“Efeito dominó” leva bolsas para a pior semana desde a crise financeira
Wall Street e mercados na Europa e Ásia voltam a prolongar sentimento negativo perante receios sobre propagação do novo coronavírus. Lisboa caiu 3,76%.
À medida que cresce o risco de contágio do novo coronavírus sobe também a apreensão nos mercados financeiros, ao ponto de as bolsas mundiais terem vivido — segundo a agência Reuters — a pior semana desde a crise financeira internacional de 2008, com uma perda de valor na ordem dos seis biliões (milhões de milhões) de dólares.
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À medida que cresce o risco de contágio do novo coronavírus sobe também a apreensão nos mercados financeiros, ao ponto de as bolsas mundiais terem vivido — segundo a agência Reuters — a pior semana desde a crise financeira internacional de 2008, com uma perda de valor na ordem dos seis biliões (milhões de milhões) de dólares.
Lisboa, em linha com o sentimento dos investidores nas principais praças europeias, fechou com uma queda de 3,76%, com todas as 18 empresas cotadas em terreno negativo.
Nas restantes praças europeias, as desvalorizações situaram-se entre 3 e 5%. Londres (FTSE 100) derrapou 3,18%, Bruxelas (Bel 20) registou um tombo de 4,15%, Frankfurt encerrou a deslizar 3,86%, Paris perdeu 3,38%, Milão (FTSE Mib) fechou com uma perda de 3,58%, Amesterdão baixou 3,68% e Madrid apresentou uma descida de 2,92%.
O Stoxx 600, que agrega as 600 maiores empresas cotadas na Europa, fechou a cair 4,09%. Foi o culminar de uma semana negativa e de forte volatilidade nos mercados que na quinta-feira já tinha sido mais expressiva. “A forte correcção em Wall Street [de quinta-feira] desencadeou um efeito dominó que atingiu as bolsas asiáticas e estendeu-se posteriormente à Europa”, sintetiza o BPI numa análise de bolsas. Na Ásia, Xangai, Hong Kong, Tóquio e Seul fecharam com perdas na ordem dos 2% e 3%.
Entretanto, o risco de contágio foi declarado como sendo “muito alto” a um nível mundial e Wall Street abriu prolongando a trajectória negativa da véspera, com o Nasdaq a recuar mais de 1% e o S&P 500 e o Dow Jones a deslizarem mais de 2%, depois de este último ter chegado a sofrer mesmo uma das piores perdas diárias de valor de sempre durante uma sessão de quinta-feira em que fechou a cair 4,4%. O mais abrangente S&P acelerou as perdas acumuladas nas últimas sete sessões, a um ritmo que já supera as acentuadas desvalorizações registadas em Outubro de 1987 e que ficaram conhecidas como Black Monday.
Perante o cenário de incerteza, o ministro das Finanças, Mário Centeno, falou como presidente do Eurogrupo à Reuters referindo-se ao novo coronavírus como um “choque temporário”, mas com um “risco negativo” para as economias que exige dos governos uma acção coordenada. “A economia da Europa é resiliente e, nos últimos dois anos, mostrou-se bastante resiliente a uma sucessão de riscos e incertezas”, referiu Centeno à Reuters, referindo que é preciso que os Estados-membros estejam muito atentos e “prontos para agir, se necessário”.
A fuga dos investidores para activos de refúgio, como a dívida pública norte-americana ou as matérias-primas, é um reflexo dos alertas que vão sendo feitos acerca de um cenário de recessão global desencadeada pela infecção que começou na China. “Apesar de os mercados estarem a descontar o impacto económico da doença atingir os Estados Unidos, a verdade é que ainda não vimos a emergência” de um número elevado de casos positivos em território norte-americano, disse à Bloomberg um analista do mercado cambial, alertando, contudo, que “assim que isso acontecer iremos assistir a uma aceleração das perdas”.
Ainda antes de a Organização Mundial de Saúde elevar o risco do novo coronavírus para “muito alto a nível global”, a agência de rating Moody’s admitia que, no cenário em que seja declarada uma pandemia, possa haver ma recessão nos Estados Unidos e a nível global no primeiro semestre do ano, pelas restrições à actividade económica provocadas pelas tentativas de travar o coronavírus. O Bank of America previu já que a economia global está a caminhar para o seu ano mais fraco desde a crise financeira de 2008.
“É razoável assumir que iremos ter um abrandamento bastante significativo no crescimento económico, pelo menos no primeiro semestre do ano, em termos globais”, explicou à Reuters uma analista da Charles Schwab, acrescentando que “isto acontece numa altura em que o crescimento era já relativamente frágil em todo o mundo e as valorizações [das bolsas] estavam manifestamente altas”, depois de um período longo de subidas para máximos, nalguns casos, históricos.
Os sectores do turismo e da aviação foram os mais afectados nas bolsas europeias, com as notícias sobre cancelamentos de voos e de reservas turísticas a justificarem este comportamento, mas o sentimento negativo é dominante em praticamente todos os títulos.
O preço do barril de petróleo Brent (que serve de referência para Portugal) voltou a recuar. Baixou 3,71%, para 49,81 dólares – negociando abaixo dos 50 dólares pela primeira vez desde Dezembro de 2018 —, a reflectir os receios de que um abrandamento económico trave o consumo de bens petrolíferos. Com uma queda mais acentuada está o petróleo do Texas (West Texas Intermediate) a perder mais de 4%, para os 44,9 dólares. Segundo a Reuters, o preço do petróleo terá registado a maior queda semanal em quatro anos, enquanto as obrigações do tesouro norte-americanas bateram mínimos recorde, reflectindo a procura dos investidores por este activo de refúgio num cenário de abrandamento económico.