Autobiografia de Woody Allen chega às bancas a 7 de Abril
Apropos of Nothing vai ser editado por uma filial da Hachette, o mesmo grupo que publicou Catch and Kill, a investigação sobre casos de agressão sexual conduzida pelo filho do realizador, Ronan Farrow. É “uma traição”, diz o irmão de Dylan Farrow, que acusou Allen de abuso.
Um ano após a assinatura de um contrato que até agora se manteve confidencial, Woody Allen vai ver publicada a sua autobiografia pela norte-americana Grand Central Publishing, do Grupo Hachette. O livro tem como título Apropos of Nothing (A Propósito de Nada, em tradução literal), e vai sair para as bancas no dia 7 de Abril nos Estados Unidos e no Canadá, mas também em França, na Alemanha e em Itália, seguindo-se depois outros países da Europa – até esta terça-feira, não havia informação de que tivesse já sido adquirido para Portugal.
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Um ano após a assinatura de um contrato que até agora se manteve confidencial, Woody Allen vai ver publicada a sua autobiografia pela norte-americana Grand Central Publishing, do Grupo Hachette. O livro tem como título Apropos of Nothing (A Propósito de Nada, em tradução literal), e vai sair para as bancas no dia 7 de Abril nos Estados Unidos e no Canadá, mas também em França, na Alemanha e em Itália, seguindo-se depois outros países da Europa – até esta terça-feira, não havia informação de que tivesse já sido adquirido para Portugal.
No início desta semana, a editora Grand Central anunciou no seu site a saída do novo livro do realizador de Um Dia de Chuva em Nova Iorque, apresentando-o como “uma narrativa completa da sua vida tanto profissional como pessoal”, e acrescentando que o autor ali “descreve o seu trabalho no cinema, no teatro, na televisão, em clubes nocturnos e em publicações”. Em Apropos of Nothing, Woody Allen fala ainda das suas “relações com a sua família, os amigos e os seus entes queridos”.
A Grand Central não divulgou qualquer informação sobre o contrato assinado com o cineasta e escritor, que viu recusada, por mais que uma vez, a publicação da sua autobiografia por outras editoras americanas.
Quem não gostou da notícia foi Ronan Farrow, o filho que Allen teve com a actriz Mia Farrow, e que nos últimos tempos se notabilizou pela investigação de casos de agressão sexual que envolveram o produtor Harvey Weinstein e outras figuras do mundo do cinema e da televisão. Em Outubro passado, Farrow publicou noutra filial da Hachette, a Little, Brown and Company, o livro Catch and Kill, que depressa se tornou um best-seller e veio reforçar o movimento #MeToo.
O autor acusa a editora de não ter realizado “as verificações devidas ao conteúdo do livro” do seu pai, cita à AFP, e anunciou mesmo que vai deixar de publicar na Hachette – para o próximo Outono está já anunciada a chegada do seu primeiro romance, Hush, sob a chancela da Wednesday Books.
Acusado pela filha adoptiva
Woody Allen foi acusado de ter molestado sexualmente a sua filha adoptiva, Dylan Farrow, quando esta era criança, nos anos 90, actos que o realizador sempre negou. As alegações levaram a uma investigação criminal que não resultou em qualquer acusação em tribunal. Mas em 2018, já em plena era #MeToo, Dylan Farrou voltou a insistir na acusação, no que foi apoiada pelo seu irmão Ronan e pela mãe, Mia Farrow.
À luz destes acontecimentos, o autor de Catch and Kill imputa à Hachette, por via da Grand Central, “falta de ética e de compaixão para com as vítimas de agressões sexuais”, reforçando que não pode continuar “a trabalhar com um editor que se comporta assim”, cita a AFP.
Na terça-feira, Ronan Farrow escreveu mesmo um email – a que o jornal The New York Times teve acesso – em que acusa o editor executivo da Hachette, Michael Pietsch, de “traição”. “A vossa política de independência editorial entre as várias chancelas não o isenta de obrigações morais e profissionais”, escreve o autor, sugerindo que Hachette está a fazer jogo duplo quando, por um lado, edita Catch and Kill, mas, por outro, ajuda a “branquear” comportamentos criminosos, lançando a autobiografia de Woody Allen. “Obviamente, em boa consciência, eu não posso voltar a trabalhar consigo. Imagine que se tratava da sua irmã”, acrescenta Ronan Farrow.
Ao diário nova-iorquino, Michael Pietsch afirmou ter telefonado a Farrow logo que soube da sua posição quanto à publicação de Apropos of Nothing. “Nós não permitimos que nenhum programa editorial interfira com qualquer outro”, argumentou o responsável da Hachette, reforçando que “cada livro tem a sua missão”. “A nossa tarefa, como editores, é ajudar o autor a concretizar o projecto a que se propôs com a criação do seu livro”, realçou Pietsch, acrescentando que “a Grand Central acredita fortemente que há uma vasta audiência que quer conhecer a história da vida de Woody Allen contada por ele próprio” e que foi essa convicção que esteve na base da decisão de publicar Apropos of Nothing.
O realizador, actor e escritor tem visto nos últimos anos a sua carreira afectada pelas sucessivas acusações de que tem sido alvo, particularmente no seu país. Em plena era #MeToo, e depois de ver a sua filha a acusá-lo novamente de agressão sexual, Woody Allen viu a Amazon romper o contrato relativo à exibição de uma série de filmes, nomeadamente Um Dia de Chuva em Nova Iorque – que se estreou em Portugal no passado mês de Outubro. Depois de mover um processo à plataforma de streaming, o realizador chegou a um acordo em Novembro, sem que os termos tenham sido revelados.
A verdade é que Um Dia de Chuva em Nova Iorque continua inédito no circuito de exibição norte-americano, e, para fazer o filme seguinte, o realizador teve de regressar à Europa: Rifkin’s Festival foi rodado em San Sebastián, no País Basco espanhol, no último Verão. Trata-se de uma comédia, em co-produção hispano-americana, que conta no elenco com actores como Christoph Waltz, Gina Gershon, Louis Garrel, Elena Anaya e Sergi López, mas que não tem ainda estreia agendada.