Com abstenção recorde, a França foi votar mas não quer segunda volta das municipais

Toda a oposição, em coro, exige a Macron uma decisão rápida. Os partidos inclinam-se para que não se realize no próximo domingo o segundo turno das eleições municipais, em plena epidemia de coronavírus, criticando o faux pas do Presidente.

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A socialista Anne Hidalgo ficou bem à frente em Paris, na primeira volta das eleições municipais em França, com um resultado mais confortável (30,2%) em relação à republicana Rachida Dati (centro-direita, 22%). Mas na sua declaração de vitória, exigiu ao Governo que esclareça quais “as medidas complementares indispensáveis para proteger os franceses”, pensando na segunda volta prevista para o próximo domingo e que toda a oposição, da extrema-esquerda à extrema-direita, está a pedir que não se realize, por causa da epidemia de coronavírus.

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A socialista Anne Hidalgo ficou bem à frente em Paris, na primeira volta das eleições municipais em França, com um resultado mais confortável (30,2%) em relação à republicana Rachida Dati (centro-direita, 22%). Mas na sua declaração de vitória, exigiu ao Governo que esclareça quais “as medidas complementares indispensáveis para proteger os franceses”, pensando na segunda volta prevista para o próximo domingo e que toda a oposição, da extrema-esquerda à extrema-direita, está a pedir que não se realize, por causa da epidemia de coronavírus.

Este domingo foram batidos recordes de abstenção para eleições municipais em França, com valores a rondar os 54%. O número de mortos devido ao novo coronavírus atingiu 120, e o número de casos 5400 – mais 900 num único dia. É o maior aumento do número de casos e de mortes desde que a doença chegou a França. “Num país visceralmente ligado ao poder das maiorias, uma participação de menos de 50% é extremamente simbólica”, comentou ao Le Monde Martial Foucault”, director do Centro de Pesquisas Políticas do instituto Sciences Po.

O Governo vai reunir um grupo de cientistas para avaliar “a oportunidade da realização da segunda volta”, anunciou na televisão France 2 o ministro da Saúde, Olivier Véran, e “sem dúvida na terça-feira” haverá uma decisão, garantiu.

O problema é que se a segunda volta não for feita no prazo previsto, os resultados da primeira perdem efeito. Seria preciso recomeçar tudo do princípio. E seria preciso reunir o Parlamento para prolongar os mandatos dos conselheiros municipais, que expiram a 31 de Março, diz o Le Monde – uma grande trapalhada, causada pela decisão de Macron de manter a manter a data das eleições neste domingo.

O Presidente Macron terá dado um passo em falso ao ceder à pressão de líderes políticos, nomeadamente da direita tradicional, contrapondo-a às opiniões dos cientistas, revelaram vários artigos saídos na imprensa desde quinta-feira. Face à barragem de críticas que recebeu por essa decisão, que vai em contramão com as medidas cada vez mais restritivas para conter a progressão das infecções, poderá agora pensar em seguir outro rumo.

Os presidentes de câmara eleitos pelo partido de extrema-direita de Marine Le Pen em 2014 parecem ter uma boa eleição, nestas condições difíceis, e estar a ser reeleitos. E Louis Aliot, candidato da União Nacional por Perpignan, conseguiu desta vez ser eleito presidente da câmara, com 36,5% dos votos – e uma abstenção que se elevou a 60,2%.

A Europa Ecologia-Os Verdes parece destinada a um bom resultado eleitoral, como se antecipava. Os seus candidatos estão à frente em várias grandes cidades: Lyon, Grenoble, Estrasburgo e Bordéus, embora precisem de disputar uma segunda volta. Isso não impediu o líder dos ecologistas, Yannick Jadot, de ser dos primeiros a exigir a Macron “pôr à frente de tudo a saúde dos franceses”, e reunir já esta segunda-feira os representantes das forças políticas para tirar todas as consequências da primeira volta.

“Porquê convocar uma primeira volta quando se sabia que não haveria uma segunda volta?”, interrogou por seu turno o primeiro secretário do Partido Socialista. Marine Le Pen é taxativa: “A segunda volta não terá lugar”, dada a evolução da epidemia de coronavírus, e os resultados da primeira devem simplesmente ser validados como definitivos.