Paulo Praça apresenta Um Lugar Pra Ficar no MusicBox
Lançado em 2019 e apresentado no Porto no passado dia 15 de Fevereiro, o terceiro disco a solo de Paulo Praça chega agora a uma sala lisboeta. Esta sexta-feira à noite, no Music Box, às 22h30.
Cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor, Paulo Praça consolida, no seu terceiro disco a solo, uma linguagem musical que carrega várias influências. Apresentado no Porto no dia 15, Um Lugar Pra Ficar chega esta sexta-feira ao Music Box, em Lisboa, às 22h30.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor, Paulo Praça consolida, no seu terceiro disco a solo, uma linguagem musical que carrega várias influências. Apresentado no Porto no dia 15, Um Lugar Pra Ficar chega esta sexta-feira ao Music Box, em Lisboa, às 22h30.
Nascido em Vila do Conde, em 18 de Outubro de 1971, Paulo Praça foi fundador dos grupos TurboJunkie, Grace e Plaza. Fez parte do projecto Amália Hoje, junto com Nuno Gonçalves, Sónia Tavares (ambos dos The Gift) e Fernando Ribeiro (Moonspell), e colaborou com Pedro Abrunhosa e grupos como os 3 Tristes Tigres, GNR ou The Gift. O seu terceiro álbum a solo, Um Lugar Pra Ficar, foi lançado em 2019 e nele musicou letras de, entre outros, Valter Hugo Mãe (Sabes mãe, Linhagem nenhuma, Vila do Conde, Vila do Conde, Esquece de mim), Nuno Miguel Guedes (A mesma canção), Pierre Aderne (Um lugar pra ficar) ou do seu irmão Simão Praça, também dos TurboJunkie (Quem mais amou, Quem eu sinto de cor).
Românticos franceses e italianos
Numa recente passagem pelo auditório do PÚBLICO, para falar do seu trabalho, Paulo Praça disse que a sua ligação à música começou muito cedo, mesmo antes de nascer, porque a sua mãe – soprano não profissional, embora cantasse num coro – já lhe cantava canções de embalar.
“Depois tenho a memória de, em casa, haver sempre música. Passávamos fins-de-semana a ouvir música na rádio e no gira-discos.” Mais novo de quatro irmãos, todos rapazes, a música ia-lhe ficando no ouvido. “Na infância, marcaram-me os românticos franceses (Gilbert Becaud ou, de outra forma, o Serge Gainsbourg) e os italianos (havia um disco do Marino Marini que ouvíamos muito lá em casa). O meu pai gostava particularmente de algumas coisas de música instrumental, ouvia algum jazz, e gostava muito do Burt Bacharach, que é provavelmente um dos músicos que mais me influenciaram. A minha mãe ouvia mais fado e música tradicional. E, como tenho o privilégio de ter irmãos mais velhos, eles ouviam tudo o que era anglo-saxónico: Beatles, Pink Floyd. E lembro-me de ter lá também um disco do Fausto, Por Este Rio Acima, que acabou por ser uma das minhas maiores referências.”
Abrunhosa e Valter Hugo Mãe
O disco Um Lugar Pra Ficar tem um prefácio muito elogioso de Pedro Abrunhosa, onde este aponta Paulo Praça como “homem de palco por excelência”, fazendo transbordar “para este trabalho a indómita vontade de o substantivar em cena. Há aqui matéria para coros de grandes audiências, bem como momentos de introspecção intensa.” Paulo retribui, dizendo que aprendeu muito com ele: “Temos uma admiração muito grande um pelo outro. Em 2009 ele convidou-me a integrar o Comité Caviar, com ele gravei dois discos, Longe e Contramão, fiz centenas de concertos, e foi para mim um privilégio, e uma aprendizagem maravilhosa, o tempo que passei com ele em estúdio e ao vivo. Dos músicos que eu conheço, ele é um artista muito rigoroso, tem uma paixão incrível pelo trabalho, faz uma simbiose muito interessante entre o James Brown e o Bruce Springsteen, duas pessoas muito apaixonadas por aquilo que fazem e que trabalham com afinco. E foi isso que mais aprendi com ele.”
Quanto ao escritor e poeta Valter Hugo Mãe, que assina quatro letras neste disco mas já tinha colaborado nos anteriores Disco de Cabeceira (2007, este só com letras dele) e Dobro dos Sentidos (2010), a ligação é mais antiga. “Conhecemo-nos no secundário, tínhamos para aí uns 12, 13 anos e um fascínio muito grande por música. Porque além de músico eu sou melómano. Passava mais tempo em lojas de discos do que em lojas de instrumentos, porque aquela parte mais técnica nunca me fascinou muito.” Não ouviam, no entanto, as mesmas coisas. “Ele era um grande fã do Michael Jackson, do Boy George e da Madonna, enquanto eu andava a ouvir coisas mais alternativas. Lembro-me de que gostava dos Cramps, dos Smiths, dos Violent Femmes. Mas ele depois teve um programa na rádio e um fanzine, e fez algumas das primeiras entrevistas ao TurboJunkie. A relação vem daí.” Pediu-lhe para escrever letras, e Valter aceitou. “Ele é de uma profundidade e de uma beleza incrível a escrever. E eu queria de alguma maneira, através da minha música, elevar aquilo que eu amo, que é a poesia.”
Fazer de um vídeo uma arma
O título do disco vem de uma canção do cantor e compositor brasileiro Pierre Aderne, radicado em Portugal há uns 15 anos. Mas não foi aqui que se conheceram, diz Paulo, e sim no Brasil: “Conheci-o no Rio de Janeiro, numa tertúlia. Eu estava lá na altura com os Gift, tínhamos ido tocar ao Rock In Rio. Estávamos nessa tertúlia, em casa de um amigo comum, todos numa roda, e a guitarra (o violão, com eles lhe chamam) ia passando. Até que me chegou às mãos e eu toquei uma canção do meu primeiro álbum, Espero que você parta o seu coração também. E o Pierre ficou apaixonadíssimo por essa canção.” Paulo pediu-lhe, depois, para gravar Um lugar pra ficar, que acabou por dar nome ao disco.
O disco inclui também uma versão própria de A mesma canção, com letra de Nuno Miguel Guedes e música de Paulo Praça, que concorreu ao festival RTP da Canção em 2018 e que foi ali defendida por Maria Amaral. Objector de consciência, escreveu-a como “uma espécie de manifesto de paz”, e o vídeo feito a partir dela, e realizado por Paulo Pinto, acentua esse pendor, ao misturar, num lençol feito tela (o vídeo é a preto e branco), imagens do 25 de Abril, do 1.º de Maio, da resistência em Tiananmen, da Palestina, de Martin Luther King em oposição ao Ku Klux-Klan. “Parafraseando o José Mário Branco, a canção continua a ser uma arma. E eu quis, com aquele vídeo, que para além do manifesto ele fosse uma arma também.”