Do brunch ao mundo, cinco razões para petiscar no Seixal

Há cozinhas do mundo e cocktails de autor, bacalhau para todos os gostos, pastelaria para o lanche e tudo a que tem direito num brunch. Cinco sugestões para comer no Seixal, seja qual for a hora do dia.

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Mundet Factory Pedro Fazeres

Mundet Factory
Partilhar o mundo à mesa dos antigos refeitórios da corticeira Mundet

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Mundet Factory
Partilhar o mundo à mesa dos antigos refeitórios da corticeira Mundet

Desde o final de 2016 que os antigos refeitórios da corticeira Mundet & Sons voltaram a servir comida, agora num conceito de restauração contemporânea, que alia a herança da fábrica às gastronomias do mundo. A fábrica laborou de 1905 até 1988 e ainda hoje o complexo industrial, parte em ruínas, marca o tecido urbano do Seixal e a memória das gentes. “Nos anos 1950, um terço do distrito de Setúbal trabalhava para a Mundet”, aponta João Macedo para dar dimensão a uma fábrica onde laboraram “mais de 3000 pessoas” e que chegou a ser a maior corticeira do país.

O chef e proprietário do restaurante não se recorda desse tempo, mas já de uma segunda vida da fábrica. Até ao princípio dos anos 2000, “a câmara utilizava este espaço para eventos sociais e juvenis”. Foi aqui que João Macedo viu os primeiros concertos e exposições e, mais tarde, se perguntava por que não se tirava partido deste espaço de vidraças viradas à baía. Depois da participação no programa de televisão Masterchef, em que ficou conhecido “como chef de cozinhas do mundo”, sentiu que “tinha todo o sentido abrir um espaço que também tivesse uma história mundial”. E a Mundet, no concelho onde cresceu, tinha tudo isso.

Dos velhos armazéns trouxe “o primeiro letreiro da fábrica”, de 1905, encontrado “debaixo de escombros” e colocado à entrada do espaço. Com os antigos tapetes rolantes por onde circulava a cortiça fez o tampo do enorme balcão do bar. Há rodas dentadas e pequena maquinaria da época a decorar várias áreas do restaurante e até as mesas são as originais (só os tampos de madeira foram substituídos). O ambiente alia artefactos da história da corticeira com o estilo industrial e traz o verde da natureza com plantas a cair do tecto alto, numa decoração moderna e descontraída.

O espaço é constituído por duas naves, além de uma esplanada. O bar fica à entrada, inspirado na “mixologia moderna em voga nas capitais europeias”, com espaço para exposições temporárias e concertos de música ao vivo aos fins-de-semana. Na sala seguinte fica o espaço do restaurante, onde as velhas mesas do refeitório acolhem agora pratos de todo o mundo.

“Uma das minhas grandes bases gastronómicas é a comida mexicana”, conta o chef. Tinha família emigrada nos Estados Unidos e foi lá que provou os primeiros pratos mexicanos, que depois começou a fazer habitualmente em casa. Por coincidência, ao estudar a história da fábrica, João Macedo descobriu que a família Mundet, natural de Barcelona, vai apontar um filho para abrir uma fábrica no Seixal e outro filho para fazer o mesmo no México. “Ainda hoje têm a Sidral Mundet”, uma das maiores empresas de refrigerantes do país. A carta enlaça, por isso, o trajecto das exportações da corticeira e o mapa de afectos da família Macedo. “Temos comida mexicana, tailandesa, peruana; da Argentina, onde havia escritórios da Mundet.” E africana. “A minha avó viveu muitos anos em Moçambique e trouxe o caril. Tivemos a cachupa de Cabo Verde.” A ideia, resume, é “partilhar o mundo”. E ajudar a “pôr o Seixal no mapa”.

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Lisboa à Vista Pedro Fazeres

Lisboa à Vista
Bacalhau para todos os gostos a bordo de um cacilheiro

Continuamos no universo da antiga fábrica Mundet & Sons, agora no antigo cais de embarque, de onde partiam navios carregados de cortiça rumo ao mundo. Desde 2005 que a viagem se faz à mesa, a bordo do velho cacilheiro Rio Tejo II aqui acostado. Depois de 52 anos a realizar o transporte de passageiros entre as duas margens do Tejo, na antiga Sociedade Lisbonense de Transportes, a embarcação “passou à disponibilidade em 1983” e, anos mais tarde, foi transformada em restaurante, primeiro ao largo de Alcântara e, há 15 anos, no Seixal. Em 2015 sofreu obras de reestruturação e, no ano seguinte, reabriu com novo conceito e novo nome, Lisboa à Vista.

