Coronavírus: Estivadores alertam para falta de segurança nas descargas de navios

A ausência de normas de procedimentos estende-se a todos os portos nacionais. A situação no Porto de Lisboa “é mais grave pelo facto de os estivadores estarem em greve, a cumprir serviços mínimos e com salários por receber”.

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Daniel Rocha

Entrar a bordo de um navio que atraca num porto português para proceder à sua descarga “é o mesmo que atravessar as fronteiras de vários países”. É por isso que quem faz esse trabalho, os estivadores, não compreende porque é que não estão a ser tomadas medidas preventivas que os protejam da pandemia do novo coronavírus, mais ainda agora que está declarado o estado de alerta nacional.

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Entrar a bordo de um navio que atraca num porto português para proceder à sua descarga “é o mesmo que atravessar as fronteiras de vários países”. É por isso que quem faz esse trabalho, os estivadores, não compreende porque é que não estão a ser tomadas medidas preventivas que os protejam da pandemia do novo coronavírus, mais ainda agora que está declarado o estado de alerta nacional.

“Os estivadores sobem a bordo dos navios todos os dias e lidam com tripulações que são substituídas em qualquer porto de escala das viagens em curso. Imagino um navio que sai da China. Pode-se pensar que demora quatro semanas a cá chegar, não há perigo de haver contaminação. Mas isso não é verdade. O navio pára antes em portos de Itália, ou em Gibraltar, por exemplo, e não há controlo nenhum”, alerta António Mariano, presidente do Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística, que diz que “não é possível, neste momento, saber se algum tripulante já contaminou algum estivador e se este, por sua vez, não terá também já contaminado companheiros de profissão, familiares, ou terceiras pessoas com quem contactou”.

António Mariano dá o exemplo do porto de Sines, onde existe uma enorme quantidade de carga com origem em portos de países de risco, nomeadamente chineses, e com escala noutros portos potencialmente comprometidos, para se referir ao facto de os elementos da Polícia Marítima que sobem a bordo dos navios usarem máscaras e luvas de protecção. “Enquanto um estivador pode trabalhar nos mesmos locais, sem que lhe seja facultado qualquer meio de protecção individual similar”, alerta Mariano.

O presidente do SEAL garante que os estivadores tentaram alertar os operadores que os contratam, a câmara municipal de Sines e o delegado da direcção regional de saúde de Sines, mas ainda sem efeitos práticos.

A ausência de indicações concretas e de normas de procedimentos estende-se a todos os portos nacionais. E, para António Mariano, a situação no Porto de Lisboa é ainda mais grave pelo facto de os estivadores estarem em greve, a cumprir serviços mínimos e com salários por receber.

Os estivadores do porto de Lisboa estão em greve geral desde segunda-feira, e, segundo António Mariano, têm efectuado os serviços mínimos que, por sugestão do SEAL, englobam todos os serviços de ligação às regiões autónomas. “Mas continuamos com salários em atraso, com os estivadores a serem assediados para integrarem outras empresas criadas ao lado e no governo ninguém se importa”, acusou.

Na próxima terça-feira, dia 17, os representantes dos estivadores e dos operadores portuários vão ser ouvidos na Assembleia da República, numa audição conjunta das Comissões Parlamentares da Economia e do Trabalho.