Em clima de crise política, Brasil confirma primeiras mortes por coronavírus
Duas pessoas, um homem e uma mulher, morreram em São Paulo e no Rio. País regista mais de 300 casos de infecção, mas Bolsonaro continua a dizer que há “histeria” em torno da epidemia global.
O Brasil confirmou esta terça-feira as primeiras mortes de pessoas infectadas com o novo coronavírus. O Governo emitiu várias medidas para responder à emergência, incluindo o recurso à polícia para isolamento obrigatório.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Brasil confirmou esta terça-feira as primeiras mortes de pessoas infectadas com o novo coronavírus. O Governo emitiu várias medidas para responder à emergência, incluindo o recurso à polícia para isolamento obrigatório.
Logo de manhã foi confirmada a morte de um homem de 62 anos que tinha um historial clínico crítico, que incluía diabetes e hipertensão. Estava internado num hospital privado de São Paulo, mas não foi divulgado há quanto tempo tinha dado entrada nem se tinha estado em contacto com alguém infectado ou se tinha viajado. Ao fim do dia, foi revelada a morte de uma mulher de 63 anos em Miguel Pereira, um município no estado do Rio de Janeiro. A vítima foi infectada depois de ter entrado em contacto com a empregadora, que tinha regressado recentemente de uma viagem a Itália.
Ao todo, o Brasil conta já com 301 casos de infecção por covid-19, de acordo com as últimas informações reunidas pelas secretarias de Saúde dos estados. Praticamente metade das infecções, 152, foram registadas no estado de São Paulo, o mais populoso do país, com 44 milhões de habitantes. Permanecem 1777 casos suspeitos.
A cidade de São Paulo, uma metrópole de 12 milhões de habitantes, decretou esta terça-feira o estado de emergência, que permite a requisição civil de bens e serviços considerados fundamentais para combater a pandemia. A medida também prevê a suspensão de alguns serviços públicos que não sejam essenciais e a proibição de autorização de eventos com mais de 500 pessoas.
As escolas começaram a ser fechadas de forma gradual e espera-se que na próxima segunda-feira já não haja aulas nas redes públicas e particular. As principais universidades também suspenderam as actividades lectivas.
No Rio de Janeiro também estão a ser tomadas providências para evitar a propagação do coronavírus. O governador Wilson Witzel determinou o encerramento dos principais pontos turísticos da cidade, como o Pão de Açúcar ou o Cristo Redentor, durante pelo menos 15 dias. A frota de autocarros, metro e barcos foi reduzida para metade e em cima da mesa está a interdição das praias. Apesar do anúncio, durante o fim-de-semana, as praias cariocas estiveram cheias.
O Governo federal emitiu um decreto que prevê o recurso à polícia para obrigar pacientes infectados que se recusem a cumprir o isolamento. Em certos casos, poderá haver a instauração de processos criminais e até pena de prisão.
Foi também anunciado um pacote de medidas económicas de emergência no valor de 147,3 mil milhões de reais (26,7 mil milhões de euros) para diminuir o impacto da pandemia no Brasil. Entre elas está o adiantamento do pagamento de pensões, um reforço do Bolsa Família e a suspensão de cobrança de alguns impostos.
O Brasil continua a tentar sair de uma profunda crise económica que fez disparar o desemprego nos últimos anos. O ano de 2020 começou, no entanto, com uma desvalorização inédita do real (o dólar já supera a barreira histórica dos cinco reais) e com a bolsa a afundar, tendo já suspendido as transacções várias vezes nas últimas semanas.
Bolsonaro em negação
A epidemia global do coronavírus está a aprofundar a crise política entre o Presidente Jair Bolsonaro e os restantes poderes. O chefe de Estado tem desvalorizado a ameaça da pandemia e no domingo levou o seu desafio a um novo patamar ao participar numa manifestação em seu apoio em Brasília e a interagir com apoiantes. Numa hora, Bolsonaro manteve contacto físico com 272 pessoas, de acordo com a contabilização do jornal O Estado de São Paulo.
As acções de Bolsonaro contradizem todas as recomendações emitidas pelo Ministério da Saúde, que aconselha quem tenha regressado de viagens ao estrangeiro para que permaneça em isolamento durante 14 dias. Bolsonaro esteve nos EUA, numa viagem durante a qual vários elementos da sua comitiva foram infectados. O primeiro teste realizado por Bolsonaro deu negativo, mas há a expectativa de que volte a ser examinado.
Na segunda-feira, o Presidente justificou as suas acções, dizendo ter “obrigação moral” de cumprimentar os seus apoiantes. “Se eu me contaminei, a responsabilidade é minha”, afirmou Bolsonaro durante uma entrevista em que voltou a criticar a “histeria” em torno do coronavírus.
As críticas a Bolsonaro não param de aumentar. A deputada estadual Janaína Paschoal, que chegou a ser uma das suas principais apoiantes, disse que a atitude do Presidente é “inadmissível, injustificável e indefensável” e pediu o seu afastamento.
O deputado federal Alexandre Frota, outro antigo aliado de Bolsonaro, vai apresentar esta terça-feira um pedido de impugnação de mandato do Presidente, mas não revelou se se baseou no seu comportamento durante a epidemia.
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL, de esquerda radical) disse que pretende apresentar uma denúncia junto da Organização Mundial de Saúde por causa da conduta “extremamente grave e irresponsável” de Bolsonaro ao ter incentivado e participado nas manifestações de domingo.
- Descarregue a app do PÚBLICO, subscreva as nossas notificações
- Subscreva a nossa newsletter