Quem é o Sangue Novo da ModaLisboa?
Inês Manuel Baptista é vencedora do concurso que visa apoiar novos talentos da moda. A jovem de 34 anos venceu um mestrado na escola Polimoda em Florença, Itália.
No altifalante ouve-se: “Bem-vindos ao desfile onde vamos anunciar o futuro.”. Na passerelle de 60 metros das antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército, em Lisboa, vão desfilar, dentro de instantes, as colecções dos cinco finalistas do concurso Sangue Novo: Flávia Brito, Francisco Pereira, Filipe Cerejo, Cêlá e Inês Manuel Baptista.
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No altifalante ouve-se: “Bem-vindos ao desfile onde vamos anunciar o futuro.”. Na passerelle de 60 metros das antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento do Exército, em Lisboa, vão desfilar, dentro de instantes, as colecções dos cinco finalistas do concurso Sangue Novo: Flávia Brito, Francisco Pereira, Filipe Cerejo, Cêlá e Inês Manuel Baptista.
Na primeira fila, os militares estão lado a lado com influencers que filmam cada instante da passerelle da ModaLisboa. O ambiente é de animação pois está prestes a começar mais uma edição do evento. Quase nos esquecemos que chegou a ser equacionada a realização dos desfiles à porta fechada devido ao novo coronavírus.
As luzes da sala apagam-se e entra o primeiro coordenado na passerelle. Com os cabelos molhados, a modelo veste “Memórias do Espaço”, o nome da colecção de Flávia Brito. Os sapatos destacam-se pelo salto geométrico em madeira. Transparências, assimetrias e sobreposições marcam a colecção da jovem designer, sobretudo nos tons preto, branco, tijolo e verde seco.
Muda a música e, ao fundo da passerelle, está o primeiro modelo da colecção masculina “TornVision” de Francisco Pereira. O jovem de 22 anos, que está a acabar o mestrado em Design de Vestuário e Têxtil no Instituto Politécnico de Castelo Branco, conta ao PÚBLICO como se inspirou no trabalho do artista Emon Toufanian para a final do Sangue Novo: “O que fiz foi inspirar-me nas forma como ele construía as colagens e trazer isso para a roupa.”
Parecem realmente colagens as peças de Francisco Pereira, numa mistura de texturas e assimetrias. “O maior desafio é saber se aquilo que estamos a projectar vai ficar bem no corpo”, continua o jovem de Leiria.
O contraste de texturas repete-se em Filipe Cerejo com “Eve of Destruction”, inspirada no apocalipse. Os modelos surgem de galochas para a chuva (ou não fosse esta uma colecção para o Outono/Inverno). Algumas peças são recortadas, num padrão que se repete em vários coordenados. O desfile do designer termina com uma gabardine com um padrão metalizado.
As gabardines são um elemento em comum nas propostas dos designers para o Outono/Inverno apresentadas esta sexta-feira na ModaLisboa. Cêlá de Naomi Marcela na sua colecção “Coral” recupera também este clássico e dá-lhe um twist no capuz que ata à frente, tal qual um lenço. Os corais, que foram o mote para a colecção, estão presentes nos pormenores. A jovem algarvia aposta também em malhas, transparências e acetinados, tudo feito com recurso a dead stock (tecidos antigos).
Também Inês Manuel Baptista fez questão de aproveitar tecidos parados para a sua colecção “3451”, uma interpretação pessoal do efeito da solarização do trabalho fotográfico de Man Ray. “Tentei transpor para a colecção aquilo que absorvi da obra dele”, explica a designer de 34 anos ao PÚBLICO.
Desconstrução é a palavra de ordem do desfile de Inês Manuel Baptista, formada em História de Arte, estudante de ballet e professora de dança “durante muitos anos” e que chegou à moda há dois anos. Correntes e redes metálicas são as estrelas dos coordenados, que na sala de desfiles não parecem deixar ninguém indiferente.
E os vencedores são...
Desde Outubro, quando decorreu a 1.ª fase do concurso, que Cêlá, Filipe Cerejo, Flávia Brito (Brasil), Francisco Pereira e Inês Manuel Baptista estão a trabalhar nas colecções para este desfile final. Houve ainda um sexto apurado para a final, Louis Appelmans (Bélgica) mas, segundo a ModaLisboa, “entretanto iniciou um estágio na Kenzo, em Paris, e não conseguiu desenvolver uma nova colecção para a final”.
Miguel Flor é o presidente do júri composto por Adriano Batista (revista Fucking Young), Lidija Kolovrat (designer), Danilo Venturi (director da Polimoda), Veronique Branquinho (designer) e Ricardo Silva (Tintex Textiles).
Terminados os desfiles Sangue Novo, chega a hora da verdade. Os finalistas competem por três prémios: ModaLisboa em parceria com a escola italiana Polimoda (um mestrado em Design de Moda ou em Design de Colecção, no valor de mais de 3500 euros), ModaLisboa em parceria com a Tintex Textiles (residência de três semanas na Tintex, no valor de dois mil euros) e The Feeting Room (venda da colecção nas lojas The Feeting Room de Lisboa e do Porto).
Rufam os tambores e o prémio The Feeting Room é atribuído a Cêlá. Francisco Pereira também é surpreendido ao vencer o prémio ModaLisboa em parceria com a Tintex Textiles. “Espero aprender bastante porque sou uma pessoa curiosa”, analisa o jovem designer, momentos após a vitória,
“E agora o grande prémio...”, anuncia Miguel Flor. Inês Manuel Baptista é a grande vencedora do mestrado na escola italiana Polimoda. Foi na moda que a jovem de Coimbra encontrou a forma e se expressar. “Quero aproveitar esta oportunidade para maturar enquanto designer”, declara ao PÚBLICO.
Antes de o desfile começar, o altifalante apregoava que o futuro se ia anunciar aqui. Para estes jovens designers, o futuro começou a ser desenhado quando se inscreveram no Sangue Novo. Agora, basta continuar a aperfeiçoar o esboço começado.
Texto editado por Bárbara Wong