Concertos para bebés vão ser transmitidos online para procurar “formas alternativas de estar no mundo”
A companhia Musicalmente, que organiza concertos para bebés há mais de 20 anos, decidiu adaptar-se à nova realidade e transmitir online já o primeiro concerto este domingo. Porque a música pode ser uma terapia.
Tal como outros criadores artísticos, Paulo Lameiro, fundador e director artístico da companhia Musicalmente, está a sofrer os impactos provocados pela pandemia de covid-19. “Tivemos de cortar com os solistas convidados para os próximos três meses. Estamos também a reajustar a equipa interna e a cancelar actividades que não sejam necessárias implementar”, explica ao PÚBLICO.
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Tal como outros criadores artísticos, Paulo Lameiro, fundador e director artístico da companhia Musicalmente, está a sofrer os impactos provocados pela pandemia de covid-19. “Tivemos de cortar com os solistas convidados para os próximos três meses. Estamos também a reajustar a equipa interna e a cancelar actividades que não sejam necessárias implementar”, explica ao PÚBLICO.
Mas perante a necessidade de cancelar os Concertos para Bebés, que estavam agendados para Leiria, Marinha Grande, Coimbra e Sintra, decidiram fazer mais do que apenas reembolsar o valor dos bilhetes. “Quisemos explorar outras formas de interacção com o público”, conta. “Não sabemos se isto é passageiro.” Com a contenção nos contactos recomendada pela Direcção-Geral de Saúde e com a decisão dos fechos das escolas já a partir da próxima segunda-feira, muitas famílias estarão em casa numa rotina muito diferente da habitual. “As famílias estão em casa, e vão estar durante algum tempo, e nós sabemos como estes concertos podem ser importantes para quebrar a rotina, enriquecer as interacções familiares”, explica o director artístico da companhia.
Por isso decidiram não apenas fazer a transmissão online dos concertos — gratuito, sem necessidade de compra de bilhete —, mas criar um modelo diferente de concerto. “Os nossos concertos são acústicos, com muita proximidade com o público. O essencial do concerto não vai poder estar lá.” Habitualmente, os bebés podem circular pela sala do espectáculo e interagir com músicos e instrumentos. Agora, serão as próprias casas dos espectadores a sala de concertos. Os pais podem inscrever os bebés dos 0 aos 5 anos, mas neste caso, após a inscrição, vão receber via e-mail indicações sobre o setting — o contexto a criar no espaço de casa, como as luzes e materiais a ter à mão que sirvam de instrumento. “Serão os pais a tocar alguns instrumentos, nós vamos ser indutores de uma relação musical que acontece nas casas de cada família”, acrescenta Paulo Lameiro.
O concerto, intitulado “Bebés em transe”, acontecerá a partir da sala de ensaios da companhia em Pousos, Leiria, com os figurinos e oito intérpretes habituais, e com o solista convidado, Daniel Reis, que toca hang (um instrumento da família dos idiofones). O concerto será gravado para que possa ser disponibilizado mais tarde e a companhia está a preparar materiais para ir partilhando com as famílias. Sobretudo com aquelas que, dizem, os seguem e acompanham há vários anos. “Sabemos que alguns instrumentos e modelos musicais são muito importantes, abrem para formas alternativas de estar no mundo, a capacidade de nos transportarmos para outras dimensões e outras formas de estar com o outro”, explica o director artístico. Pode ser uma terapia? “Sim, a música é fenómeno vibratório, actua sobre tudo o que é matéria”, conclui.