Coronavírus: o que comprar sem levar o supermercado para casa

Fazer contas às necessidades, construir uma lista rica e variada e não entrar em pânico. Um guia para ir às compras, no qual nem os animais foram esquecidos.

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Vegetais e frutas estão entre uma lista para precaver uma possível quarentena Daniel Rocha/Arquivo

Na Austrália, o papel higiénico está a acabar; em Espanha, as prateleiras vazias levaram supermercados a fechar portas. A cada vez mais provável possibilidade de quarentena está a esgotar reservas e a sobrelotar despensas e frigoríficos, que permanecerão cheios por mais de 15 dias, período durante o qual provavelmente se dará falta de algo essencial.

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Na Austrália, o papel higiénico está a acabar; em Espanha, as prateleiras vazias levaram supermercados a fechar portas. A cada vez mais provável possibilidade de quarentena está a esgotar reservas e a sobrelotar despensas e frigoríficos, que permanecerão cheios por mais de 15 dias, período durante o qual provavelmente se dará falta de algo essencial.

Numa altura em que se luta contra um estado de alarmismo, ao mesmo tempo que as entidades pedem responsabilidade individual aos cidadãos e há escolas a solicitarem a antecipação das férias de Páscoa para manter a população escolar longe de multidões, será uma boa ideia precaver-se, mas com racionalidade.

Em Portugal, não existe uma lista do género, mas na Alemanha, muito por causa da experiência das guerras mundiais, assim como a restrição do fluxo de bens na parte 0riental durante a vigência do Muro de Berlim, há indicações precisas do que ter em casa para, em caso de isolamento até dez dias por qualquer tipo de emergência, não ter problemas. E há quatro anos as directivas foram actualizadas pelo Agência Federal de Protecção Civil e Assistência a Desastres (BBK), com sede em Bona, que adverte contra o pânico, aconselhando os cidadãos a fazerem stock apenas de alimentos e bebidas “que a família consumiria de qualquer forma”. Entre as dicas estão propostas como a verificação dos prazos de validade, arrumar as compras mais recentes sempre na parte de trás dos armários e a noção de que cada pessoa precisa de cerca de 14 litros de água por semana.

Por isso, o primeiro passo, antes de entrar no supermercado, é fazer contas: quanto tempo o isolamento poderá ocorrer e quantas pessoas estarão em casa. A partir daí, a lista poderá ser construída tendo em conta as doses individuais de cada alimento, garantindo a riqueza de nutrientes e, ao mesmo tempo, uma saudável variedade alimentar, aproveitando até, sugere Cláudia Viegas, professora na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e co-autora do livro Prazer sem Pecado (Esfera dos Livros, 2017), o tempo de isolamento para testar novas receitas ou enveredar por tarefas mais demoradas.

E, no supermercado, não limpe as prateleiras de enlatados — ninguém vai acampar... Compre apenas os que levaria para casa numas regulares compras mensais. “O importante é garantir aporte de alimentos ricos em nutrientes, escolher produtos com um prazo de validade alargado, fazer uma utilização racional dos frescos, tendo em conta o seu tempo de durabilidade, apostar em produtos com elevada rentabilidade (que tenham uma boa relação entre volume, nutrientes e capacidade de saciar) e pensar nos que estão mais disponíveis no mercado”, enumera ao PÚBLICO a professora.

Listas ricas e variadas

Comece por criar três listas distintas: uma de produtos secos (“a adquirir em quantidades maiores de acordo com o tamanho da família”), uma de frescos que aguentam algum tempo no frigorifico e outra de produtos congelados.

Assim, na primeira lista inclua pão, à unidade ou fatiado, que pode congelar, mas “também farinha, já que poderá ser uma boa oportunidade para fazer pão em casa”, além de arroz e massas (é de estimar entre 35g e 70g por pessoa por refeição, ainda que deva ter em conta que não irá comer arroz e massa todas as 28 refeições ao longo dos 14 dias de isolamento aconselhado). Opte ainda por juntar à lista dos secos grão-de-bico, feijão e lentilhas, tendo em conta que as leguminosas, além de serem ricas em fibras, podem ser servidas sem qualquer proteína, compondo por si só uma refeição principal, “oferecendo proteínas e hidratos de carbono de boa qualidade”, frisa a nutricionista. De referir que as secas rendem mais (em quantidade e valor), apesar de exigirem mais tempo e trabalho – mas também não irá a lado nenhum durante duas semanas e mais vale ter com que se entreter.

