Martim saiu do Brasil de avião e entrou em Portugal a pé
Do outro lado da fronteira, Martim procurou um táxi para percorrer os quilómetros que faltavam até ao pai. Ainda não foi suficiente. O carro deixou-o a um quilómetro de Portugal. A recta final da viagem percorreu-a a pé arrastando o trolley de viagem consigo. E assim chegou a Portugal.
Quando entrou no avião no Brasil, na segunda-feira, Martim Rodrigues, um jovem de 22 anos recém-licenciado em gestão hoteleira, perguntou se o voo dele de Madrid para Lisboa estaria assegurado. No fim de umas férias do outro lado do Atlântico, começava a ficar ansioso por regressar a casa. Asseguraram-lhe que sim.
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Quando entrou no avião no Brasil, na segunda-feira, Martim Rodrigues, um jovem de 22 anos recém-licenciado em gestão hoteleira, perguntou se o voo dele de Madrid para Lisboa estaria assegurado. No fim de umas férias do outro lado do Atlântico, começava a ficar ansioso por regressar a casa. Asseguraram-lhe que sim.
Mas quando Martim estava no ar, a situação no país mudou. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, anunciou que as ligações aéreas entre Portugal e Espanha seriam suspensas e que seriam impostas restrições nas fronteiras entre os dois países. Medidas tomadas para evitar a propagação do novo coronavírus, que cresce dos dois lados da fronteira.
Assim, quando aterrou em Madrid, na madrugada desta terça-feira, o voo de Martim para Lisboa tinha sido cancelado. A companhia aérea ofereceu, em alternativa, a possibilidade de viajar para outro país europeu ou um voucher para gastar em futuras viagens. Mas o rapaz queria era voltar para a família.
No aeroporto de Madrid, conta ao PÚBLICO, estava instalado o “pânico”. Sem querer esperar por outra solução, alugou um carro para ir até Badajoz, onde o pai iria buscá-lo.
Pai e filho partiram à mesma hora das cidades espanhola e portuguesa. Só que o pai ficou retido na fronteira em Caia, Elvas. Desde as 23h00 da noite anterior que brigadas da GNR e da Guardia Civil espanhola se tinham instalado nas fronteiras entre os dois países, permitindo a passagem apenas a veículos pesados de mercadorias e ligeiros se conduzidos por nacionais de regresso ao país ou pessoas com motivos profissionais ou de saúde para entrar no outro país.
Não era o caso de Luís Santos, 48 anos, mecânico de automóveis e pai de Martim. Foi na fronteira de Caia que o PÚBLICO encontrou este pai angustiado com o fecho das fronteiras. Luís estava preparado para a pandemia do coronavírus. Trazia uma máscara pendurada ao pescoço, luvas nas mãos e gel desinfectante junto ao cinzeiro do carro. Mas não compreendia o fecho das fronteiras. Explicou ao que ia à Guardia Civil, “Eles não foram sensíveis. Era uma estadia de um quarto de hora em Espanha”, queixa-se.
Do outro lado da fronteira, Martim procurou um táxi para percorrer os quilómetros que faltavam até ao pai. Ainda não foi suficiente. O carro deixou-o a um quilómetro de Portugal. A recta final da viagem percorreu-a a pé arrastando o trolley de viagem consigo. Ligou ao pai e, este, impaciente, partiu de carro à procura dele.
O reencontro deu-se por volta do meio-dia e meia, numa estrada secundária, sem GNR nem Guardia Civil. Só quando viu Martim é que Luís se acalmou. Parou o carro, dirigiu-se ao filho e ia para abraçá-lo mas este parou o movimento a tempo. “Não podemos, agora tem de ser com o cotovelo.”
É assim o amor em tempos de pandemia. Depois do toque de cotovelos, pai e filho entraram finalmente juntos no carro e Martim aproveitou para desinfectar as mãos.