Mundo procura “armas” contra coronavírus

Quer se trate de uma vacina ou de uma nova molécula para um fármaco, todos os caminhos vão dar ao mesmo exigente e longo processo de validação da segurança e eficácia num ensaio clínico.

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Presidente chinês, Xi Jinping, visitou esta semana laboratórios da Academia Militar de Ciências Médicas, em Pequim, onde se procura uma vacina ou tratamento para o novo coronavírus EPA/XINHUA/JU PENG

É irónico saber que, no final de contas, o que pode atrasar mais a aprovação de uma vacina para este novo coronavírus é precisamente o processo de validação de eficácia e segurança, que os movimentos de antivacinação dizem não existir. Os cientistas avisam que o processo levará pelo menos um ano para passar a várias fases de ensaio clínico que testam uma nova resposta terapêutica. Felizmente, a formidável corrida para encontrar uma vacina ou tratamento para atacar este novo coronavírus começou cedo, pouco tempo depois da divulgação do seu genoma.

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É irónico saber que, no final de contas, o que pode atrasar mais a aprovação de uma vacina para este novo coronavírus é precisamente o processo de validação de eficácia e segurança, que os movimentos de antivacinação dizem não existir. Os cientistas avisam que o processo levará pelo menos um ano para passar a várias fases de ensaio clínico que testam uma nova resposta terapêutica. Felizmente, a formidável corrida para encontrar uma vacina ou tratamento para atacar este novo coronavírus começou cedo, pouco tempo depois da divulgação do seu genoma.

Em pouco tempo – o surto foi identificado em Dezembro – já se fez muito. Muito mais do que foi feito em situações semelhantes do passado com outros coronavírus, como a SARS (entre 2002 e 2004) e o MERS (em 2012). O genoma do novo vírus SARS-CoV-2 foi divulgado e partilhado ainda em Janeiro e foram já publicados muitos artigos científicos (de acesso aberto) sobre o vírus e a doença que provoca, a Covid-19. Geralmente, as vacinas usam algumas secções do genoma do vírus (ADN ou ARN) para ensinar o sistema imunitário a combater aquele “intruso” e assim protegê-lo. Podem ser usadas versões atenuadas ou inactivas do vírus, sendo possível recorrer a vírus inofensivos para “carregar” uma parte do código genético do coronavírus.

A Aliança para Inovações de Prontidão para Epidemias anunciou pouco tempo depois da divulgação do genoma do vírus que a procura de uma vacina já tinha começado. E os investigadores estão a usar várias estratégias. Uns apostam numa vacina e outros investem na procura de novas moléculas ou adaptações de tratamentos já aprovados, que serão cruciais para tratar as pessoas que já foram infectadas e estão gravemente doentes.

Entre os muitos esforços está, por exemplo, o projecto para uma nova vacina liderado pela empresa farmacêutica Moderna em conjunto com o Instituto Nacional para Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA que está na fase 1 (que testa a segurança). Há ainda um outro plano da empresa Inovio, com sede nos EUA.

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Um cientista aponta um gráfico com a sequências do ADN de coronavírus, no Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no Brasil REUTERS/Rahel Patrasso

A norte-americana Gilead Sciences está numa fase mais avançada, pois está a apostar na “reutilização” de um antiviral de administração intravenosa chamado remdesivir concebido para o vírus do ébola e outras infecções virais e que poderá ser eficaz contra este novo coronavírus. Ainda durante este mês de Março, a empresa esperar recrutar mil pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 para testar o efeito da administração de várias doses deste fármaco. A GlaxoSmithKline, uma das grandes companhias farmacêuticas que está a investir nesta resposta, também procura uma vacina, mas ainda se encontra numa fase de testes pré-clínicos e ainda não anunciou quando vai avançar para experiências com voluntários.

Há também abordagens “mistas” como a da Johnson&Johnson, que estará a tentar atacar esta epidemia na frente da vacinação e dos fármacos. A Sanofi procura apenas uma vacina e a Regeneron Phamaceuticals que já obteve alguma experiência com o ébola optou por tentar encontrar um tratamento.

Segundo os especialistas, os vírus respiratórios colocam algumas dificuldades específicas. Por alguma razão não chegou nunca a ser desenvolvida nenhuma vacina para a SARS ou o MERS, duas infecções causadas por coronavírus que “saltaram” de animais para humanos. Não só se tratou de um processo muito difícil como demorado. As empresas e investigadores acabaram por desistir quando os problemas acabaram por praticamente desaparecer do mapa antes de a vacina ser necessária. Mas o conhecimento adquirido com estes coronavírus pode ser, agora, muito valioso para o novo coronavírus.

Por fim, há ainda que lidar com o que ainda não sabemos sobre o SARS-CoV-2 e tentar conhecer melhor esta ameaça. Não se sabe, por exemplo, se (tal como outros vírus respiratórios) tem um comportamento sazonal e vai abrandar a sua actividade no início da Primavera. Geralmente, é isso que acontece a estes vírus no hemisfério Norte mas nada garante, para já, que o mesmo vai acontecer com esta epidemia. O que se sabe já é que este novo coronavírus será mais transmissível do que os que conhecemos durante a SARS e MERS, mas que também terá uma taxa de mortalidade inferior. Por outro lado, infectou até agora muito menos pessoas do que a gripe sazonal, mas as estimativas apontam para uma taxa de mortalidade global superior

Mesmo com as mais modernas tecnologias ao dispor, os cientistas estão perante um enorme desafio e uma corrida contra o tempo. É preciso descobrir uma forma de derrotar o vírus ou tratar a doença, mas tem de ser uma resposta segura e eficaz que passe nos testes em laboratório, animais e pessoas. Depois, falta ainda mostrar que é possível produzir a solução encontrada em grande escala. Venha a solução que tudo se resolve.