Já que está por esta zona do supermercado, coloque no carrinho elementos que ajudarão a compor as receitas: “Azeite, polpa tomate ou tomate pelado e pimentos de conserva”, recomenda Viegas, que adicionarão sabor às refeições.

Nos lacticínios, tenha em consideração quantas pessoas bebem leite em casa e compre uma quantidade que preveja uma média de 3dl por pessoa, por dia. Na secção de iogurtes, ponha no cesto pelo menos uma unidade por pessoa por dia, ainda que possa acrescentar mais, aproveitando o prazo de validade alargado. Manteigas e queijos, dependerá do tipo de consumo de cada casa, mas não compre mais quantidade do que compraria numa situação normal — se o fizer está, definitivamente, a comprar em excesso.

Mesmo que não compre habitualmente água engarrafada, será boa ideia ter pelo menos um garrafão de reserva. Se tiver, porém, recipientes vazios em casa, poderá enchê-los, reservando-os para alguma necessidade. E, já que estamos a falar de bebidas, ateste o frasco de café.

Gerir perecíveis

Não se acanhe na compra dos vegetais e das frutas, calculando também uma média de consumo por pessoa, mas principalmente escolhendo tanto espécies de curta (alface no caso dos vegetais, bananas entre as frutas) como de longa durabilidade (couves, alho-francês, beringela, courgette, cenoura, laranja, maçã), fazendo posteriormente, em casa, a gestão do consumo. “A maioria dos vegetais permite ainda fazer sopas”, algo a que se poderá dedicar quando os congelados começarem a ser consumidos e o espaço permitir arrumar as sopas. 

Para o congelador, ponha no carrinho mais vegetais (couve-de-bruxelas, espinafres, grelos, ervilhas, brócolos, favas...), assim como peixe congelado. Quanto a incluir nas compras carne, Cláudia Viegas não vê grandes benefícios em juntar a mesma à lista, ainda que, se essa for uma opção, aconselhe quantidades reduzidas. Uma alternativa de elevado valor proteico são os ovos que, por terem uma validade alargada, são uma boa opção, considera a nutricionista.

Para Cláudia Viegas, pode-se ainda “aproveitar o estar em casa em isolamento para confeccionar refeições mais demoradas, recuperar hábitos e tradições culinárias, experimentar novas receitas e aproveitar para desenvolver competências culinárias”, deixando algumas ideias para a utilização dos produtos mencionados: grão/feijão estufado com couve (podem ser adicionados ovos escalfados ou pequenas quantidades de carne), chili de lentilhas, ervilhas com ovos escalfados, saladas de feijão-frade, grão, com couve, atum ou ovos ou sardinha, saladas de lentilhas com legumes diversos, legumes salteados aos quais podem ser adicionados pequenas quantidades de carne ou peixe congelado, massa ou arroz a acompanhar.

Gerir e precaver, mas sem exageros

No meio de todas as compras, tenha em mente que quem habitualmente cozinha também pode cair à cama doente. Por isso, nada como juntar algumas refeições pré-cozinhadas ou mesmo algumas pizzas que só precisam de ir ao microondas.

Também nos bens para a casa há que ter em atenção o que está a fazer falta. Se acabou de comprar um pacote de 48 rolos de papel higiénico, é pouco provável que precise de mais até ao início da Primavera.

Se houver bebés em casa, calcule as fraldas necessárias assim, como a alimentação específica de que o pequeno irá precisar. Ainda nesta área, verifique se ainda consegue comprar álcool para ter em casa e ir desinfectando as mãos regularmente (se não houver no supermercado, poderá fazê-lo em casa ou, eventualmente, encontrar o produto em farmácias, onde será uma boa ideia adquirir um antipirético, caso não já não tenha no armário; não atafulhe as prateleiras com medicamentos que poderão fazer falta a outros). Ainda da farmácia, é de verificar se o estojo de primeiros socorros está completo e com produtos dentro da validade.

E não se esqueça dos animais: além de comida para 15 dias, os gatos vão precisar de areia para o caixote; os cães de resguardos para o chão, caso se imponha a impossibilidade de os ir passear.

Depois, no fim, para quem tem crianças em casa, não se esqueça de completar o carrinho com algumas guloseimas ou ingredientes para fazer bolos e biscoitos — não só as manterá satisfeitas, como ocupadas. No entanto, antes, confirme se há dentífrico no lar para duas semanas.


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