Dez estudantes da Universidade do Porto deixam Itália
Nove chegaram ontem, num voo via Londres, e tinham à sua espera elementos das autoridades de saúde, que recomendaram o isolamento profiláctico.
A maior parte dos 125 estudantes da Universidade do Porto (UP) que se encontram em Itália integrados no programa Erasmus optaram por continuar naquele país, mas um pequeno grupo já regressou a Portugal, desde que lhes foi dada a indicação, a 15 de Fevereiro, que poderiam fazê-lo sem perder direito à bolsa daquele programa.
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A maior parte dos 125 estudantes da Universidade do Porto (UP) que se encontram em Itália integrados no programa Erasmus optaram por continuar naquele país, mas um pequeno grupo já regressou a Portugal, desde que lhes foi dada a indicação, a 15 de Fevereiro, que poderiam fazê-lo sem perder direito à bolsa daquele programa.
Num primeiro momento, após o contacto da UP, apenas um estudante admitiu que queria regressar a casa, mas esta terça-feira outros nove abandonaram Itália e voltaram a Portugal, num voo via Londres, e a poucas horas de terem sido canceladas todas as ligações aéreas com aquele que é o país europeu com uma situação mais grave da covid-19.
Fonte da reitoria da UP garante que os estudantes contactaram previamente a instituição, a dar conta da intenção de regressar. “A informação foi remetida para a task-force da Universidade do Porto para a covid-19, que informou o delegado regional de saúde do Norte (cujos representantes são também membros da task-force) da situação. Os estudantes foram todos recebidos por membros das autoridades de saúde, que os aconselharam a isolamento profiláctico e monitorização diária de sintomas”, esclarece. Em Itália, os estudantes estavam integrados em instituições de diferentes cidades, algumas no Norte do país, onde o surto se tem feito sentir de forma mais intensa.
A UP comunicou, na terça-feira, que iria manter as actividades regulares, com excepção do encerramento das instalações do ICBAS/FFEUP e da suspensão das aulas de mestrado integrado de Medicina da FMUP, que já haviam sido previamente decididas, mas esta quarta-feira decidiu suspender todas as actividades lectivas presenciais por tempo indeterminado.
O documento referia que esta decisão seguia “as indicações expressas das autoridades de saúde locais e nacionais”, que davam conta que, “com o conhecimento técnico-científico actual, não há razões de saúde pública que justifiquem, à data, a suspensão de actividade ou o encerramento de instalações das universidades, à semelhança do que acontece com a generalidade dos sectores de actividade em Portugal.”
Uma posição idêntica foi tomada, no mesmo dia, pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas. Em ambos os casos, assumia-se que esta decisão poderia ser alterada mediante os resultados da reunião desta quarta-feira entre o Governo e o Conselho Nacional de Saúde Pública.
Descontentamento
A decisão de terça-feira da UP, publicitada na sua página do Facebook, foi muito contestada por estudantes que não entendiam o porquê de não se seguir o exemplo de outras instituições de ensino superior que decidiram suspender as aulas presenciais ou as actividades lectivas. “Recebemos queixas, sobretudo de pais que reclamaram por termos tomado uma decisão diferente de outras universidades, mas o nosso comunicado foi muito ponderado e seguimos as indicações das autoridades de saúde. A actuação da UP está de acordo com todas as indicações e recomendações da Direcção-Geral de Saúde, sendo certo que é uma situação fluida e que pode mudar a qualquer altura”, explicou ao PÚBLICO fonte da reitoria, ainda antes de ser anunciada a decisão desta quarta-feira.
Segundo o comunicado de terça-feira, foi também a DGS que informou a UP que não se justificava manter os estudantes e trabalhadores residentes em Felgueiras e Lousada afastados das instalações da instituição – algo que tinha sido decidido no dia anterior, neste e noutros estabelecimentos de ensino. A UP, através da mesma fonte, explica que a proibição inicial nasceu da interpretação das recomendações da DGS de domingo à noite, que diziam, entre outras coisas, que os residentes daqueles dois concelhos deviam evitar deslocações desnecessárias ou estar em contacto com grandes grupos. “Na terça-feira, reavaliada a situação e com a DGS a emitir parâmetros mais específicos, foi-nos dito que não estavam incluídas naquelas recomendações as deslocações para o trabalho ou o local de estudo, por isso revertemos a recomendação”, explica.
A mudança não aconteceu, contudo, sem que antes a UP fosse alvo de mais algumas críticas, desta vez por parte dos residentes de Felgueiras e Lousada “que se sentiram prejudicados em relação aos colegas”. E não será caso único. Esta quarta-feira, em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Felgueiras, Nuno Fonseca, queixou-se que estava a receber “muitas queixas” de munícipes que se sentiam “segregados” fora das fronteiras do concelho só por serem daquela localidade, identificada, a par com Lousada, como uma das zonas com mais casos de covid-19 confirmados. O autarca garantiu que há pessoas a quem está a ser vedado o acesso a escolas e a locais de trabalho por residirem no concelho, uma situação de “discriminação e intolerância que não faz sentido”, disse.
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