Novo coronavírus. Como cada país se está a proteger
A dimensão do problema é muito diferente entre os países europeus já afectados pelo novo coronavírus. De Espanha a Itália, passando pela Alemanha, alguns exemplos de como estão a lidar com o surto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o risco de contágio e de impacto do novo coronavírus a “muito alto a nível global”. Em conferência de imprensa, o director-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus afirmou que o surto que já afectava nesta sexta-feira perto de 60 países está a aumentar. Com muitas perguntas ainda sem resposta, a principal preocupação dos vários países é tentar travar a transmissão do vírus e encontrar uma possível cura ou tratamento específico.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o risco de contágio e de impacto do novo coronavírus a “muito alto a nível global”. Em conferência de imprensa, o director-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus afirmou que o surto que já afectava nesta sexta-feira perto de 60 países está a aumentar. Com muitas perguntas ainda sem resposta, a principal preocupação dos vários países é tentar travar a transmissão do vírus e encontrar uma possível cura ou tratamento específico.
Ghebreyesus disse que seria um “grande, grande erro” abandonar a estratégia de mitigação do novo coronavírus, acrescentando que cada país deve fazer “uma contenção agressiva”. O director-geral da OMS adiantou ainda que estão a ser desenvolvidas mais de 20 vacinas e que há já alguns ensaios clínicos a decorrer. Esperam resultados nas próximas semanas.
Alemanha
23 milhões de orçamento extra
A Alemanha soma desde o início da crise 48 casos (até esta sexta-feira), dos quais 18 já recuperam. Não havia até esta tarde registo de mortes. O Ministério da Saúde alemão tem no seu site informação permanentemente actualizada. Foi criado um orçamento especial para lidar com o surto: 23 milhões de euros para medidas de prevenção, de comunicação e repatriamento de cidadãos, entre outras. Em matéria de prevenção as regras são estas: as pessoas que tenham estado em países ou zonas de risco (a identificação das mesmas cabe, na Alemanha, ao Robert Koch Institute) devem evitar, “independentemente de terem sintomas”, contactos “desnecessários” com outras pessoas e devem “permanecer em casa sempre que possível”. Se desenvolverem sintomas devem ir ao médico, tendo o cuidado de o avisar antes, por telefone, fornecendo informação sobre os países visitados, prossegue o ministério. São consideradas zonas de risco: China, Coreia do Sul, Irão e Itália.
Os passageiros que vêm da China, Hong Kong e Macau têm, ainda no avião, de preencher um documento com informação sobre onde vão ficar nos 30 dias seguintes na Alemanha, dando os seus contactos para que possam ser encontrados casos surja algum caso entre os que viajaram juntos. Têm também de informar em que locais exactos estiveram na China e em que condições de saúde se encontram. Toda a informação dos viajantes deve ser disponibilizada pelas companhias aéreas às autoridades de saúde alemãs. Os pilotos dos aviões têm instruções para antes de aterrarem comunicarem o estado de saúde dos passageiros. Algum caso suspeito deve ser comunicado para que no aeroporto esteja um médico que deve entrar no avião, examinar o viajante em causa e decidir o que fazer. As mesmas regras devem ser aplicadas nos comboios e autocarros que atravessem fronteiras terrestres.
A Alemanha vai “continuar a tentar isolar as pessoas, o máximo possível, tratá-las em clínicas e providenciar cuidados a possíveis pessoas de contacto”, disse esta semana o ministro da Saúde, Jens Spahn. Já houve medidas de precaução, como o encerramento de escolas e creches numa cidade, Heinsberg, na Renânia do Norte-Vestfália, cujas autoridades ordenaram a quarentena doméstica para todas as pessoas (entre 300 e 400, segundo os diferentes meios de comunicação social) que participaram num evento de Carnaval este mês. A estas pessoas podem ser pedidas amostras de sangue. Isto depois de ter sido confirmado que um casal que esteve nessa festa está infectado. Outros casos, 14 no total, confirmados na quinta-feira em Heinsberg, não precisam de hospitalização mas permanecem isolados em suas casas.
