Coronavírus: chegou o momento de ir mais longe
Há um inimigo declarado que é preciso eliminar. E é assim que temos de encarar os próximos dias.
Quem hoje ao final da tarde fosse a um supermercado perceberia que os portugueses, limpando as prateleiras de alimentos, já interiorizaram a gravidade da crise provocada pela covid-19. No entanto, quem na mesma tarde tivesse passado pela linha de Cascais, e olhado para as praias cheias de banhistas em Março, também entenderia que há muitos outros a não querer entender a natureza do problema que vive o país e o mundo. É preciso ser claro: o açambarcamento é errado, mas o instinto dos primeiros é muito mais correcto do que a displicência dos segundos.
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Quem hoje ao final da tarde fosse a um supermercado perceberia que os portugueses, limpando as prateleiras de alimentos, já interiorizaram a gravidade da crise provocada pela covid-19. No entanto, quem na mesma tarde tivesse passado pela linha de Cascais, e olhado para as praias cheias de banhistas em Março, também entenderia que há muitos outros a não querer entender a natureza do problema que vive o país e o mundo. É preciso ser claro: o açambarcamento é errado, mas o instinto dos primeiros é muito mais correcto do que a displicência dos segundos.
Ao longo das últimas semanas, temos visto a mancha do vírus a alastrar-se pelo mundo, o número de contágios e de mortos a aumentar imparável, até ultrapassar os cem mil infectados. A resposta da maioria dos países foi tentar o difícil exercício de equilíbrio entre os custos que podem representar medidas que paralisem a actividade económica e cívica e a necessidade de tentar suster ao máximo as probabilidades de contágio.
Portugal não foi diferente. Seguimos os passos dos conselhos, dos avisos às populações, de procurar isolar as cadeias de contágio, de preparar meios clínicos, de fechar instituições, até de tentar isolar localidades onde irromperam surtos mais significativos. Pelo caminho houve hesitações, declarações contraditórias, quem se adiantasse às medidas das autoridades nacionais, o que não estando isento de críticas não deixa de ser natural, porque ninguém tem um manual escrito para uma situação desta dimensão.
É chegado o momento de ir mais longe, muito mais longe. O exemplo de descontrolo de Itália, onde foram tentadas medidas mitigadoras antes de chegar à quarenta de toda a população, em contraste com o que aconteceu em Macau, onde medidas de isolamento total redundaram em fraquíssimas taxas de infecção, tem de servir de ensinamento.
Paralisar um país nunca será uma medida fácil, mas permitir que o SNS entre em total ruptura, perante o aumento previsível de casos, conduzirá a prejuízos muito semelhantes e, mais importante do que isso, a uma perda de vidas que poderia ser evitada.
Há um inimigo declarado que é preciso eliminar. E é assim que temos de encarar os próximos dias, como um conflito em larga escala contra o vírus, com todas as medidas excepcionais que são justificadas pela situação extraordinária que vivemos, adoptando medidas mais alargadas. Possa cada um dos portugueses, o seu Governo e as autoridades sanitárias estar à altura dos tempos difíceis que são já a realidade de hoje.