Câmara do Porto pára “tudo o que pode parar” e pondera “importar ventiladores” da China
Parques públicos e serviços municipais vão fechar. Rui Moreira pede a portuenses para circularem o mínimo possível e reduzirem o convívio social. Câmara do Porto está em conversações com Macau e Shenzhen e pondera importar equipamentos médicos
O despacho está publicado e a estratégia é clara: a Câmara do Porto vai parar “tudo o que pode parar” e desincentiva a “circulação e o convívio social”, de forma a reduzir “os contactos que são a fonte de contágio” da Covid-19. As medidas entram em vigor já este sábado e prolongam-se, pelo menos, até 9 de Abril. Os parques públicos murados da cidade (Palácio de Cristal, São Roque, São Lázaro, Covelo, Bonjóia, Pasteleira e Virtudes) vão ser encerrados, os parques infantis interditos, os serviços municipais passam a ter apenas atendimento virtual e por telefone e os parquímetros explorados directamente pela autarquia vão ser suspensos. Os lugares públicos geridos pela empresa EPorto deixarão também de ser pagos a partir desta segunda-feira, dia 16. Disponível fica a “distribuição das refeições escolares, num sistema diferente e que assegura melhor a distância social”, bem como o funcionamento dos restaurantes solidários.
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O despacho está publicado e a estratégia é clara: a Câmara do Porto vai parar “tudo o que pode parar” e desincentiva a “circulação e o convívio social”, de forma a reduzir “os contactos que são a fonte de contágio” da Covid-19. As medidas entram em vigor já este sábado e prolongam-se, pelo menos, até 9 de Abril. Os parques públicos murados da cidade (Palácio de Cristal, São Roque, São Lázaro, Covelo, Bonjóia, Pasteleira e Virtudes) vão ser encerrados, os parques infantis interditos, os serviços municipais passam a ter apenas atendimento virtual e por telefone e os parquímetros explorados directamente pela autarquia vão ser suspensos. Os lugares públicos geridos pela empresa EPorto deixarão também de ser pagos a partir desta segunda-feira, dia 16. Disponível fica a “distribuição das refeições escolares, num sistema diferente e que assegura melhor a distância social”, bem como o funcionamento dos restaurantes solidários.
Estas “medidas mais musculadas” vêm juntar-se a outras já anunciadas no início desta semana e que passaram pela suspensão de todos os eventos promovidos pelo município nos seus equipamentos, como o Teatro Municipal do Porto ou a galeria municipal, e também o encerramento de museus e bibliotecas municipais bem como piscinas públicas, o Pavilhão da Água, centros de educação ambiental, actividades desportivas promovidas em recintos fechados e o campo de férias de Páscoa “Missão Férias@Porto”.
Agora, chegou a hora de “ir mais longe, tomando medidas mais severas, sempre com o mesmo sentido de limitar os contágios potenciais”, afirma Rui Moreira, num comunicado gravado em vídeo e disponibilizado no site da autarquia. "Estas medidas são também tomadas no Porto tendo em conta a realidade que percepcionamos nos nossos gabinetes, na forma como os nossos trabalhadores estão a enfrentar a ameaça e no alarme público que a cidade portuguesa que é o epicentro da crise está a viver.”
Com excepção de alguns serviços mínimos, “como os da Protecção Civil e outros tipos de respostas fundamentais”, a câmara vai dispensar todos os trabalhadores que possa, ficando parte deles “vinculados ao teletrabalho ou à disponibilidade de contacto telefónico”. Em tarefas onde o teletrabalho não é possível e os trabalhadores são indispensáveis, a autarquia optou por promover “medidas de rotatividade e/ou desfasamento de horário”.
Quem cumprir as suas funções à distância, manterá “todas as suas regalias sociais e vencimento”, salvaguarda o autarca: “É também uma forma de resolver o problema criado pelo encerramento das escolas e assegurar que não é motivo para que os seus filhos fiquem desacompanhados ou tenham que ser entregues a um ATL ou aos avós.”
