Coronavírus: mercados continuam a pressionar dívida portuguesa
Taxas de juro italianas, espanholas e portuguesas mantiveram esta terça-feira uma trajectória ascendente, registando os valores mais altos desde Maio do ano passado
Depois de no dia anterior ter subido pela primeira vez em dez meses para um valor acima de 1%, a taxa de juro da dívida portuguesa continuou na manhã desta terça-feira, 17 de Março, a agravar-se num movimento que é comum aos títulos obrigacionistas dos chamados países periféricos da zona euro.
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Depois de no dia anterior ter subido pela primeira vez em dez meses para um valor acima de 1%, a taxa de juro da dívida portuguesa continuou na manhã desta terça-feira, 17 de Março, a agravar-se num movimento que é comum aos títulos obrigacionistas dos chamados países periféricos da zona euro.
Ao meio dia desta terça-feira, a taxa de juro da dívida pública a dez anos era de 1,208%, uma subida face aos 1,064% com que tinha concluído a sessão do dia anterior. Na sexta-feira, as taxas estavam em 0,791%.
Esta subida acontece num cenário em que, nos mercados, os investidores revelam uma preocupação crescente em abandonar títulos que consideram de maior risco em troca por títulos normalmente vistos como totalmente seguros.
É por isso que, no mercado de dívida pública da zona euro, se tem assistido a um fenómeno que faz recordar, ainda que em menor escala, aquilo que sucedeu durante a crise da dívida soberana da zona euro: um alargamento considerável dos diferenciais entre as taxas de juro exigidas aos chamados países periféricos, como a Grécia, Itália, Espanha e Portugal, e os países do centro, como a Alemanha ou os Países Baixos.
No actual cenário entra ainda em equação a forma como cada país está a ser afectado pelo novo coronavírus, sendo que, nesta fase, o impacto está a ser mais forte em países como a Itália e a Espanha.
Em Espanha, as taxas subiram entre o final da semana passada e agora, de 0,633% para 0,996%. E em Itália, a subida no mesmo período foi de 1,805% para 2,397%
O alargamento dos spreads, especialmente em Itália, tem sido um motivo de preocupação crescente entre os responsáveis políticos europeus.
Na quinta-feira, contudo, foi precisamente a seguir à reunião do Banco Central Europeu, onde foi anunciado um ligeiro reforço do volume de compras de dívida por parte da autoridade monetária, que as taxas de juro subiram mais, em parte devido à declaração de Christine Lagarde, que defendeu não ser competência do BCE reduzir os spreads da dívida pública na zona euro.
Mais tarde, a presidente do BCE corrigiu essa afirmação. Mas o que é certo é que os títulos de dívida na zona euro, e em especial na Itália, continuam a ser colocados sob pressão. E, nos mercados, ouvem-se apelos a uma intervenção pública para controlar a situação.
“A Itália e outros membros da zona euro precisam de ser capazes de dar uma resposta orçamental à crise pagando um preço baixo. O BCE não pode continuar a deixar as coisas como estão”, afirmou ao Financial Times um responsável de uma empresa gestora de activos, a Vontobel Asset Management.
Na segunda-feira, a seguir à reunião do Eurogrupo onde se discutiram as respostas a dar pelos Governos à crise económica provocada pelo coronavírus, Mário Centeno garantiu que irá ser feito “tudo o que for preciso, e mais”, uma declaração a fazer lembrar a promessa que Mario Draghi fez em 2012 e que marcou a viragem da crise da dívida soberana da zona euro. Para já, contudo, as taxas de juro da dívida dos países periféricos continuam a subir.
Um teste importante ao ambiente que se vive no mercado da dívida da zona euro será feito quando começarem a ser divulgados, já no próximo mês, os indicadores económicos relativos ao mês de Março. Nessa altura, começará a ser possível estimar com mais certeza não só o efeito do vírus nas economias, mas também o impacto.
No caso de Portugal – que beneficia do facto de, ao contrário de outras crises, entrar nesta com uma situação orçamental equilibrada — está a ser assumido que a meta de excedente orçamental para 2020 está já comprometida. Esta segunda-feira, o primeiro-ministro, António Costa, disse, em entrevista à SIC, que, este ano, “muito provavelmente, já não haverá excedente orçamental”, salientando que o resultado nas contas públicas não é agora a preocupação mais importante.
Uma notícia favorável para Portugal veio do facto de a agência de notação financeira Standard & Poor's ter optado na sexta-feira por manter o rating português com uma perspectiva “positiva”.