada com a incapacidade dos bancos centrais para só por si influenciar o sentimento nos mercados, estão finalmente a forçar os governos a subir a parada nos planos de estímulo que irão lançar às suas economias. EUA, Espanha e Reino Unido estão entre os países com novos planos anunciados nesta terça-feira. Em Portugal, o reforço do pacote de medidas anticrise económica deverá ser revelado nesta quarta-feira.
O número mais impressionante veio, como seria de esperar, da maior economia mundial. São 850 mil milhões de dólares (cerca de 775 mil milhões de euros, quase quatro vezes o PIB anual português), as verbas previstas no conjunto de medidas de combate ao impacto económico negativo do novo coronavírus anunciadas nesta terça-feira por Donald Trump na Casa Branca.
Após algumas semanas de hesitação, em que o Presidente norte-americano não pareceu totalmente convencido da dimensão do problema criado pela pandemia, as quedas a pique registadas em Wall Street, com uma perda nas últimas semanas de 30% do valor dos títulos da Bolsa de Nova Iorque, terá sido o sinal que faltava para a Administração Trump actuar de forma mais agressiva na frente económica.
O pacote de medidas tem uma dimensão semelhante à do plano lançado em 2009 por Barack Obama no auge da crise financeira internacional e terá como peça fundamental a entrega directa a cada cidadão norte-americano de um cheque com um valor ainda por definir.
A ideia inicial era realizar um corte dos impostos sobre o rendimento, algo que Donald Trump tem vindo a defender publicamente, mas esta solução tem a desvantagem de os seus efeitos serem sentidos de forma mais lenta.
Além disso, inclui um diferimento no pagamento de impostos pelas empresas e algumas das indústrias mais afectadas poderão receber ajudas directas. Um apoio de 50 mil milhões de dólares (uma parte através de alívios fiscais) às companhias aéreas é uma das possibilidades em cima da mesa.
O Presidente norte-americano afirmou, na conferência de imprensa de apresentação do plano, que “em vez de várias pequenas reuniões de dois em dois dias” decidiram agir “em grande”, mostrando confiança de que, “assim que o vírus desaparecer, a economia vai disparar outra vez”. O plano da Casa Branca terá agora de ser aprovado pelas duas câmaras do Congresso.
Na Europa, depois de o presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, ter dito na segunda-feira que os governos iriam injectar na economia um montante equivalente a 1% do PIB e garantir liquidez às empresas no valor de 10% do PIB, vários governos anunciaram reforços nos seus planos de apoio à actividade económica.
Em Espanha, Pedro Sánchez anunciou aquilo que descreveu como “a maior mobilização de recursos na história da democracia”. De acordo com as contas do presidente do Governo espanhol, o plano atinge os 200 mil milhões de euros, qualquer coisa como 20% do PIB espanhol.
No entanto, deste valor, metade corresponde à linha de garantias de crédito oferecidas pelo Estado para assegurar que os empréstimos chegam às empresas em dificuldades de tesouraria e que não existe um problema de liquidez na economia. São cem mil milhões de euros, 10% do PIB.
Depois, o plano lançado pelo executivo espanhol inclui mais 17 mil milhões de euros de injecção directa de fundos públicos na economia, através de medidas de apoio aos trabalhadores que vejam o seu trabalho suspenso, reforço dos serviços sociais e isenção temporária do pagamento de contribuições sociais. Os restantes 83 mil milhões de euros do plano têm de vir do sector privado.
Entre as medidas mais importantes anunciadas por Pedro Sánchez está uma moratória na amortização de empréstimos imobiliários ou no pagamento das contas de electricidade, água ou telecomunicações para aqueles cujo rendimento seja afectado pela crise. Dentro do Governo espanhol foi discutida uma medida do mesmo tipo para as rendas de casa, mas acabou por não se avançar nesse sentido.
No Reino Unido, também nesta terça-feira, o Governo decidiu avançar com medidas de apoio à economia que, disse o ministro das Finanças Rishi Sunak, irão dar aos britânicos “todos os meios para poderem enfrentar esta crise”.
A principal aposta é a criação de uma linha de crédito com garantias do Estado no valor de 330 mil milhões de libras (cerca de 360 mil milhões de euros), um valor que corresponde a 15% do PIB do Reino Unido. E, depois, mais 20 mil milhões de libras (cerca de 22 mil milhões de euros) em apoios directos aos trabalhadores e às empresas.
Outras potências europeias, como a Alemanha, França e Itália, têm apresentado, desde o final da semana passada, os seus planos de apoio à economia, não se excluindo contudo a hipótese de um reforço das medidas nos próximos dias.
Em Portugal, o Governo lançou no final da semana passada o seu plano de apoio à economia, com um valor global estimado pelo executivo em 2300 milhões de euros. Também aqui há uma distinção entre as medidas que representam apoios à liquidez através da criação de linhas de crédito apoiadas pelo Estado e medidas que implicam no imediato um aumento da despesa pública ou uma redução da receita, como, por exemplo, o pagamento de compensações aos trabalhadores que deixam de poder trabalhar.
Mário Centeno revelou, em declarações à Lusa, que o impacto orçamental das medidas era para já de 300 milhões de euros. Para chegar ao valor de 1% do PIB referido por Mário Centeno como presidente do Eurogrupo para a média da zona euro no que diz respeito a aumentos de despesa efectiva ou reduções de receita, seria preciso reforçar as medidas até a um montante próximo de 2000 milhões de euros. E, no que diz respeito ao apoio à liquidez, para chegar aos 10% do PIB teria de se chegar perto dos 20 mil milhões de euros.