Espanha
Pessoas sem sintomas devem levar uma “vida normal"
O Governo espanhol recomenda vida normal para todas as pessoas, mesmo aquelas regressadas de zonas de risco. Espanha registou até às 16h25 de ontem 34 casos positivos, sendo que dois destes já tiveram alta. Apenas um homem de 77 anos se encontrava em estado grave. E mesmo com estes casos todos confirmados, as recomendações são semelhantes às que existem em Portugal.
Quem chega de zonas de risco, que Espanha considera serem as de China continental, Singapura, Hong-Kong, Japão, Coreia do Sul, Irão e Itália (regiões de Lombardia, Veneto, Emilia-Romana e Piamonte) e está de boa saúde deve levar uma “vida normal, em família, com amigos e, em geral, no espaço escolar e laboral”. Se nos 14 dias após a chegada desenvolverem sintomas respiratórios como febre, tosse e sensação de falta de ar, “devem permanecer no domicílio e contactar os serviços de saúde” através da linha telefónica espanhola que existe para o efeito.
Em relação a viagens para zonas de risco, o Governo espanhol recomenda “não viajar para as zonas afectadas a não ser que seja estritamente necessário”.
Não há medidas de quarentena activas em Espanha neste momento. Houve uma situação num hotel em Tenerife onde estavam identificados casos positivos, mas essas pessoas já saíram do hotel e regressaram às suas casas.
O departamento de Saúde Pública espanhol mantém o "nível um” de contenção, de três níveis possíveis. E apenas pondera elevar este nível, o que pode levar a medidas mais apertadas, caso se verifique “uma transmissão comunitária descontrolada”. Nesse caso, os espanhóis colocarão a hipótese de optar por “medidas de distanciamento social básicas como reduzir aglomerações de pessoas”. Mas, para já, este é só um cenário hipotético.
Itália
Milhares de quarentena
O balanço nesta sexta-feira do Ministério da Saúde italiano era este: 888 infectados até agora, 21 mortos, perto de 50 pessoas recuperadas. Foi criado um site especial onde a informação sobre coronavírus é actualizada diariamente. Aí se recorda o decreto de 21 de Fevereiro que manda, por exemplo, que todas as pessoas que tenham estado recentemente em áreas da China afectadas pela epidemia são obrigadas a comunicar esse facto às autoridades de saúde. Estabelece-se ainda que devem ficar em casa de quarentena e que, em caso de recusa, serão “adoptadas medidas com eficácia semelhante”. Desde 30 de Janeiro que estão suspensos os voos para a China continental, Macau, Hong Kong e Taiwan, por ordem do ministro da Saúde. Há ainda medidas específicas em diferentes regiões.
Desde que o Norte de Itália se tornou o foco número um na Europa que o país tem tomado medidas drásticas. Onze cidades com um total de 55 mil pessoas estão em quarentena. Escolas, universidades e cinemas foram fechados e vários eventos públicos cancelados, como por exemplo os festejos oficiais do Carnaval de Veneza ou a Feira do Livro de Bolonha. A região italiana da Lombardia anunciou nesta sexta-feira que vai estender por mais uma semana as medidas de emergência adoptadas para tentar conter o surto do novo coronavírus que afecta a região – incluindo o fecho de escolas e proibição de ajuntamentos públicos.
Uma habitante de San Fiorano, uma das cidades de quarentena, contou nesta sexta-feira à BBC que já não é obrigatório usar máscara nos supermercados, que a situação está calma, mas que as ruas permanecem quase desertas. Voluntários garantem o fornecimento de alimentos e medicamentos às pessoas mais velhas (ou doentes) que não conseguem sair de casa.
Para “evitar a suspensão” de empresas e centros de produção, o decreto de 21 de Fevereiro permite que empresas e funcionários optem pelo “trabalho remoto” até 15 de Março em seis regiões do Norte da Itália (mas as empresas podem rejeitar a medida “por motivos organizacionais”). Funcionários da administração pública italiana também podem recorrer a esse tipo de trabalho.
França
Licença para pais ficarem com filhos
Em França, medidas de precaução incluíram o cancelamento de eventos como o carnaval de Nice e uma feira comercial internacional em Paris.
