“Hoje não está cá ninguém”: escolas de Alvalade já estão a meio-gás

Se Alvalade, talvez o bairro de Lisboa com mais concentração de escolas, serve de amostra para a cidade, as escolas estão esta sexta-feira a antecipar os efeitos das medidas decretadas pelo Governo para a próxima semana.

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daniel rocha

A aula de Filosofia era a primeira da manhã, mas às 8h20, Fred e quatro amigos já estavam no snack-bar Comidinhas, em frente à Escola Secundária Padre António Vieira, no bairro lisboeta de Alvalade. “A professora decidiu não dar aula porque só lá estávamos nós”, relata, enquanto um colega ataca um croissant e comenta: “Hoje não está quase ninguém na escola.”

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A aula de Filosofia era a primeira da manhã, mas às 8h20, Fred e quatro amigos já estavam no snack-bar Comidinhas, em frente à Escola Secundária Padre António Vieira, no bairro lisboeta de Alvalade. “A professora decidiu não dar aula porque só lá estávamos nós”, relata, enquanto um colega ataca um croissant e comenta: “Hoje não está quase ninguém na escola.”

O trânsito parece comprová-lo. Alguns carros aproximam-se da escola para largar alunos e, pouco depois, é vê-los voltar para trás. “Não temos aula”, diz Beatriz à amiga Bruna depois de ter ido lá dentro ver como paravam as coisas. As duas alunas do 11º ano tinham aula de Geografia, mas a turma está tão rarefeita que a decisão da professora foi igual à da sua colega de Filosofia.

Beatriz, Bruna e outra Beatriz contam que desde quinta-feira que se nota uma mudança na Padre António Vieira, escola do 3º ciclo e Secundário que é sede do Agrupamento de Escolas de Alvalade. “Ontem a sala tinha cinco pessoas. Isto está vazio”, diz Bruna. “Esta professora já nem estava a marcar faltas para quem não veio”, acrescenta uma das colegas.

Perto dali, na Escola Básica São João de Brito, Gonçalo aguarda com o filho de 8 anos que as portas abram. É o único que por ali está, o que até nem é muito estranho porque a maioria dos pais só começa a aparecer entre as 8h45 e as 9h. Chegado esse momento, a sua desconfiança confirma-se: há muito menos gente.

Para este pai, cujo filho frequenta o 2º ano, ainda há várias perguntas por responder, mas não está preocupado com o que vai acontecer a partir de segunda-feira, altura em que as escolas, creches e ATL fecham e as crianças têm de ir para casa. “Eu concordo que tinha de se fazer alguma coisa. Isto ainda é tudo muito recente, mas acredito que haja disponibilidade das empresas para se trabalhar a partir de casa”, opina Gonçalo.

No seu caso e no da mulher, ambos comerciais, não terão problemas em trabalhar à distância, assim a empresa o permita. E isso evitaria que um deles tivesse de meter baixa para acompanhar o filho, o que, de acordo com o que o Governo anunciou, implica uma perda de ordenado a rondar os 40%. Gonçalo até perspectiva que o teletrabalho se torne uma tendência: “É uma realidade que agora é obrigada a entrar e que depois vai ficar.”

Descendo um pouco a rua, a auxiliar que vigia a porta da escola nota bem a diferença. “Muito menos, talvez uns 30% dos meninos do que é hábito. A esta hora ali em cima o trânsito costuma ser uma loucura e hoje está tudo parado”, afirma. Uma mãe que assiste à conversa, para quem há algum exagero no encerramento das escolas decretado, desabafa: “Quero ver como vou fazer com a miúda…”

Na Escola Básica dos Coruchéus, noutro ponto de Alvalade, a afluência também foi mais baixa do que nos dias anteriores e vários pais disseram às funcionárias que iriam buscar os filhos à hora de almoço. Por aqui, as auxiliares interrogam-se se, sem alunos, terão de vir trabalhar na segunda-feira. Segundo o ministro da Educação, sim.