A peste
Relida hoje, A peste é uma terrível lição do modelo de sociedade em que vivemos, em que nos tornámos, submetidos a golfadas cada mais globalizadas de medo, uma desinformação catastrofista que toma conta não só das redes sociais, como aparece disfarçada de “informação responsável” nos media ditos convencionais.
Oran, Argélia francesa, anos 40. Foi onde Albert Camus situou a sua narrativa sobre os efeitos que uma epidemia tem no comportamento coletivo. [Agradeço à Maria Abreu Pinto aconselhar-me a novela.] No dia em que o número de vítimas mortais atingiu a trintena, as autoridades decidem “declarar o estado de peste” por tempo indeterminado e fechar a cidade: ninguém pode entrar, ninguém pode sair. “A partir desse momento”, conta o narrador, “pode-se dizer que a peste foi um problema de todos nós. Até então, apesar da surpresa e inquietação (...), cada um dos nossos concidadãos tinha mantido a sua atividade como podia. (...) Mas, uma vez fechadas as portas, todos nos apercebemos termos sido apanhados no mesmo saco”. “A primeira coisa que a peste trouxe aos nossos concidadãos foi o exílio” — o dos que, antes do bloqueio da cidade, haviam podido sair, e o exílio interior de quem ficara, “reduzidos à nossa condição de prisioneiros, ao nosso passado, e se mesmo alguns de nós se sentissem tentados a viver no futuro, rapidamente desistiriam, tanto quanto lhes era possível, ao sentir as feridas que a imaginação inflige àqueles que nela confiam”.
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Oran, Argélia francesa, anos 40. Foi onde Albert Camus situou a sua narrativa sobre os efeitos que uma epidemia tem no comportamento coletivo. [Agradeço à Maria Abreu Pinto aconselhar-me a novela.] No dia em que o número de vítimas mortais atingiu a trintena, as autoridades decidem “declarar o estado de peste” por tempo indeterminado e fechar a cidade: ninguém pode entrar, ninguém pode sair. “A partir desse momento”, conta o narrador, “pode-se dizer que a peste foi um problema de todos nós. Até então, apesar da surpresa e inquietação (...), cada um dos nossos concidadãos tinha mantido a sua atividade como podia. (...) Mas, uma vez fechadas as portas, todos nos apercebemos termos sido apanhados no mesmo saco”. “A primeira coisa que a peste trouxe aos nossos concidadãos foi o exílio” — o dos que, antes do bloqueio da cidade, haviam podido sair, e o exílio interior de quem ficara, “reduzidos à nossa condição de prisioneiros, ao nosso passado, e se mesmo alguns de nós se sentissem tentados a viver no futuro, rapidamente desistiriam, tanto quanto lhes era possível, ao sentir as feridas que a imaginação inflige àqueles que nela confiam”.