A especialidade são os pratos de bacalhau – ou não fossem os sócios-gerentes “todos oriundos da indústria do bacalhau”, aponta Paulo Torres, com fábricas na Noruega e em Ílhavo. Desde pastéis de bacalhau (5€) a bacalhau com crosta de broa (17€), folhado de bacalhau com grelos salteados (16,50€), bacalhau com puré de batata-doce em cama de grelos (14,50€), arroz de bochechas de bacalhau com línguas panadas (18€) ou o clássico bacalhau à Brás (12,50€). Mas também existem outros pratos de peixe, marisco ou carne na ementa, a cargo da chef Isaura Caldeira.

Na antiga casa das máquinas existe um pequeno núcleo museológico, com grande parte das peças “que fizeram parte do quotidiano da embarcação”, desde telefones, manómetros, a hélice ou a roda do leme original. Há ainda fotografias a preto e branco que retratam a pesca do bacalhau entre as décadas de 30 e 50. Com uma mesa ao centro, pode ser utilizada para jantares de grupo mais intimistas, reuniões ou sessões de team building (capacidade: 18 pessoas).

A primeira sala, a que se acede directamente a partir do cais de embarque, acolhe uma zona de bar, onde decorrem concertos acústicos nas noites de sexta e sábado. No piso superior, fica a sala de refeições propriamente dita e, subindo ao topo do cacilheiro, aguarda-nos uma esplanada com vistas para a baía e para o perfil urbano do núcleo antigo do Seixal, um cenário que a grande amplitude das marés mantém “em constante mutação”. Todos os bancos e cadeiras do espaço estão forrados a tecido de cortiça, homenagem à herança histórica da Mundet.

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Senhor Miyagi DR

Senhor Miyagi
O professor do Karate Kid serve comida de rua asiática

Tal como a Mundet Factory, o Senhor Miyagi é já uma referência entre os restaurantes de cozinha do mundo da margem sul do Tejo. Aqui serve-se “street food asiática”, num conceito “muito inspirado em alguns países, como o Japão, o Vietname, a Índia, a China, Singapura e Indonésia”, enumera Bruno Rochart, um dos sócios-gerentes, juntamente com António Abrantes.

Aberto no final de 2017, a ideia nasce com o próprio espaço, virado à baía, e com David Santos, o chef que a dupla chamou para liderar a cozinha do projecto e que já trabalhava com este tipo de gastronomia no restaurante Nood, em Lisboa. Bruno Rochart trouxe ainda a inspiração das viagens que fez pela Ásia durante os seis anos em que trabalhou no Médio Oriente. “Recolhi as ideias e juntei tudo num bolo”, diz ao falar da decoração, uma profusão de memorabilia asiática sobre paredes de pedra e iluminação quente, em estilo moderno. Já o nome surgiu “nas típicas conversas de café” e, depois das dúvidas iniciais, acabou por pegar, alavancado pelas potencialidades em termos de marketing.

O prato mais vendido é o pad thai, garante. Mas também são famosos os bao (o tradicional pão tailandês ao vapor, servido com carne de porco e molho hoisin ou com caranguejo de casca mole) e os ramen (há de frango, de vegetais, de marisco, de miso e porco e três com molho de caril). Por estes dias, o restaurante lança uma nova carta com alguns pratos “um bocadinho fora da caixa”. O objectivo é passar do “conceito tradicional e conservador das duas entradas e pratos principais” para “uma carta mais virada para a partilha”. Pequenos pratos para dividir e experimentar, como o novo katsu bao, com panado de frango em caril.

E há mais novidades para lançar em breve. Se tudo correr como previsto, o conceito do Senhor Miyagi vai mudar ligeiramente já a partir de Abril, com casa aberta todo o dia e uma carta diferenciada para o período da tarde. “Mais numa onda de petiscos e de implementação de doces também”, adianta Bruno Rochart. E não se esperem crepes. A ideia é trazer “outras especialidades asiáticas doces”, acrescenta o responsável, sem revelar mais pormenores.

