Chove ferro no planeta Wasp-76b
A “pequena distância” que separa este planeta da sua estrela faz com que este se torne tão quente que as moléculas se separam em átomos, com os metais, tais como o ferro, a evaporarem-se para a atmosfera.
Uma equipa internacional, em colaboração com investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), conseguiu caracterizar a atmosfera de um exoplaneta, tendo detectado aquilo que acreditam ser “uma chuva de ferro”.
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Uma equipa internacional, em colaboração com investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), conseguiu caracterizar a atmosfera de um exoplaneta, tendo detectado aquilo que acreditam ser “uma chuva de ferro”.
O estudo, publicado hoje na revista Nature, conseguiu caracterizar a atmosfera do exoplaneta WASP-76b, através de uma combinação entre o Very Large Telescope (VLT) do Observatório Europeu do Sul e do espectrógrafo ESPRESSO.
O ESPRESSO, instrumento que foi concebido para procurar planetas do tipo terrestre em torno de estrelas do tipo solar, é, neste momento, o “espectrógrafo mais avançado no estudo de exoplanetas”, salienta Alexandre Cabral, investigador do IA.
“Este resultado científico resulta de um trabalho de quase 10 anos a desenhar, integrar e testar um instrumento criado na Europa e instalado no observatório do Paranal (Chile), em pleno deserto de Atacama, sendo uma clara demonstração da capacidade que a instrumentação em astronomia tem em Portugal”, sustenta o investigador.
Também citado no comunicado, Olivier Demangeon, investigador do IA, acrescenta que aquilo que começou com um estudo clássico do efeito de Rossiter-McLaughlin [uma anomalia na velocidade radial] “acabou numa descoberta incrível, graças à extrema sensibilidade e precisão do ESPRESSO”.
De acordo com o IA, esta chuva de ferro só é possível porque o WASP-76b, um exoplaneta a cerca de 640 anos-luz de distância da Terra, tem uma rotação síncrona, ou seja, “demora tanto tempo a completar uma rotação com a dar uma volta em torno da sua estrela”.
O instituto salienta também que a “pequena distância” que separa este planeta da sua estrela, uma vez que dá uma volta a cada 1,8 dias, faz com que o seu lado diurno “receba milhares de vezes mais radiação da sua estrela do que a Terra recebe do Sol”. E acrescenta, “tornando-se tão quente que as moléculas se separam em átomos, com os metais, tais como o ferro, a evaporarem-se para a atmosfera”.
A diferença de temperatura entre os lados diurno e nocturno provoca, segundo a investigação, “ventos violentos” que acabam por transportar o vapor de ferro do lado diurno para o lado nocturno.
Citado no documento, o investigador Sérgio Sousa adianta que as observações evidenciam que a temperatura do planeta “pode subir até aos 2.400 graus Celsius do lado de dia”, uma temperatura “suficientemente alta para vaporizar metais como o ferro”.
“Depois os ventos fortes transportam este vapor de ferro para o lado nocturno, onde a temperatura é menor, cerca de 1.500 graus celsius e este vapor pode não condensar em gotas de ferro”, refere.
Os resultados agora descritos foram obtidos em Setembro de 2018, a partir das primeiras observações científicas com o espectrógrafo ESPRESSO.
Citado no documento, Nuno Cardoso Santos, investigador do IA e docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto salienta que a missão estratégica do instituto “começa agora a dar frutos”.
“Esta estratégia inclui, por exemplo, a recém-lançada missão espacial CHEOPS e irá continuar durante os próximos anos com o lançamento do telescópio espacial PLATO, ou a instalação do espetógrafo HIRES no maior telescópio da próxima geração, o ELT”, conclui o investigador.