O Governo decidiu suspender todas as viagens escolares para e das zonas onde o vírus circula: China continental, Hong Kong, Macau, Singapura, Coreia do Sul e as regiões italianas da Lombardia e de Véneto. As crianças e jovens que regressem dessas zonas não devem ir à escola durante os 14 dias seguintes. Os pais dessas crianças beneficiarão de uma licença paga de 20 dias mediante um certificado médico.
No caso dos adultos trabalhadores, o Governo determina que durante os 14 dias subsequentes ao regresso das zonas de risco essas pessoas trabalhem a partir de casa caso estejam bem de saúde. Mas se for determinado o seu isolamento ou se tiverem de permanecer no domicílio recebem de imediato uma indemnização referente a 20 dias de trabalho.
Os franceses aconselham todas as pessoas que regressam de zonas de risco a usarem uma máscara. O uso da máscara só é recomendado nestes casos ou se as pessoas estiverem doentes.
Nos aeroportos Paris-Charles de Gaulle e Saint-Denis de la Réunion os passageiros vindos da China, Hong-Kong e Macau são recebidos por uma equipa da Protecção Civil que está em contacto com o serviço médico dos aeroportos em causa.
Reino Unido
Recomendações para quem estiver isolado em casa
Cerca de nove mil pessoas foram testadas até esta sexta-feira, no Reino Unido, mas apenas 20 casos foram positivos, segundo o Ministério da Saúde num comunicado desta sexta-feira.
O Governo tem avisado para os perigos de reagir de modo exagerado em resposta a uma epidemia e está a aumentar o número de testes mesmo a pessoas que não tenham viajado para as zonas de risco em Itália, Irão ou China, e que não tenham sintomas. As orientações oficiais são para que quem regressou de 11 cidades italianas em quarentena fique em isolamento em casa. O mesmo se aplica a que chegou nos últimos dias do Irão e certas zonas da Coreia do Sul. Evitar contactar outras pessoas e telefonar para as linhas do Serviço Nacional de Saúde são as recomendações. Mas medidas como o encerramento de fronteiras estão por agora afastadas. “Se virem o caso de Itália, eles pararam todos os voos vindos da China e são agora o país mais afectado da Europa”, declarou o secretário de Estado da Saúde, Matt Hancock esta semana.
Já quem apresenta sintomas deve permanecer em casa, isolado, enquanto não tem os resultados dos exames. Há uma série de recomendações para estas pessoas (por exemplo, há cuidados especiais a ter com o lixo doméstico destes doentes que deve ser devidamente embalado e não colocado no exterior para recolha até que haja a certeza de que a pessoa não está infectada; as pessoas devem manter-se num quarto com janela para o exterior e porta fechada...).
A 10 de Fevereiro o Governo anunciou o “reforço dos poderes legais para proteger a saúde pública”. E é possível ordenar o isolamento de indivíduos se houver fundamentada razão para tal. Há monitorização de passageiros nos aeroportos (para quem vem da China), uma equipa especial foi colocada no aeroporto de Heathrow para apoiar quem chegue e não se sinta bem, para além dos médicos que estão em permanência em todos os aeroportos do país.
Na quinta feita uma escola fechou em Derbyshire depois de confirmado um caso entre os encarregados de educação. Um centro médico foi igualmente fechado, não muito longe, por causa de outro caso confirmado, noticiou a BBC.
Holanda
O primeiro doente em isolamento
Nesta quinta-feira foi identificado o primeiro caso do novo coronavírus na Holanda, confirmou o Instituto Holandês de Saúde Pública e Meio Ambiente. É de um homem que esteve recentemente na região italiana da Lombardia. Foi colocado em isolamento num hospital e as autoridades de saúde estão a tentar localizar todas as pessoas com quem ele manteve contacto. Estas pessoas devem “monitorizar a sua saúde, medir a febre duas vezes por dia e reportar” os resultados à autoridade municipal. O Instituto Holandês de Saúde Pública diz que será este o procedimento para outros casos que venham a ser confirmados: “isolar, investigar contactos [feitos pelo doente] e monitorizar o doente”.