Reféns na fronteira. O desespero de quem espera entre Portugal e Espanha
Impedidos de passar, muitos turistas estrangeiros desesperam. Apenas os camiões iam conseguindo passar. Toda a fronteira entre Portugal e Espanha está agora sob vigilância.
No posto de turismo de Caia, em Elvas, num largo parque de estacionamento vão-se acumulando os carros e autocaravanas de turistas que estavam em Portugal e querem voltar para casa. Desde as 23h00 que a fronteira espanhola está fechada para turistas e à hora de almoço já são umas dezenas de viaturas bloqueadas neste posto fronteiriço improvisado.
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No posto de turismo de Caia, em Elvas, num largo parque de estacionamento vão-se acumulando os carros e autocaravanas de turistas que estavam em Portugal e querem voltar para casa. Desde as 23h00 que a fronteira espanhola está fechada para turistas e à hora de almoço já são umas dezenas de viaturas bloqueadas neste posto fronteiriço improvisado.
Gérard Creuzê e a mulher Michelle, franceses reformados na casa dos 70, estavam no Algarve há dois meses. O parque de campismo onde estavam instalados fechou e por isso querem regressar a casa.
“Os parques em Portugal fecharam. Os espanhóis não querem que atravessemos o seu território. A proposta foi ficarmos neste parque de estacionamento. Sentimo-nos reféns. Afinal, estamos na Europa ou num país do terceiro mundo?”, questionam.
Noutra caravana, Robert e Mary Frazer, reformados escoceses, aguardam serenamente uma solução. Têm passagem no Eurotúnel marcada para daqui a uma semana e não querem perder a viagem. Robert, 72 anos, ex-administrativo do serviço nacional de saúde britânico, não compreende o que considera ser um fecho “cego” da fronteira. A informação que lhes foi dada é que poderão ter de esperar um mês até poderem voltar para casa. Têm condições para esperar, mas não percebem porquê.
Na zona Norte, a fronteira de Valença foi a que registou mais movimento no primeiro dia de encerramento. Até às 12h de terça-feira, as autoridades portuguesas tinham verificado mais de mil viaturas. A maioria era pesados de mercadorias, como explicou aos jornalistas António Lima, inspector-chefe do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).
“A cada viatura que passa é requisitada a identificação [do condutor e da carga]. Esta é uma zona industrial, o que faz com que existam muitos camiões com mercadorias e trabalhadores transfronteiriços”, explicou o responsável, justificando a elevada afluência de veículos.
Juntamente com o SEF, a Guarda Nacional Republicana (GNR) e as entidades de saúde colaboravam nestes controlos. Do lado espanhol, as operações estavam sob alçada da Guardia Civil. A meio da manhã as autoridades espanholas foram obrigadas a agilizar as verificações: por volta das 10h, a fila de camiões a aguardar vistoria para entrar em Espanha atingia já vários quilómetros, com tempos médios de espera a rondar os 60 minutos.
Num curto espaço de tempo, as centenas de camiões alinhados em fila tiveram autorização para entrar no país. As longas filas desapareceram e a calma voltou ao posto fronteiriço. Mas esta aceleração na fiscalização colocou em causa o protocolo de segurança na parte espanhola? O inspector-chefe do SEF, António Lima, preferiu não comentar a actuação das autoridades homólogas: “Essa é uma pergunta a que não vou poder responder. [No lado português] Estamos a tentar cumprir ao máximo o que nos foi estipulado.”
Apesar da fiscalização ser semelhante no conteúdo, podiam ser observadas algumas diferenças na actuação das duas forças da autoridade. Munidos de luvas e máscaras, as autoridades portuguesas faziam questão de manter a distância de precaução para os veículos. No lado espanhol, a Guardia Civil não tinha máscaras de protecção.
Em Vila Verde da Raia, no concelho de Chaves, a passagem terrestre para o país vizinho também foi encerrada. Ao que o PÚBLICO apurou, o fluxo de trânsito diminuiu face aos restantes dias da semana pelo facto de os habitantes estarem cientes destas restrições. Muitos costumam regularmente aproveitar o preço mais baixo dos combustíveis em Espanha para abastecerem as viaturas. Contudo, a partir desta terça-feira, tal deixou de ser possível com esta medida conjunta dos governos dos dois países. Os que tentaram, ainda assim, fazer a travessia, foram mandados regressar e impedidos de sair.
Também em Quintanilha, no concelho de Bragança, as operações decorreram com normalidade, confirmou o PÚBLICO junto de fonte da autarquia.
Tudo fechado
No sul do país, a fronteira que delimita a região alentejana e a região algarvia, foi encerrada nas localidades de Marvão, Caia, Vila Verde de Ficalho e Castro Marim. No entanto vários municípios decidiram encerrar mais passagens fronteiriças.
Assim, no norte alentejano, a Câmara de Portalegre procedeu ao corte da ligação entre a estrada municipal 1044 (Rabaça – S. Julião) e a Extremadura espanhola. A Câmara de Marvão interditou a circulação nos caminhos municipais Galegos/La Fontañera e São Julião/Codosera. Campo Maior fechou Ouguela/Albuquerque e Retiro/Badajoz e o município de Arronches encerrou o caminho municipal 1107, que liga a povoação de Parra à localidade espanhola de La Tojera, e Esperança/Toujeirinha. A interdição da circulação nos caminhos irá “vigorar por tempo indeterminado”.
A norte do distrito de Beja, a fronteira que liga Barrancos a Encinasola foi igualmente encerrada mas só depois do presidente da câmara, João Serranito, ter reunido com o alcaide de Paymogo para aplicar as decisões tomadas pelos dois governos.
A Câmara de Serpa após acordo com o alcaide de Paymogo (Espanha) encerrou ao trânsito às 14h30 desta segunda-feira, a estrada municipal 520, colocando blocos de betão à entrada da ponte construída pelos dois países para ligar São Marcos (Serpa) e Paymogo.
A ponte de Pomarão que faz a ligação entre Mértola e a povoação espanhola de El Granado, também foi encerrada. Para além deste ponto fronteiriço, foi interditado o acesso a Espanha pelo lugar conhecido de Volta Falsa, na Freguesia de Corte do Pinto.
As fronteiras de Vila Verde de Ficalho (Serpa) e Rosal de la Frontera e da Ponte Internacional do Baixo Guadiana, na ligação de Pomarão (Mértola) e o El Granado (Espanha) já estão a ser controladas por militares da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Guardia Civil (GC).
Para além destes pontos fronteiriços, existem outros locais de passagem, alguns deles formados pelas redes de contrabando que ao longo do século XX mantiveram o comércio clandestino entre os dois países ibéricos e que não estarão a ser controlados pelas autoridades dos dois países.
O encerramento das fronteiras estará em vigor até 15 de Abril, embora no dia 9 do próximo mês seja feita uma avaliação sobre a necessidade de prorrogar.
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