Ainda à espera de mais medidas dos governos, BCE obrigado a agir
Mantém-se as dúvidas sobre a capacidade de a Europa reagir a uma nova crise económica, com os olhos a virarem-se esta quinta-feira para o suspeito do costume: o banco central, agora liderado por Christine Lagarde.
Depois de Bruxelas ter anunciado um pacote orçamental de apoio à economia que em pouco supera os 0,1% do PIB da União Europeia (UE), as esperanças de que, no combate ao risco de crise económica grave trazido pelo novo coronavírus, a Europa opte desta vez por uma acção mais decidida viram-se agora para Frankfurt e Berlim.
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Depois de Bruxelas ter anunciado um pacote orçamental de apoio à economia que em pouco supera os 0,1% do PIB da União Europeia (UE), as esperanças de que, no combate ao risco de crise económica grave trazido pelo novo coronavírus, a Europa opte desta vez por uma acção mais decidida viram-se agora para Frankfurt e Berlim.
Em Frankfurt, o Banco Central Europeu (BCE) irá esta quinta-feira revelar quais as medidas que pretende tomar como resposta ao impacto económico do vírus. Será o primeiro grande teste à liderança de Christine Lagarde que, para além de lidar com as habituais divergências dentro do conselho de governadores do banco, foi colocada sob pressão pelos seus homólogos dos EUA e do Reino Unido.
Antes de o BCE agir, a Reserva Federal norte-americana (na semana passada) e o Banco de Inglaterra (esta quarta-feira) anunciaram descidas das taxas de juro de meio ponto percentual, como resposta preventiva ao efeito recessivo que se espera na economia.
Para o BCE, o problema é que uma medida desse tipo não é sequer uma opção. A taxa de juro de refinanciamento da autoridade monetária europeia já está a zero e a taxa de juro de depósito (que serve para incentivar os bancos comerciais a reduzirem as suas reservas) já está em -0,5%.
Uma das hipóteses que tem sido falada como medida a tomar pelo BCE esta quinta-feira é uma nova descida da taxa de juro de depósito, mas a acontecer, não será de mais de 0,1 pontos percentuais, e o seu efeito será sempre relativamente reduzido.
Lagarde vê-se assim forçada a encontrar outras formas de ajudar a economia. Um dos cenários vistos como mais prováveis é um reforço dos empréstimos de longo prazo à taxa fixa (e muito baixa) que o banco central concede aos bancos centrais da zona euro. Isso constituiria um conforto para o sector bancário da zona euro, assegurando-lhes um acesso alargado a financiamento, numa altura em que voltam a ser colocados sob pressão por uma deterioração séria da conjuntura.
Outra hipótese passa pela introdução de alterações no programa de compra de dívida actualmente em vigor. Um aumento das compras mensais parece pouco provável, tendo em conta a oposição que alguns membros do BCE revelaram quando as compras foram relançadas por Mario Draghi, mas é possível que as compras de obrigações empresariais sejam reforçadas e que sejam dados sinais de que países particularmente afectados, como a Itália, possam vir a beneficiar de mais compras.
De qualquer forma, começa a ser cada vez mais evidente que o BCE, ao contrário do que aconteceu na crise anterior, não tem agora o mesmo espaço de manobra para agir. E, por isso, não surpreende a forma cada vez mais agressiva com que Christine Lagarde apela aos governos da zona euro para que sejam eles a injectar estímulos à economia, através da política orçamental.
De acordo com a agência de notícias Bloomberg, na reunião de líderes europeus realizada na terça-feira por videoconferência, a presidente do BCE, também presente, alertou que “iremos ver um cenário que irá lembrar a muitos de nós a grande crise financeira de 2008” se não houver uma acção coordenada a nível europeu na resposta à crise.
A resposta vinda de Bruxelas um pouco mais tarde, através da Comissão Europeia, com o plano de 25 mil milhões de euros até pode ser um sinal de que há vontade de agir, mas o valor (pouco mais de 0,1% do PIB da UE) revela a limitação de uma política de estímulos feita com base no limitado orçamento conjunto europeu.
A palavra é assim dos Estados. E a este nível, as atenções viram-se essencialmente para a Alemanha. Para já, de Berlim, as medidas divulgadas são de reduzida dimensão, com apoios anunciados às empresas e aos trabalhadores e um reforço do investimento público realizado a quatro anos, no montante de 12 mil milhões de euros.
No entanto, as declarações realizadas esta quarta-feira por Angela Merkel deram alguma esperança de que se possa assistir a um novo impulso na política orçamental na maior economia europeia. A chanceler deixou aberta a possibilidade de o país abandonar, de forma excepcional, a regra de défice zero que tem vindo a seguir de forma rigorosa nos últimos anos, afirmando que se está a passar por uma situação “extraordinária” e que a prioridade agora é o combate aos efeitos do coronavírus.
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