A segunda longa-metragem de João Nuno Pinto (depois de América, em 2011) mergulha num muito particular coração das trevas. É a I Guerra em cenário africano, soldados portugueses a jogarem ao gato e ao rato com os alemães nas selvas moçambicanas. Com os alemães, mas sobretudo consigo próprios: muito “conradianamente”, a dissolução do colonizador na coisa colonizada é um motivo que subjaz a todo o filme, e que permite, de facto, que a propósito de Mosquito se evoquem tanto os clássicos do “Conrad no cinema” (e, portanto, de uma certa abstracção) como as reflexões contemporâneas sobre o colonialismo europeu (e, portanto, de algo historicamente mais preciso). A este último respeito, o olhar do filme é brutal, nos diálogos como nas situações (por exemplo, logo a abertura, a chegada dos soldados à costa moçambicana, com uma fila de homens negros a servir de pontão), mas também demasiado rapidamente satisfeito em contrariar, pela exposição, as visões beatíficas e ecuménicas do carácter “excepcional” do colonialismo português (um aspecto que também se reflecte no tratamento da personagem mais maniqueísta do filme, o oficial de João Lagarto, com o seu destino insólito mas dum “simbolismo” dado duma maneira um tanto óbvia em demasia).
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A segunda longa-metragem de João Nuno Pinto (depois de América, em 2011) mergulha num muito particular coração das trevas. É a I Guerra em cenário africano, soldados portugueses a jogarem ao gato e ao rato com os alemães nas selvas moçambicanas. Com os alemães, mas sobretudo consigo próprios: muito “conradianamente”, a dissolução do colonizador na coisa colonizada é um motivo que subjaz a todo o filme, e que permite, de facto, que a propósito de Mosquito se evoquem tanto os clássicos do “Conrad no cinema” (e, portanto, de uma certa abstracção) como as reflexões contemporâneas sobre o colonialismo europeu (e, portanto, de algo historicamente mais preciso). A este último respeito, o olhar do filme é brutal, nos diálogos como nas situações (por exemplo, logo a abertura, a chegada dos soldados à costa moçambicana, com uma fila de homens negros a servir de pontão), mas também demasiado rapidamente satisfeito em contrariar, pela exposição, as visões beatíficas e ecuménicas do carácter “excepcional” do colonialismo português (um aspecto que também se reflecte no tratamento da personagem mais maniqueísta do filme, o oficial de João Lagarto, com o seu destino insólito mas dum “simbolismo” dado duma maneira um tanto óbvia em demasia).