Coronavírus: Governos prometem medidas mas revêem crescimento
O impacto económico negativo do novo coronavírus parece já ser inevitável, mesmo num cenário em que governos e bancos centrais prometem uma resposta coordenada para conter as pressões recessivas
Preparados para tomar medidas que reduzam o impacto económico negativo do novo coronavírus, mas já a dar sinais de que as revisões em baixa das estimativas de crescimento durante este ano podem ser já inevitáveis. É assim que estão os dirigentes políticos um pouco por toda a Europa, e Portugal não é excepção.
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Preparados para tomar medidas que reduzam o impacto económico negativo do novo coronavírus, mas já a dar sinais de que as revisões em baixa das estimativas de crescimento durante este ano podem ser já inevitáveis. É assim que estão os dirigentes políticos um pouco por toda a Europa, e Portugal não é excepção.
Esta quarta-feira, a falar aos jornalistas no Ministério das Finanças depois de se reunir por teleconferência com os seus homólogos da União Europeia, Mário Centeno garantiu que, tanto em Portugal como nos outros países da zona euro existe a disponibilidade dos governos para, caso seja necessário, fazer os esforços necessários para conter o efeito do vírus na economia, nomeadamente através da aplicação de políticas orçamentais mais expansionistas.
No caso português, disse o ministro das Finanças, será possível fazer isso “sem comprometer de maneira nenhuma a sustentabilidade” das finanças públicas, sendo que a possibilidade de o objectivo de excedente orçamental ficar em causa “não é uma preocupação neste momento do ministro das Finanças nem do Governo”.
Quase à mesma hora, no parlamento, António Costa, destacando também a disponibilidade para actuar, assumia no entanto que uma revisão das previsões de crescimento poderá estar no horizonte. Referindo-se à apresentação do Programa de Estabilidade (que terá de ser feita até 15 de Abril), o primeiro-ministro disse que o Governo “não deixará de reflectir o risco [do impacto do Covid-19] na projecção a apresentar”. “Estamos conscientes do impacto negativo que a epidemia em curso poderá também vir a ter no comportamento da economia mundial, em particular no sector do turismo”, disse.
É este o ambiente que se vive no resto do mundo. Na Europa, na reunião por teleconferência convocada por Mário Centeno como presidente do Eurogrupo acertou-se que haveria uma resposta coordenada, aproveitando a flexibilidade das regras orçamentais europeias, ao impacto económico negativo do novo coronavírus, não se apresentando publicamente quaisquer novas contas sobre o efeito concreto a sentir pela economia.
Mas, de acordo com a agência Bloomberg, os ministros das Finanças debateram a questão tendo como uma das bases do seu trabalho uma análise da Comissão Europeia que alertava para a possibilidade de, num cenário em que a falta de liquidez das empresas é amplificada pela evolução negativa dos mercados financeiros, se sentirem “efeitos em cascata” que podem conduzir à entrada em recessão de países como a França e a Itália.
Do lado da Comissão Europeia, o director-geral do Emprego, Joost Korte, presente em Lisboa para participar na apresentação do relatório sobre Portugal no âmbito do Semestre Europeu, afirmou ser “evidente” que haverá um impacto na economia. Tanto por via da forte integração que actualmente existe entre a economia europeia e a chinesa, como por via de uma possível escalada de casos na Europa, “a actividade económica será afectada”, alertou o alto quadro da Comissão, assinalando contudo que não é nesta fase possível quantificar o impacto.
Joost Korte elogiou a forma como “os Estados-membros estão a lidar com o problema”, tanto ao nível da resposta directa ao vírus, como na frente económica, onde disse esperar “uma resposta coordenada” dos diversos governos, algo que Mário Centeno garantiu, no final da reunião do Eurogrupo, que irá acontecer.
No Fundo Monetário Internacional, a directora-geral Kristalina Georgieva anunciou que iriam ser colocados à disposição dos Estados-membros mais vulneráveis uma linha de crédito de emergência de 50 mil milhões de dólares. Mas, em qualquer caso, assumiu que, ao contrário do que era previsto, o crescimento mundial em 2020 será inferior ao de 2019.
Para já contudo, como já vem sendo hábito, são os bancos centrais que estão a tomar a dianteira na adopção de medidas concretas de estimulo económico. A Reserva Federal norte-americana já anunciou esta semana a descida das taxas de juro. E, neste momento, nos mercados, a expectativa é a de que o BCE siga o exemplo da Fed e baixe também as suas taxas de juro na reunião agendada para a próxima semana.
No entanto, como neste momento as suas taxas de juro de refinanciamento já estão a zero (e as taxas de juro de depósito estão em terreno negativo), o banco central liderado por Christine Lagarde tem um espaço de manobra bastante menor para actuar e aquilo que se espera não é mais do que uma pequena descida das taxas de 0,1 pontos percentuais.