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Mammy Choux DR

Mammy Choux
A mãe da confeitisserie tem inspiração francesa e sabores portugueses

Alia a arte da confeitaria, as receitas tradicionais e conventuais da doçaria portuguesa e ainda “um pouco de pâtisserie francesa”, nas técnicas utilizadas e na apresentação. Daí que a proprietária do espaço, Maria Luísa Chambel, tenha criado (e registado) o termo “confeitisserie” para explicar o conceito da Mammy Choux, inaugurada em Julho do ano passado.

As vitrines do balcão, os frascos e as campânulas de vidro sobre a estante funcionam, por isso, como “porta-jóias” para a diversidade de delicados bolos: macarons, éclairs, semifrios, tartelettes, suspiros, brigadeiros, cheesecakes, diferentes receitas de bolachas e as conventuais cornucópias, brisas do Lis, encharcadas ou toucinho do céu de Murça e pudim abade de Priscos. Tudo confeccionado no espaço, numa ala separada por uma porta de vidro da pequena sala de refeições. É ali que são igualmente preparados os chás, os batidos, os cafés ou os cocktails, para que nenhum barulho perturbe a degustação.

Maria Luísa Chambel é licenciada em Psicologia e Direito e durante muitos anos trabalhou na área financeira e de gestão de recursos humanos até decidir fazer uma pausa na carreira para estar mais próxima da família e abraçar outros projectos. A primeira formação que fez na área da pastelaria foi em cake design “por causa dos gaiatos”. Nunca mais parou. Em dois anos, fez mais de 60 formações na área da pastelaria e da segurança alimentar, incluindo um curso na escola de culinária francesa Le Cordon Bleu.

A ideia de abrir a Mammy Choux “foi-se desenvolvendo” a partir daí. No Seixal porque mora no concelho e porque sente que a cidade “está a ter um grande desenvolvimento”, com vários investimentos e projectos já anunciados para os próximos anos.

Além da doçaria (que também se pode encomendar), há na ementa sugestões para o pequeno-almoço, almoço ou brunch, disponíveis todo o dia, além de crepes, panquecas, tostas, choux e croissants, entre outros. Em breve, também vão começar a fazer catering para festas e eventos.

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Villa Três DR

Villa Três
Nesta vila, toda a semana é dia de brunch

Mafalda Soares e Catarina Gonçalves queriam trazer para este pequeno espaço a familiaridade das “vilas antigas portuguesas”, com um atendimento o mais personalizado possível, e uma diversidade de ambientes e de oferta. Daí que a villa surja no nome, mas também o número três: a aposta centra-se numa tríade de padaria, pastelaria e geladaria, sem esquecer a componente de cafetaria ou a pequena mercearia de produtos portugueses, sobretudo da região de Setúbal, na mezzanine. “Temos uma pequena garrafeira com licores, vinhos, moscatel e vinho do Porto. Depois temos chás, flor de sal extraída das salinas de Samouco, temos um pequeno produtor de compostas, conservas, picantes artesanais, chutneys”, enumera Mafalda Soares, anteriormente à frente do projecto de pastelaria artesanal A Trança.

A especialidade da Villa Três são os crepes, waffles e panquecas, que depois podem ser cobertos com uma variedade de ingredientes, incluindo bolas de gelado da Artisani, fruta fresca ou cremes caseiros. O brunch é outra das apostas – e aqui é servido todos os dias (das 11h às 15h). Durante a semana, há três tamanhos à escolha (diferem apenas na quantidade de produtos que incluem), enquanto ao sábado e ao domingo a oferta é mais elaborada, do tradicional ao português (com pão de deus e uma selecção de queijos ou enchidos nacionais) e francês (croissant e queijos franceses). No menu, surgem ainda sandes, tostas, crepes salgados acompanhados de salada, menus de pequeno-almoço e almoço, tábuas de queijos ou de enchidos, conservas e ovos mexidos.

Foi o “gosto muito grande pela pastelaria” que fez com que Mafalda Soares e Catarina Gonçalves deixassem para trás o mundo da comunicação e da contabilidade, respectivamente, para abraçar este projecto, faz agora dois anos. Naturais da região, conheceram-se numa formação de custo na restauração e perceberam que partilhavam o mesmo sonho de abrir um espaço próprio e “diferente daquilo que já existia no Seixal”. “Quisemos também puxar um bocadinho pela nossa terra e sentíamos que, muitas vezes, para encontrar um espaço como este tínhamos de ir para Lisboa ou outros sítios.” Agora já não.