Médicos internos do Hospital de Viseu denunciam “assédio moral”
Quarenta dos 50 médicos do serviço de medicina interna do Centro Hospitalar Tondela Viseu denunciaram à Ordem dos Médicos “situações de assédio moral por parte da superior hierárquica”.
O bastonário da Ordem dos Médicos ouviu esta quarta-feira a denúncia de mais de 40 médicos do Centro Hospitalar Tondela Viseu de “assédio moral” pela superior hierárquica, com “situações graves e muito graves”.
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O bastonário da Ordem dos Médicos ouviu esta quarta-feira a denúncia de mais de 40 médicos do Centro Hospitalar Tondela Viseu de “assédio moral” pela superior hierárquica, com “situações graves e muito graves”.
“Ouvimos alguns casos preocupantes que, obviamente, interferem com questões éticas e que também, eventualmente, com boas práticas. Embora tenhamos de avaliar essas questões de forma mais profunda, a directora clínica terá todo o interesse em resolver esta situação, já o devia ter feito”, contou Miguel Guimarães.
O bastonário falava aos jornalistas no final de mais de duas horas de reunião, ao final do dia, com mais de 40 médicos do serviço de medicina interna do Centro Hospitalar Tondela Viseu (CHTV), num universo de quase 50, que denunciaram “situações de assédio moral por parte da superior hierárquica”.
Neste sentido, o bastonário disse que já esta quinta-feira “a Ordem irá notificar o conselho de administração e direcção clínica do CHTV” e “a senhora ministra da Saúde”, uma vez que, no seu entender, “estes internos nestas condições não podem continuar” nesta unidade de saúde.
Assim, explicou Miguel Guimarães, a Ordem dos Médicos “pode pôr os internos a fazer internato noutro hospital, é uma das prerrogativas que a Ordem tem, porque a Ordem tem de garantir que os internos de medicina interna têm uma formação de qualidade e isto é absolutamente essencial”.
A notificação a enviar, adiantou, vai no sentido de ser “para encontrar uma solução muito rapidamente”, uma vez que na reunião de hoje, “foram relatadas situações que vão de graves a muito graves”, contou sem, contudo, entrar em pormenores.
“Se esta situação continuar da forma em que está, em que as pessoas estão a entrar em burnout, ou estão em pré-burnout, e hoje isto foi notório, é óbvio que estas pessoas têm duas soluções: ou se retiram para tentarem recuperar da situação que as está a afectar, ou continuam a trabalhar para tentar fazer o melhor possível pelos doentes”, contou.
Questionado se o atendimento aos doentes está em causa, Miguel Guimarães defendeu que “é evidente que uma pessoa quando está em burnout não tem as mesmas capacidades e a probabilidade de cometer um erro ou de falhar em alguma situação é sempre maior”, uma situação que, disse, “nenhum [profissional] quer que aconteça”.
“Esta situação também põe em causa a direcção clínica do hospital, porque é obrigação de um director clínico, mesmo perante a própria Ordem dos Médicos, zelar por aquilo que são as regras éticas e deontológicas dos seus profissionais e zelar também aquilo que são as boas práticas”, apontou Miguel Guimarães.
Presente na reunião estiveram também os presidentes do Sindicato Independente dos Médicos, José Carlos Almeida, e do Sindicato dos Médicos da Zona Centro, Noel Carrilho, que no final da reunião contaram que “a situação se arrasta há meses” e já provocou baixas.
“Temos mais que um colega que já teve de colocar baixa, precisamente por se sentirem em situação de burnout e mais se seguirão se esta situação continuar. [Foram] Dois colegas, mas vários assumiram que se sentem, dentro da definição burnout que os médicos conhecem bem, que estão nessa situação e mantêm-se a trabalhar pelo bem dos seus doentes. O serviço não pode ficar desprovido, mas isto não é situação que se possa manter”, especificou Noel Carrilho.
José Carlos Almeida que considerou a situação “extremamente grave” explicou também que a directora do serviço, presente no início da reunião, “não assistiu, porque não quis assistir” ao debate, uma vez que, segundo disse, “foram-lhe dadas todas as condições para assistir individualmente, não com o advogado, porque poderia ser entendido pelos colegas como algo intimidatório”.