Israel vai pela terceira vez a votos mas sondagens prevêem o mesmo empate
O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e o seu rival, Benny Gantz, continuam a ser os protagonistas numas eleições cuja maior novidade é acontecerem com mais de cinco mil pessoas em quarentena por causa do novo coronavírus.
Israel continua a sua inédita saga política levando esta segunda-feira a cabo a terceira eleição num espaço de menos de um ano, mantendo-se com um Governo interino que não pode tomar medidas significativas ou aprovar sequer um orçamento, numa paralisação que ameaça cada vez mais a economia e o funcionamento do país.
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Israel continua a sua inédita saga política levando esta segunda-feira a cabo a terceira eleição num espaço de menos de um ano, mantendo-se com um Governo interino que não pode tomar medidas significativas ou aprovar sequer um orçamento, numa paralisação que ameaça cada vez mais a economia e o funcionamento do país.
No centro do impasse está a incapacidade de os dois principais partidos, o Likud de Benjamin Netanyahu, e o Azul e Branco de Benny Gantz, conseguirem acordos. Nenhum quer formar um governo de unidade nacional com o outro nas condições actuais, e nenhum consegue estender uma coligação para incluir um partido além dos seus aliados naturais, o bloco religioso e ultra-ortodoxo de Netanyahu e o bloco secular de Gantz.
Parte da questão está no próprio Benjamin Netanyahu: Benny Gantz disse que não formaria uma coligação com ninguém acusado de corrupção, como está Netanyhau, que deverá ter a sua primeira audiência em tribunal a 17 de Março. O primeiro-ministro não é obrigado a demitir-se caso seja acusado, e Netanyahu manteve-se no cargo apesar de ter sido acusado de crimes graves, algo também inédito na história de Israel. O primeiro-ministro diz que é alvo de uma “caça às bruxas”.
Estes problemas legais de Netanyahu não parecem estar a prejudicá-lo eleitoralmente: apesar de no início da campanha estar a ficar ligeiramente atrás do partido Azul e Branco, o Likud veio a recuperar nas sondagens feitas nos últimos dias antes das eleições.
As sondagens prevêem que em terceiro lugar fique o partido de árabes israelitas Lista Conjunta, que Netanyahu se tem esforçado por mostrar como um partido de traidores que estão contra o Estado de Israel. Muitos árabes foram mobilizados para votar nestas três eleições depois da aprovação (em 2018) da lei do Estado-Nação, que considera Israel um Estado para judeus e assim deixa os árabes como cidadãos de segunda.
Vantagem mínima decisiva
Os cenários mais prováveis são uma ligeira vantagem do Likud ou uma ligeira vantagem do Azul e Branco, antecipa no diário Haaretz o jornalista Anshell Pfeffer. Caso o Likud tenha a vantagem, Benny Gantz fica numa posição especialmente difícil tanto para renegar a sua promessa de não se aliar com “Bibi”, como para não ceder, a bem do país. Caso a vantagem seja de Gantz, apesar de não se prever que tenha um bloco maioritário, a pressão pode passar para os membros do Likud e ser insuportável – se Netanyahu se afastasse seria possível um governo de unidade nacional.
“A resposta simples [para este impasse] é Netanyahu”, declarou à Foreign Policy Reuven Hazan, professor de ciência política da Universidade Hebraica de Jerusalém. “Sem ele, já teríamos tido um governo, se não em Abril, de certeza em Setembro.”
Em Abril do ano passado, o resultado foi um empate com 35 deputados para cada partido. Em Setembro, o partido de Gantz ficou à frente com apenas um deputado a mais (33 para 32) no Parlamento de 120 lugares.
O sistema eleitoral israelita, que dá muito poder a partidos pequenos e tem sido criticado como a raiz desta sucessão de eleições, “não produziu impasses até ao ano passado”, apontou Hazan. “Se virmos os primeiros 70 anos de Israel e as primeiras 20 eleições que tivemos, sempre conseguimos formar um governo.”
A questão, diz pelo seu lado Gideon Rahat, professor na mesma universidade, ao diário The Guardian, é que os políticos israelitas atreveram-se a fazer algo nunca feito: repetir uma eleição. E como depois disso “o céu não caiu”, fizeram-no de novo.
Influência do coronavírus
Num inquérito recente, citado pelo Jerusalem Post, 30% dos israelitas punham a hipótese de uma quarta eleição – mais do que qualquer dos cenários de entendimento entre os vários partidos. Na mesma sondagem, outros 30% manifestavam medo de contrair o novo coronavírus, que poderá ser um factor a influenciar estas eleições, com 5630 israelitas em quarentena domiciliária (estes poderem votar de máscara e luvas, com um kit eleitoral especial, em assembleias de voto especiais, mas alguns podem ter medo de não ter o vírus e contraí-lo precisamente quando forem votar).
À medida que os casos de infecção crescem no país, também as notícias sobre o novo coronavírus ganharam mais espaço e a campanha eleitoral foi secundarizada.
“O mais entusiasmante da terceira eleição de Israel é o coronavírus”, titulou mesmo o diário Haaretz. Reuven Hazan disse ao jornal israelita, que “apatia” é a palavra que define a campanha – o que não costuma acontecer em Israel onde a política é levada a sério e as eleições são vistas como tendo consequências de vida ou morte. “A disposição nacional é ‘outra vez, não.’ Já não querem ouvir mais campanha eleitoral, e até nos políticos se nota que já não querem fazer campanha.”
Enquanto isso, Netanyahu mantém-se no cargo. “Ninguém pode dizer legitimamente que o pode substituir até haver alguém que seja eleito”, sublinhou pelo seu lado Rahat. “Teoricamente, isto pode arrastar-se para sempre.”