A hora negra da Covid-19
Temos à nossa frente um terrível desafio para vencer. Só o venceremos aceitando que haverá perdas humanas e conservando até ao limite as nossas habituais formas de viver em sociedade.
A mensagem repete-se dia após dia nos relatórios da Direcção-Geral da Saúde, nas palavras dos dirigentes políticos, nas análises dos jornalistas e colunistas ou simplesmente nas trocas de ideias entre amigos no café: com o novo coronavírus, temos de ser cautelosos, temos de estar preparados, mas não podemos cair no alarmismo.
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A mensagem repete-se dia após dia nos relatórios da Direcção-Geral da Saúde, nas palavras dos dirigentes políticos, nas análises dos jornalistas e colunistas ou simplesmente nas trocas de ideias entre amigos no café: com o novo coronavírus, temos de ser cautelosos, temos de estar preparados, mas não podemos cair no alarmismo.
Entre as palavras e os actos, porém, nem sempre há razão ou proporcionalidade. Se as cautelas aumentaram, e ainda bem, se o grau de preparação das famílias ou do Estado se elevou, e ainda bem, percebe-se que anda no ar uma estranha ansiedade que tanto reflecte o alarmismo como o multiplica.
Os órgãos de comunicação social publicam ou difundem notícias mais pessimistas porque os seus leitores ou telespectadores as procuram para fundamentar a sua preocupação; as autoridades ou as empresas pedem o cancelamento ou simplesmente cancelam eventos com o compreensível receio de contribuir para o alastramento do vírus; as notícias mais exageradas ou catastrofistas circulam a alta velocidade na internet. Aos poucos, o medo vai ganhando espaço à racionalidade e a crendice à ciência.
As notícias que nos vão chegando de várias partes do mundo ajudam a explicar esse avanço. Não tanto pelo número de mortos ou de infectados, que continua a ser baixo face à comparação com qualquer outra doença ou qualquer causa de mortalidade. O que mais assusta é a dúvida sobre o potencial de progressão da Covid-19, a sua letalidade e a inexistência de uma certeza sobre o momento em que a humanidade terá uma vacina para a travar.
É perante essa incerteza que cada contágio se transforma num caso e cada morte numa tragédia assustadora. Face a estas evidências, de pouco valem estatísticas, premissas da ciência ou avisos das autoridades de Saúde. O medo, que já aqui comparámos a um vírus, sempre teve na incerteza uma poderosa fonte de alimentação.
É nesse quadro que vale a pena afirmar que não ter respostas para o quadro que se segue da Covid-19 não significa que tudo o que venha a acontecer é terrível. Já temos dados para perceber com segurança pelo menos duas coisas: que o novo vírus é muito contagioso e relativamente pouco mortífero. Há por isso que encarar as suas ameaças com seriedade, seguindo as recomendações das autoridades, fazendo cada um de nós o que puder para o conter.
Mas não caiamos numa escalada defensiva que nos paralise. Temos à nossa frente um terrível desafio para vencer. Só o venceremos aceitando que haverá perdas humanas e conservando até ao limite as nossas habituais formas de viver em sociedade.