Pick-up destrói estátua sagrada da Ilha da Páscoa

Um dano “incalculável” numa das misteriosas estátuas milenares, Património da Humanidade, íman turístico de Rapa Nui. Autoridades da ilha querem mais protecção e restrições a veículos.

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“O dano é incalculável”, diz o presidente da Comunidade Ma'u Henua, Camilo Rapu, encarregado do cuidado e conservação das estátuas e dos sítios arqueológicos da Ilha da Páscoa, a propósito do acidente que levou à destruição de um destes misteriosos e icónicos monumentos, declarados Património da Humanidade pela UNESCO, e ao encerramento temporário do local.

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“O dano é incalculável”, diz o presidente da Comunidade Ma'u Henua, Camilo Rapu, encarregado do cuidado e conservação das estátuas e dos sítios arqueológicos da Ilha da Páscoa, a propósito do acidente que levou à destruição de um destes misteriosos e icónicos monumentos, declarados Património da Humanidade pela UNESCO, e ao encerramento temporário do local.

O acidente aconteceu no passado domingo: um turista chileno terá deixado o seu veículo deslizar e este foi embater numa plataforma com um moai (a designação das estátuas), provocando danos na estrutura milenar e destruindo uma estátua.

O homem foi detido após o evento. Inicialmente, Camilo Rapu, que denunciou o acontecido de imediato, chegou a acusar o homem de ter actuado “intencionalmente”. Mas, ao que tudo indica, porém, tudo terá sido provocado por uma falha no travão de mão.

“Lamentamos o sucedido”, escreve-se no Facebook da Comunidade Ma'u Henua, “no sector de Pu a Pau, onde uma pick-up foi contra um dos nossos ahu [a designação de cada santuário], danificando gravemente a estrutura que incluía um moai”. “Reiteramos a importância de cuidar do património que temos no parque. Porque não são só elementos sagrados para uma cultura viva”, sublinham, “são elementos sagrados para uma cultura viva e fundamentais na nossa cosmovisão Rapa Nui [o nome oficial e original da ilha]”. 

Ao longo da semana, as autoridades locais e nacionais tomaram uma posição mais assertiva de defesa destes monumentos, conhecidos em todo o mundo pelo seu mistério — e verdadeiros ímanes de atracção turística à ilha. O presidente da câmara da ilha, Pedro Paoa, disse à CNN Chile que após este acontecimento iria voltar a defender medidas mais restritivas para a circulação local de veículos

Naturalmente, não é apenas o turismo ou só a monumentalidade que estão em causa. “Como se sabe, os moai são estruturas sagradas de valor religioso para o povo Rapa Nui”, sublinha Camilo Rapu ao jornal chileno El Día. “Um acto desta natureza não é só repudiável, é uma ofensa a uma cultura viva que nos últimos anos tem lutado por recuperar todo o seu património histórico e arqueológico”. “Fazemos um apelo urgente aos legisladores e autoridades para que revejam o quadro legal que protege o património histórico e cultural dos povos originários”.

A polícia confirmou entretanto que o homem é um residente da ilha, tendo mudado da parte continental chilena para Rapa Nui há 12 anos. A pick-up​, acrescentam, andaria com problemas no travão de mão e o homem, depois de estacionar no declive, teria colocado uma pedra a travar o pneu da frente, por precaução. Quando quis sair, explica o chefe da Brigada de Investigação Criminal, Jorge Fuentes Sierra, à rádio chilena Cooperativa, retirou a pedra e o veículo começou de imediato a deslizar até embater no ahu, subindo a plataforma e provocando um dano irreparável”. 

Mas esta nem é a primeira vez que um evento similar, embora com menos danos, ocorre, como recorda o canal Chilevisión: em 2008, um turista finlandês destruiu a orelha de um moai, acabando por pedir desculpa e pagar uma multa (cerca de 15 mil euros). Em 2018, uma turista chilena, menor, pôs-se em cima de um dos monumentos para tirar fotos, danificando-o (multa: simbólica, 500 euros, com interdição de pôr os pés na ilha durante dois anos). E em Janeiro passado até houve um escândalo por um acto de menor perigo, mas ainda assim desrespeitoso e absolutamente proibido: um visitante decidiu abraçar um moai para a sua foto turística. Lembra o município: “os moai não se tocam!”