Apesar de o despacho não fazer referência à suspensão de despejos, fonte da Câmara do Porto garantiu ao PÚBLICO que nenhuma família será sujeita a qualquer acção de despejo neste período. “Nem faz sentido colocar essa questão”, disse, garantindo que o incentivo é agora para as pessoas permanecerem em casa o mais possível. Em Lisboa, ainda na manhã desta sexta-feira, houve despejos no bairro Alfredo Bensaúde, nos Olivais.
Esta quinta-feira, a Santa Casa da Misericórdia do Porto e o executivo de Rui Moreira tinham já anunciado uma parceria para dar resposta à população mais fragilizada, nomeadamente aqueles que dormem nas ruas, que no Porto são pelo menos 560: no Hospital Joaquim Urbano foi criada uma reserva de dez camas para acolher situações de quarentena.
Laboratórios privados e China
Rui Moreira estabeleceu já contacto com “laboratórios privados” que se mostraram disponíveis para “montar um sistema de rastreio público”. Mas tal “apenas acontecerá se e nas condições que as autoridades de saúde vierem a aprovar”, informa. A ideia é “aumentar a percentagem de população testada e, simultaneamente, evitar que muita gente recorra às saturadas unidades de saúde”.
Os “parceiros” da Câmara do Porto na China, nomeadamente em Macau e em Shenzhen, foram também contactados pelo autarca portuense. “A ideia é podermos importar de Shenzhen equipamentos essenciais para acudir aos infectados em situação aguda, como é o caso de ventiladores que são produzidos naquela cidade chinesa e com certificado europeu”, explica, dizendo que tal está a ser feito em articulação com a administração do Hospital de São João do Porto e com a ARS Norte.
Para os profissionais de saúde, Rui Moreira deixou a primeira palavra da sua declaração, elogiando os “dois extraordinários hospitais" públicos da cidade que estão a receber doentes. “São pessoas que literalmente arriscam a sua saúde pela nossa e a quem devemos um enorme respeito e, sobretudo, obediência relativamente àquilo que são os seus conselhos e determinações.”
Dirigindo-se, por fim, aos portuenses, Rui Moreira termina pedindo-lhes para não descurarem o seu papel no combate à propagação do coronavírus. “A situação irá agravar-se nos próximos dias. Está na nossa mão, na vossa mão, atenuar a situação e a propagação da doença.”
Praias interditas, cultura de portas fechadas
Também as praias do Porto, assim como as de Matosinhos, Vila Nova de Gaia e Espinho, estão interditas à prática de qualquer actividade desportiva ou de lazer. O objectivo, disse o capitão dos Portos do Douro e Leixões, Cruz Martins, à Agência Lusa, é evitar “aglomerados de pessoas” nos areais. “É importante seguirem as recomendações e ficarem em casa”, disse.
Várias instituições culturais (e turísticas) da cidade tinham já decretado o encerramento da actividade. A Casa da Música, a Fundação de Serralves, a Irmandade dos Clérigos (que recebe na torre e na igreja cerca de três mil pessoas por dia), a Livraria Lello, o Museu da Misericórdia do Porto, o Museu do Futebol Clube do Porto, o Palácio da Bolsa e o Super Bock Arena - Pavilhão Rosa Mota concertaram medidas e, pelo menos até ao dia 3 de Abril, estarão de portas fechadas.
“É a decisão mais responsável a tomar no actual contexto, tendo em conta a situação de prevenção e de contenção da propagação do novo coronavírus”, explicaram num comunicado conjunto, considerando estar a pôr “em primeiro lugar a cidade, os seus habitantes e seus visitantes, e o território”.
O Teatro Nacional de São João, à semelhança do D. Maria, em Lisboa, cancelou todos os espectáculos até ao dia 6 de Abril. Quem tiver adquirido bilhetes, pode entrar em contacto com os serviços do teatro através do número grátis 800 10 8675 ou do e-mail bilheteira@tnsj.pt para pedir o reembolso ou fazer um reagendamento. Também o único cinema da cidade fora de centros comerciais, o Trindade, anunciou o encerramento até dia 3 de Abril.
O Norte de Portugal continua a concentrar o maior número de casos a nível nacional, com 53 dos 112 registados na manhã desta sexta-feira. Há ainda 1308 casos suspeitos e 172 pessoas à espera dos resultados laboratoriais dos serviços de saúde.