Coronavírus: TAP atingida em cheio pelo bloqueio de Trump

Companhia aérea portuguesa tem 49 voos de ligação aos EUA por semana, à frente da SATA, United e Delta. Companhias afundaram em bolsa e associação do sector pede “medidas de emergência para atravessar esta crise”.

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EUA são o terceiro maior mercado da TAP REUTERS/Regis Duvignau

Até aqui, o mercado norte-americano estava a dar apenas notícias positivas à TAP, mas a partir desta sexta-feira, e pelo menos durante trinta dias, tornou-se parte do problema. Com 49 voos semanais activos, a TAP é, de longe, a companhia que mais perde em Portugal com a decisão tomada pelo presidente dos EUA: Donald Trump comunicou a proibição de entrada no país, a partir da meia-noite de sexta-feira, a quem tenha estado nos últimos 14 dias num dos 26 países europeus que fazem parte do espaço Schengen – excluindo os cidadãos dos EUA, num gesto semelhante ao que tinha tomado em relação à China e ao Irão.

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Até aqui, o mercado norte-americano estava a dar apenas notícias positivas à TAP, mas a partir desta sexta-feira, e pelo menos durante trinta dias, tornou-se parte do problema. Com 49 voos semanais activos, a TAP é, de longe, a companhia que mais perde em Portugal com a decisão tomada pelo presidente dos EUA: Donald Trump comunicou a proibição de entrada no país, a partir da meia-noite de sexta-feira, a quem tenha estado nos últimos 14 dias num dos 26 países europeus que fazem parte do espaço Schengen – excluindo os cidadãos dos EUA, num gesto semelhante ao que tinha tomado em relação à China e ao Irão.

De fora ficaram, no entanto, a Irlanda, que faz parte da UE mas não do espaço Schengen, e o Reino Unido, que reportou até agora ao final da tarde desta quinta-feira 596 casos positivos de infecção com o novo coronavírus e 10 mortes.

Além da TAP, de acordo com os dados do regulador sectorial (ANAC), estavam também a operar ligações entre os dois países a SATA, com 6 voos semanais, e as norte-americanas Delta e United Airlines.

EUA a crescer

O mercado dos EUA tem ajudado a TAP a crescer em receitas mas, também, a diversificar a origem dos rendimentos e a diminuir o risco face ao Brasil. De acordo com a companhia, em 2019, ano em que arrancaram as novas rotas para Chicago, São Francisco e Washington, os EUA foram o terceiro maior mercado da transportadora. Das sete rotas mais rentáveis, destacou recentemente o presidente da TAP, Antonoaldo Neves, cinco são dos Estados Unidos.

“A TAP traz um milhão de americanos para Portugal”, exemplificou na apresentação dos resultados anuais (com perdas de 105,6 milhões), no passado dia 20 de Fevereiro. Em 2014, ano antes da privatização, os EUA eram o nono mercado da TAP, com o Brasil, na segunda posição, a pesar 22% das vendas (Portugal detém a liderança).

Em 2019, os EUA foram o terceiro mercado, com 13%, cabendo 19% ao Brasil, o que resulta numa fonte de receitas da ordem dos 380 milhões de euros via rendimentos de passagens. O bloqueio de Trump vem assim pressionar ainda as contas da companhia. O PÚBLICO enviou várias questões à TAP, que não respondeu. Até agora, a empresa já anunciou a suspensão de cerca de 3500 voos.

Quedas a pique

Se fosse cotada em bolsa, a transportadora iria certamente cair a pique, tal como aconteceu com os mercados de forma geral e as companhias aéreas em particular. Na Europa, as principais praças sofreram esta quinta-feira quedas generalizadas de mais de 10%, numa semana que já começou com fortes perdas.

Os números exprimem bem o que aconteceu esta quinta-feira no sector, depois da suspensão de voos para a China, Itália e com a procura a encolher: a Air-France caiu 12,7% em bolsa, a IAG (dona da British Airways mas também da Iberia) 16%, a Norwegian afundou 33% (já estava em dificuldades), a Lufthansa 14%, a Delta Airlines 15%, a United 18% e a American 9% (neste caso, a explicação de uma queda abaixo dos dois dígitos pode estar na aliança que tem com a British, de acordo com a Reuters). Tomando como exemplo a Lufthansa, esta já perdeu 40% do seu valor em bolsa no espaço de apenas um mês.

Esta quinta-feira, a companhia apressou-se a informar os clientes que ainda voava para o EUA, e quais as alterações que estavam em curso, mas sublinhando o travão em vários voos (incluindo todos os que partem de Munique). A United também já afirmou, de acordo com a Reuters, que irá manter ligações com Portugal.

"Medidas de emergência"

Enquanto se esperam novidades sobre a facilitação das ajudas de Estado por parte da UE – assunto que deverá constar das medidas a apresentar esta sexta-feira em Bruxelas -, a associação do sector a nível global, a IATA, não tem dúvidas: “As companhias aéreas vão precisar de medidas de emergência para atravessar esta crise”, afirmou o seu responsável, Alexandre de Juniac, em comunicado. O combustível desceu com a queda do preço do petróleo, mas essa é a única boa notícia para o sector, e insuficiente para resolver os outros problemas.

“As dimensões do mercado EUA-UE são enormes”, sublinhou Alexandre de Juniac, avançando com números como a média de 550 voos que se realizam por dia, com 125 mil passageiros. Ao todo, o mercado norte-americano e o do espaço Schengen está avaliado em 20,6 mil milhões de dólares (18,4 mil milhões de euros), com a Alemanha e França na linha da frente.

Para a IATA, o alongamento das linhas de crédito, redução dos custos das infra-estruturas aeroportuárias e alívio fiscal são algumas das medidas que podem ajudar as companhias aéreas. Num comunicado conjunto, cinco associações de empresas de viagens e turismo da Europa e dos EUA apelaram à realização urgente de conversações bilaterais entre as suas partes para cancelar os bloqueios aos viajantes.

A medida de Trump terá também impactos negativos no turismo e na hotelaria em Portugal. O número de visitantes dos EUA tem vindo a crescer, tendo subido 21% no ano passado, e superado a fasquia de um milhão (1,2 milhões). Esta quinta-feira, a Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) apresentou os dados de um inquérito onde deu conta do cancelamento de 346.497 noites, concentrado nos primeiros dias de Março, e da previsão de fortes perdas para o sector. Em cima da mesa está um cenário cuja estimativa é a de uma perda de 30% de receitas na hotelaria nacional em termos homólogos entre 1 de Março e 30 de Junho, o que equivale a 500 milhões de euros.

O inquérito ficou terminado a 9 de Março mas, conforme realçou o presidente da AHP, Raul Martins, desde essa data até agora “as coisas só pioraram”. O ano de 2020, afirmou, encaminha-se para ser “pior do em 2009”, quando o turismo se afundou a nível global. Neste momento, a Organização Mundial do Turismo (OMT) já emendou os gráficos e colocou o sector em terreno negativo, antecipando uma quebra de 1% a 3% (em 2009, a descida foi de 4%).