Economia portuguesa supera as expectativas e cresce 2,2% em 2019
Dados finais do INE dão conta de um crescimento do Produto Interno Bruto de 2,2% no ano passado, superando as previsões do Governo, mas também as estimativas das principais instituições de referência.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou esta sexta-feira os números definitivos do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, que registou um crescimento de 2,2%, conseguido na sequência da progressão de 2,2% verificada no quarto trimestre. Números que superam as estimativas de todas as instituições de referência.
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O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou esta sexta-feira os números definitivos do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, que registou um crescimento de 2,2%, conseguido na sequência da progressão de 2,2% verificada no quarto trimestre. Números que superam as estimativas de todas as instituições de referência.
As previsões do Governo apontavam para um aumento de 1,9% do PIB, tal como as estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Conselho das Finanças Públicas (CFP). As previsões do Banco de Portugal e da Comissão Europeia indicavam um crescimento de 2%.
Os números divulgados esta sexta-feira representam também uma revisão em alta pelo INE face à estimativa provisória divulgada em meados do mês (de um crescimento de 2% para 2019) devido, segundo explica a instituição, “à incorporação de informação actualizada da Balança de Pagamentos, publicada no passado dia 19 de Fevereiro pelo Banco de Portugal”. Assim, “a nova versão da Balança de Pagamentos (…) representou uma reavaliação da Balança de Serviços de 511,8 milhões de euros no ano de 2018 e de 873,1 milhões de euros nos meses de Janeiro a Novembro de 2019”. Esta reavaliação teve também reflexos no PIB de 2018, cujo crescimento foi revisto em alta de 2,4% para 2,6%.
Assim, no ano passado, o PIB abrandou 0,4 pontos percentuais face ao ano anterior, dado que “a procura externa líquida registou um contributo de -0,6 pontos percentuais [p.p.] para a variação em volume do PIB (-0,4 p.p. em 2018)”, ao passo que “o contributo da procura interna diminuiu para 2,7 p.p. (3,1 p.p. em 2018), reflectindo o crescimento menos intenso do consumo privado”.
Neste particular, o consumo privado subiu 2,3% em 2019 (menos que os 2,9% em 2018), tendo os bens não duradouros e serviços passado de um crescimento de 2,6% em 2018 para 2,5%, enquanto os bens duradouros desaceleraram para 0,8% (6,1% em 2018), “reflectindo sobretudo a diminuição das despesas com a aquisição de veículos automóveis”, depois de uma série de trimestres de crescimento generalizado das vendas de automóveis.
Já o investimento aumentou 6,5% em termos reais em 2019 (ligeiramente face aos 6,2% em 2018), “reflectindo a aceleração da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) para uma taxa de variação de 6,4% (5,8% no ano anterior)”. Também a “Variação de Existências apresentou um contributo positivo (0,1 p.p.) para a variação do PIB, semelhante ao registado em 2018”.
Na componente do investimento, o INE destacou a FBCF em Construção, que registou "uma aceleração pronunciada, passando de um crescimento de 4,6% para 9,4%. Também a FBCF em Produtos de Propriedade Intelectual acelerou, mas de forma ligeira, aumentando 6,5% (6,3% em 2018)”. No sentido inverso, “o crescimento da FBCF em Outras Máquinas e Equipamentos foi menos acentuado, passando de 8,2% para 4,7%, tendo a FBCF em Equipamento de Transporte diminuído 4,6%, após um aumento de 5,6% em 2018”.
Na balança comercial externa, “as Exportações de Bens e Serviços em volume registaram, em 2019, uma taxa de crescimento de 3,7% (4,5% em 2018), reflectindo a desaceleração da componente de serviços de 6,3% para 3,8%, uma vez que as exportações de bens mantiveram uma taxa de variação de 3,7%”. Já as Importações de Bens e Serviços cresceram 5,2% (5,7% em 2018), com as importações de bens a aumentarem 4,5% (menos 1,2 p.p. que no ano precedente), “enquanto as importações de serviços registaram um crescimento de 8,6% (5,9% em 2018)”.
Exportações salvam quarto trimestre
Ainda assim, os números finais do ano foram menos penalizadores devido ao desempenho mais favorável das exportações observado no quarto trimestre, que compensou a fragilidade no consumo privado e investimento na etapa final do ano.
Entre Outubro e Dezembro, “o PIB em volume registou uma taxa de variação homóloga de 2,2% (taxa superior em 0,3 p.p. à do trimestre anterior)”, tendo “o contributo da procura externa líquida para a variação homóloga do PIB passado de -1,5 p.p. no terceiro trimestre para +1,3 p.p., reflectindo uma significativa aceleração das Exportações de Bens e Serviços e um crescimento menos intenso das Importações de Bens e Serviços”.
Já a procura interna “apresentou um contributo de 0,9 p.p. (3,4 p.p. no trimestre anterior), verificando-se uma desaceleração do consumo privado e uma diminuição do investimento, em resultado da evolução da Variação de Existências”. Neste aspecto em particular, evolução do investimento ganha destaque, tendo registado um decréscimo homólogo de 2,6%, em volume, face ao crescimento de 8,6% no trimestre anterior.
Comparativamente aos três meses anteriores, o “PIB aumentou 0,7% em termos reais (0,3% no trimestre anterior)”.
Em 2018, o PIB português cresceu 2,6% (devido à revisão em alta feita agora pelo INE), o que representa uma desaceleração face a 2017, ano em que a economia nacional cresceu 3,5%.
Já em termos nominais, o PIB aumentou 3,9% (tinha aumentado 4,3% em 2018), situando-se em cerca de 212,3 mil milhões de euros no fecho do ano passado.
Indústria desacelera, construção sustenta
Numa análise aos vários contributos por sector para o crescimento do PIB português, os dados do INE dão uma fotografia de abrandamentos na indústria e comércio, alojamento e restauração, que enquadram a desaceleração da economia portuguesa.
Assim, o “Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços base aumentou 2,0% em volume”, o que representou uma desaceleração de 0,3 p.p. face a 2018. Esta evolução tem por base a o VAB do ramo Indústria, que “foi o que mais contribuiu para esta desaceleração, passando de uma taxa de variação de 1,6% em 2018 para -0,8%”.
Em foco esteve também a “evolução do VAB dos ramos Comércio e Reparação de Veículos e Alojamento e Restauração, que desacelerou de 4,0% para 3,0% em 2019”. Já o da Energia diminuiu mesmo em 0,6%, depois de um aumento de 6,2% registado no ano anterior.
Em sentido contrário estiveram os sectores da construção, agricultura e pescas, bem com o dos transportes e actividades financeiras.
O VAB do ramo Construção “registou em 2019 uma taxa de variação de 7,1%, após ter aumentado 4,2% em 2018”, o da Agricultura, Silvicultura e Pescas aumentou 3,7% em 2019, após ter diminuído 0,7% em 2018, enquanto que o de Transportes e Armazenagem, Actividades de Informação e Comunicação apresentou um crescimento, em termos reais, de 4,1% em 2019 (2,0% em 2018).
O contributo dos ramos Actividades Financeiras, de Seguros e Imobiliárias, após ter aumentado 0,5% em 2018, registou em 2019 uma taxa de variação de 2,0%.
No que diz respeito ao emprego, segundo o INE, “para o conjunto dos ramos de actividade, registou uma variação de 0,8% em 2019 (2,3% no ano anterior), tendo o emprego remunerado aumentado 1,7% (2,9% em 2018)”.